Jornal do Brasil (RJ)
THE NEW YORK TIMES
O ambiente econômico global com crédito a baixas taxas de juros, comum nas últimas duas décadas, foi uma aberração que levou à “enorme destruição da capacidade” atual dos recursos naturais, diz Pippa Malmgren, presidente e co-fundadora das firmas de serviços financeiros Canonbury Group e Principalis Asset Management.
Resultado: países como a China correm para garantir suprimentos de commodities (mercadorias negociadas no mercado internacional), enquanto pacotes de estímulos econômicos de governos para evitar a depressão global elevam o risco de inflação, que poderia ameaçar a estabilidade social, argumenta.
Ex-conselheira econômica do ex-presidente George W. Bush e ex-analista de investimento de UBS Warburg e Bankers Trust, Pippa acredita que o fim da Guerra Fria e o fluxo de bilhões de pessoas na economia mundial criaram um ambiente de baixa inflação e volatilidade, que ela descreve como “cenário excepcional”.
– Muitas pessoas acham que o que tivemos nos últimos 20, 25 anos era normal, mas, em minha opinião, não era – explica – Foi uma aberração na história ter essas circunstâncias excepcionais e elas, agora, começam a diminuir. Estamos entrando em um ambiente econômico muito mais normal. É um retorno ao que tínhamos antes dessas circunstâncias excepcionais.
Apesar de parecer que a economia mundial está melhorando, com a ajuda de medidas de estímulo econômico, enquanto mercados financeiros se refazem de novo devido ao aumento dos valores de títulos e à volatilidade em declínio, Pippa alerta que seria perigoso interpretar esses sinais como uma luz verde para as pessoas aumentarem seus riscos de investimento em vez de reduzi-los.
Depois de experimentarem anos de boom econômico, as empresas amargam o sofrimento causado pela desaceleração reduzindo significativamente a capacidade de produção. De acordo com Pippa, empresários disseram que a “enorme destruição da capacidade” da produção de commodities ocorreu em decorrência disso.
Pippa destaca, por exemplo, que a capacidade de produção, em todo o mundo, de alguns metais caiu 80%, enquanto os produtores nos EUA reduzem seus rebanhos de vacas leiteiras porque se tornou muito caro manter excesso de estoque.
Então, com os preços das commodities ultrapassando os do mercados de ações, Pippa acredita que esses valores crescentes serão deflacionários e destruirão a margem das empresas.
Em relação à China, Pippa diz que a crise econômica atual e o fraco mercado doméstico de oferta pública inicial estão obrigando os fabricantes de lá a elevarem os preços, o que significa que o país asiático não vai mais exportar desinflação para o mundo. Em vez disso, a China será uma fonte de inflação, analisa.
Para ter certeza, a inflação representa um sério perigo para a China, uma vez que ameaça a estabilidade social. Pippa destaca que os protestos na Praça da Paz Celestial em Pequim há 20 anos ocorreram em um cenário de alta inflação, ao passo que as manifestações recentes no Tibete tinham monges protestando nas ruas por serem trocados por arroz.
As autoridades chinesas estão, segundo Pippa, muito assustadas.
Para elas, não há nada que vá gerar ruptura social de uma nação mais rápido do que a inflação, diz.
– Vemos que, pela primeira vez na história, os EUA, o Reino Unido, muitos dos europeus, os japoneses e nós (China) estamos incluídos, acabando com todas as fronteiras conhecidas de estímulo monetário e fiscal, e fazendo isso simultaneamente pela primeira vez na história – explica – Achamos que a iniciativa vai funcionar. E se der certo, não temos mecanismo para proteger nossa economia da inflação.
Tradução: Victor Barros
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