25.11.09

Gasto público amortece recessão, mas não reativa a economia real

DE NOVA YORK

Pioneira na área de internet em 1985, a America Online (AOL) acaba de anunciar que demitirá um terço de seus funcionários. Serão 2.500 dispensas em um esforço para cortar US$ 300 milhões em custos.
Além da sobrevivência, o objetivo é aumentar a remuneração aos acionistas de AOL e Time Warner (que se fundiram em 2000) e os preços das ações.
Entre as maiores empresas norte-americanas, o alvo na atual recessão tem sido esse: cortes. De custos e, principalmente, de salários.
É isso o que explica em parte a forte valorização da Bolsa de Valores de Nova York a partir de março e o aumento na lucratividade das empresas. Operando com recordes de ociosidade, elas não tendem a converter lucros em novos investimentos ou empregos, o que aumenta os dividendos a acionistas.
Nos balanços do terceiro trimestre, os resultados de 78% das empresas superaram as expectativas dos analistas.
A Alcoa, por exemplo, teve lucro de US$ 77 milhões. Mas os gastos com pesquisa e desenvolvimento foram cortados em US$ 39 milhões. O Citigroup, que demitiu 52 mil funcionários desde o início do ano, lucrou US$ 101 milhões.
Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), as empresas norte-americanas eliminaram no primeiro semestre 45% mais empregos do que as europeias e 63% mais que as asiáticas.
A Bolsa em alta é resultado ainda de uma explosão do endividamento estatal. Os EUA não só estão aplicando US$ 787 bilhões em gastos estatais como também comprometeram quase US$ 2 trilhões do Fed (BC local) para garantir a emissão de dívidas de empresas e bancos.
Esse dinheiro não chega, necessariamente, a quem precisa. Como o 1 entre cada 7 mutuários hoje na iminência de ser despejado ou que tem atraso no pagamento de prestações.
Esses recursos fluem, basicamente, para a tesouraria de empresas e bancos. Quando eles aplicam esse dinheiro em ações ou fundos denominados em preços de commodities, há forte valorização desses ativos. Em resumo, é uma espécie de bolha de preços inflada com dinheiro estatal quase gratuito.
No setor empresarial, no entanto, enquanto os lucros crescem e as ações se valorizam, os EUA convivem hoje com a maior taxa de desemprego em 26 anos e meio, de 10,2%.
Mesmo a venda de produtos físicos, resultado de empregos e produção industrial, tem mais a ver com reposição de estoques dilapidados do que com demanda em recuperação.
""O setor comercial cortou os estoques até um nível muito baixo. Talvez achando erroneamente que os consumidores tivessem entrado em greve por tempo indeterminado. Agora, terá de recompor isso", afirma Christopher Rupkey, economista do Bank of Tokyo-Mitsubishi em Nova York.
Apesar de a recomposição de estoques ajudar a aumentar a produção, é difícil prever se esse movimento será acompanhado por aumento da demanda dos consumidores -cada vez mais pressionados pela alta do desemprego e pela diminuição da oferta de crédito.


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