A industriais, Mantega diz que moeda americana a R$ 2,60 tornaria Brasil imbatível
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, surpreendeu ontem ao dizer a uma plateia de empresários que se o Brasil tivesse um câmbio de R$ 2,60 — apontado como taxa de equilíbrio para o país pelo banco Goldman Sachs —, “venceríamos todos”. Ou seja, a indústria nacional seria mais competitiva e teria condições de bater a concorrência dos produtos importados, com ganhos para o Estado e a sociedade. A declaração do ministro, que não é comum para uma autoridade econômica, acabou indicando um patamar para o câmbio. Ontem, o dólar fechou a R$ 1,717. Se a taxa de equilíbrio do Goldman Sachs — banco que em 2002 criou o “lulômetro” para avaliar o risco da vitória do presidente Lula sobre o câmbio — fosse alcançada, algo inimaginável pelos principais analistas no país, o dólar teria que sofrer uma alta de 51,4%. E o real, em contrapartida, uma maxidesvalorização de 34%.
A taxa de equilíbrio é a cotação do dólar boa para as exportações e contas externas sem ser prejudicial ao custo da dívida, à importação e ao mercado de capitais. Ou seja, aquela que não gera bolhas e afeta o crescimento a médio e longo prazos. Ressaltando que o governo brasileiro não trabalha com este número ou outra meta, Mantega disse, no 4oEncontro Nacional da Indústria (Enai), que vai trabalhar para que as empresas brasileiras não sejam prejudicadas pelo quadro atual e se comprometeu com novas medidas para elevar a competitividade.
— Com um câmbio a R$ 2,60, venceríamos todos. Venceríamos os chineses, a indústria coreana. Temos ciência de que o câmbio é fundamental e vamos trabalhar essas frentes — disse Mantega, sendo aplaudido. — Não vamos deixar que a indústria seja vencida por uma concorrência desleal.
Ela será um dos protagonistas do crescimento nos próximos sete anos.
Vamos tomar medidas para estimular a competitividade das exportações. A indústria brasileira tem muita competência, capacidade. Mas temos desvantagem cambial.
Na semana retrasada, em conversa com jornalistas em Nova York, o secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que, em seus cálculos, a taxa de equilíbrio seria R$ 2,10. O governo considera distorcido o atual patamar do câmbio e acredita que ele é prejudicial ao crescimento.
Para conter a valorização excessiva do real frente ao dólar, várias medidas vêm sendo estudadas. Uma já foi tomada: a cobrança de IOF, a uma alíquota de 2%, sobre os investimentos financeiros de estrangeiros.
Os empresários presentes ao Enai, por sua vez, pediram desonerações tributárias e uma ação mais direta sobre o câmbio.
— A indústria brasileira não pode ser desmontada por causa de fatores conjunturais — disse o presidente da CNI, Armando Monteiro.
Mantega não revelou que ações serão adotadas. Mas, segundo técnicos da área econômica, está decidido prorrogar a linha do BNDES com juros menores para compra e produção de máquinas. O incentivo permite contratar empréstimos de R$ 42 bilhões até o fim do ano. Como até agora só foram contratados R$ 15 bilhões, o governo prorrogará a linha para 2010.
Frase de ministro influencia dólar
Também está na mesa de Mantega a redução do prazo de aproveitamento de créditos de PIS/Cofins na compra de matérias-primas para exportadoras. O prazo poderia cair a zero, o que daria capital de giro às empresas. Mas essa ação tem custo de R$ 4 bilhões para os cofres públicos. Por isso, é pouco provável que saia do papel a curto prazo.
Mantega disse que a economia brasileira pode crescer entre 6% e 6,5% de 2010 a 2016. Para ele, o país já retomou seu ciclo de crescimento e o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) crescerá 5% em 2010, com alta de até 15% da taxa de investimento. Ele disse que, no terceiro trimestre, a economia cresceu 10% num ritmo anual. Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que participou do Enai, o país cresceu 2% no terceiro trimestre de 2009 em relação ao segundo trimestre do ano.
Logo após as declarações de Mantega sobre a moeda americana a R$ 2,60, o dólar comercial acelerou o movimento de alta, subindo 0,87%, a R$ 1,725, e acabou fechando com ganho de 0,41%, a R$ 1,717. O otimismo com a reação da economia do país e a Petrobras (as ações subiram 2,73%) levaram a Bolsa de São Paulo a fechar em alta de 1,17%, aos 67.406 pontos, maior nível desde 17 de junho de 2008.
COLABOROU Mariana Schreiber
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