Núcleo de Educação Popular - 13 de Maio São Paulo, SP.
CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA
JOSÉ MARTINS
Qual o principal mecanismo econômico que os capitalistas utilizam para superar um período de crise e reiniciar um novo período de expansão, quer dizer, um novo ciclo econômico? Aumento da exploração da classe operária mundial, certo? Certíssimo. E qual é a forma pela qual esse mecanismo básico (necessário) aparece na superfície do mercado? Pelo aumento acentuado da produção de valor, de mais-valor e da produtividade da força de trabalho industrial. Pois foi justamente isso que aconteceu nos dois últimos trimestres na economia reguladora da totalidade da economia mundial. The game is over. O jogo acabou. A divulgação de dados confirmando a evolução da produção e da produtividade nos EUA indica o fim do período de crise e anula para os próximos dois a três anos, pelo menos, a possibilidade de uma depressão econômica mundial. O último período de crise mundial iniciou-se no 1º trimestre de 2008 e encerrou-se na passagem do 2º para o 3º trimestre de 2009. Durou cerca de vinte meses. Vamos aos números.
PRODUÇÃO BOMBANDO – De acordo com os últimos dados do banco central dos EUA1 verifica-se que a produção manufatureira de bens duráveis e não duráveis, medida em termos de valor agregado (massa de valor e mais-valia) expandiu a uma taxa anualizada de 7.1% no 3º trimestre de 2009, depois de quedas de 22.0% no 1º trimestre e de 8.7% no 2º trimestre. As manufaturas de bens duráveis, núcleo do sistema, cresceram a uma assombrosa taxa de 12.4% no 3º trimestre, depois de caírem 31.6% e 15.9% nos dois trimestres anteriores, auge da crise. Dentro dos bens duráveis, os ramos produtores de máquinas e equipamentos, os mais cíclicos e indicativos da retomada dos investimentos, apresentaram uma forte reversão das quedas de mais de 30.0% nos dois primeiros trimestres do ano, caindo no terceiro trimestre apenas 5.2%. O índice de utilização da capacidade instalada das manufaturas de bens duráveis apresentou reversão (60.4) no 3º trimestre, depois de bater no fundo do poço (58.5) no trimestre anterior. Este último foi o mais baixo nível de atividade da indústria norte-americana desde a grande depressão dos anos 1930. Esse índice de desemprego do capital é diretamente relacionado com o índice de desemprego do trabalho. Como calculamos em boletins anteriores, quando a crise catastrófica ainda era um cenário possível (embora o menos provável, como 1 Federal Reserve
também destacamos na época), a taxa efetiva de desemprego do trabalho nos EUA poderia alcançar cerca de 25% na virada deste para o próximo ano. A condição necessária para que esta previsão se realizasse era um índice de utilização da capacidade inferior a 50.0, o que também caracterizaria uma crise geral, catastrófica. Infelizmente esse índice de desemprego do capital não foi alcançado. DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO – No mês de Outubro passado, a taxa oficial de desemprego (índice U3 do BLS)2 bateu em 10.2%, enquanto a taxa efetiva de desemprego (índice U-6 do BLS), que inclui trabalhadores informais, ilegais, marginalmente anexados ao mercado de trabalho, empregados a tempo parcial por razões econômicas, etc. bateu em 17.5%. Esta taxa efetiva de desemprego é a que mais se aproxima da taxa real de desempregados do exército industrial de reserva. Mas não temos tempo agora de nos estender neste assunto. O importante a salientar é que o aumento do desemprego do trabalho até um determinado nível é condição necessária para que a produção industrial seja sustentada no forte ritmo de recuperação apresentado no 3º trimestre. O nível de desemprego a ser alcançado não é aleatório. Deve se elevar proporcionalmente à magnitude da superprodução criada no período de expansão anterior. Quanto maior a superprodução do capital, maior a taxa de desemprego do trabalho para a superação da crise. Isso pode parecer uma coisa óbvia. Mas não é nem um pouco óbvio para os economistas do sistema que essa taxa de desemprego de um determinado ciclo econômico não é aleatória porque deve corresponder a uma taxa de produtividade (ou de exploração) adequada à valorização do capital do próximo ciclo em níveis muito mais elevados que aquele do capital do ciclo anterior que acabou de explodir com a crise. E neste movimento de recomposição do exército industrial de reserva mundial o desemprego do capital torna-se variável dependente do desemprego do trabalho. Quer dizer, os capitalistas interrompem os investimentos e reduzem a taxa de utilização da capacidade até um ponto que corresponda àquela taxa de desemprego do trabalho suficiente para uma nova taxa de produtividade (e de mais-valia) superior à do ciclo anterior. Essas são a condições para o verdadeiro desenvolvimento sustentado do regime capitalista. Os práticos donos do capital entendem instintivamente tudo isso, e não hesitam em aplicar esses mandamentos sagrados de cortar folhas de pagamento, aumentar a exploração, reduzir custos salariais e recuperar os lucros. Mas para os seus obtusos economistas isso não existe. Assim, os economistas do sistema não conseguem explicar por que a retomada inicial da produção em um novo ciclo econômico, como está a ocorrer mundialmente nos dois últimos trimestres, é acompanhada pela diminuição do emprego do trabalho e não o contrário, como eles imaginam que deveria acontecer. Acontece que eles não podem reconhecer a diferença entre uma classe produtiva e outras improdutivas. Confundem a classe operária
médias improdutivas, que, no regime capitalista, têm a função de consumir individualmente a maior parte da mais-valia produzida pelos trabalhadores. E nisto, diga-se de passagem, os economistas são devidamente acompanhados pelos “marxistas de cátedra”. Os economistas do capital não entendem, por isso, que a recuperação da economia não depende do aumento da demanda dos operários por mercadorias. É exatamente o contrário que ocorre em todos os processos de retomada cíclica: é preciso um aumento determinado do desemprego dos trabalhadores produtivos para que o exército industrial de reserva seja adaptado para uma taxa superior de exploração da força de trabalho industrial mundial, condição necessária para a superação do período de crise e retomada de um novo período de expansão, quer dizer, um novo ciclo econômico, como indicado no início deste boletim. Mais uma vez, para ninguém esquecer: a recuperação do capital em um período disseminado de crise não depende do aumento do consumo dos trabalhadores. Depende do aumento da sua exploração, quer dizer, do aumento tanto da massa quanto da taxa de mais-valia da força de trabalho.
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