20.11.09

Apesar da demanda, preço industrial ainda cai

Valor Economico (SP)

Conjuntura: Câmbio, ociosidade e China explicam deflação de 7,96%, no ano, no núcleo de cotações do setor

Sergio Lamucci, de São Paulo

O comportamento dos preços industriais segue bastante benigno, como mostrou ontem a segunda prévia de novembro do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M). Calculado pela exclusão de combustíveis e produtos alimentares, o núcleo das cotações industriais no atacado recuou 0,23%, ampliando a queda acumulada no ano para 7,96%, de acordo com a LCA Consultores. A valorização do câmbio e a capacidade ociosa ainda elevada na indústria têm mantido a inflação no atacado sob controle, mesmo num ambiente de aceleração da atividade econômica, dizem analistas.

O economista Fábio Romão, da LCA, diz que os números retratam uma situação tranquila dos preços industriais. Não há sinais de pressões de custos no atacado a serem repassados para o varejo, segundo ele. Um outro número favorável é o da taxa de dispersão na indústria, que mostra o percentual de itens com variação positiva. Na segunda prévia de novembro do IGP-M, a taxa ficou em 43,48%, abaixo dos 52,17% de outubro e 56,62% de setembro.

"A ociosidade na indústria e a apreciação do câmbio contribuem para esse comportamento dos preços industriais no atacado", avalia Romão. Alguns grupos de produtos registraram significativas quedas de preço. As cotações de máquinas, aparelhos e materiais elétricos recuaram 2,51% na segunda prévia de novembro do IGP-M, enquanto as de material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicação caíram 1,81%.

O câmbio valorizado barateia a importação de componentes, principalmente da China, como lembra o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Isso ajuda a explicar o recuo dos preços de produtos como equipamentos de informática, que caíram 0,65% na segunda prévia do IGP-M. "A China está exportando deflação, o que deve continuar a ocorrer nos próximos meses", diz Romão.

Gonçalves vê um panorama inflacionário bastante tranquilo, apostando num quadro benigno para as cotações industriais. Ele projeta um dólar em R$ 1,70 no fim deste ano e também no fim do ano que vem, indicando que o câmbio seguirá favorável às importações.

Para Romão, alguns preços industriais no atacado tendem a subir um pouco nos próximos meses, como os de veículos. A elevação gradual da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) deve aumentar as cotações dos automóveis, devolvendo as quedas ocorridas no começo do ano. Na segunda prévia de novembro do IGP-M, o grupo veículos automotores, reboques, carrocerias e autopeças subiu 0,23%. Isso não significa, porém, que ele preveja alta forte no atacado industrial nos próximos meses. Em vez de deflação, é possível que o indicador passe a registrar pequenas altas.

Gonçalves diz não conseguir enxergar pressões inflacionárias relevantes em indicadores de preços como o IGP-M. "Tem que ser fanático por Selic para ver isso", afirma ele, que não vê a necessidade de aumentos de juros até o fim de 2010. Gonçalves projeta uma queda de 1% para o IGP-M neste ano e uma alta de 4% a 4,5% no ano que vem, a depender do comportamento das commodities no cenário internacional.

Romão aposta em alta da Selic a partir de setembro do ano que vem. Segundo ele, essa atuação do Banco Central deverá ter em vista a inflação de 2011 - a de 2010, tudo indica, ficará comportada. Para ele, começa a perder força a corrente que apostava em alta da Selic no começo de 2010, e o comportamento dos preços industriais no atacado tem peso nisso.

Na segunda prévia de novembro, o IGP-M subiu 0,09%, uma variação um pouco superior ao 0,04% registrado na mesma prévia do mês anterior. No ano, a deflação acumulada é de 1,48%. Com peso de 60% no indicador, os preços no atacado aceleraram a alta de 0,02% em outubro para 0,09% em novembro. Já as cotações ao consumidor, que respondem por 30% do IGP-M, passaram de uma elevação de 0,03% para 0,07%. Responsáveis pelos outros 10% do IGP-M, os custos da construção subiram 0,12% - na segunda prévia de outubro, a alta foi de 0,13%.

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