18.11.09

Caem vendas de empresas abertas

O Estado de S.Paulo (SP)

No segundo trimestre seguido de recuo, faturamento, na média, foi 1,6% menor que no mesmo período de 2008

Marcelo Rehder

As vendas das empresas de capital aberto no terceiro trimestre deste ano tiveram queda de 1,6%, na média, em relação a igual período de 2008, segundo levantamento divulgado ontem pela empresa de informações financeiras Economática. Foi a segunda retração trimestral consecutiva do faturamento dessas companhias. No trimestre anterior, a queda fora de 1%.

Para Fernando Exel, presidente da Economática, os dados destoam das previsões do governo de um fim de ano de crescimento chinês para a economia brasileira.


O estudo considerou o resultado de 194 empresas não financeiras com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) e corrigiu as vendas pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).


Os setores que mais perderam são os mais dependentes da exportação, como o de autopeças e veículos, cujas vendas desabaram 31,2% não só porque o dólar caiu em relação ao real, mas principalmente porque a demanda mundial esfriou.


Na média das siderúrgicas e metalúrgicas, também ligadas às exportações, a queda foi de 27,9%. Entre as empresas de química, as vendas recuaram 19,9% e nas de papel e celulose, caíram 13,7%.


Em compensação, praticamente todos os segmentos voltados fundamentalmente para o atendimento do mercado interno viram as receitas crescerem. O setor de construção, por exemplo, faturou 19,3% mais do que no terceiro trimestre do ano passado. As receitas das empresas do comércio cresceram 6,6% no período.


"Não é a mesma coisa, mas a variação da venda das empresas de capital aberto deve estar razoavelmente parecida com a do PIB (Produto Interno Bruto)", diz Exel. Ele observa, no entanto, que essas empresas que fazem parte de clube de elite que tem créditos especiais e historicamente cresce mais que o PIB. No estudo, a venda dessas empresas cresceu na média por quatro trimestres a um ritmo de 10% ou mais.


"Eu ouvi políticos falando em crescimento espetacular do PIB do terceiro trimestre. Não sei qual é a base que estão usando, mas a venda das empresas de capital aberto na média apontam para uma coisa negativa próxima de 2%", afirma o presidente da Economática.

COMPARAÇÃO INCOMPATÍVEL

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, os números pesquisados pela Economática não são compatíveis com o resultado do PIB, pois têm um peso grande de exportação em queda afetando a variação negativa.


"Consumo doméstico é que tem segurado a queda do PIB e não necessariamente é captado por todos os segmentos de capital aberto", observa o economista. "É uma sinalização clara, isto sim, de que a exportação tende a segurar parte do crescimento e certamente foi um dos fatores para que o PIB crescesse tão pouco nas nossas estimativas do terceiro trimestre contra o terceiro trimestre do ano passado." A MB Associados prevê ligeira alta de 0,3% para o período.


"Essa história de crescimento chinês não existe", diz o economista. Até porque as estatísticas chinesas e brasileiras são diferentes. "O que aconteceu foi que o presidente Lula pegou o dado na margem e anualizou, dando os 9% de crescimento."

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