Folha de S.Paulo (SP)
Análise é de Mark Mobius, da Templeton, que administra US$ 25 bilhões em ativos em países em desenvolvimento
Para o investidor, correção no preço das ações nesses países pode chegar a até 20%, apesar de recuperação vista na sexta-feira
DA BLOOMBERG
A tentativa de Dubai de reescalonar sua dívida deverá desencadear uma "correção" nos mercados emergentes, de acordo com o presidente da Templeton Emerging, Mark Mobius. A queda mundial das Bolsas mostra que os gastos dos governos, por si sós, não são suficentes para proteger os mercados financeiros, disse Arnab Das, da Roubini Global Economics (RGE).
Mobius, que administra cerca de US$ 25 bilhões em ativos de países em desenvolvimento, como presidente da Templeton Asset Management, disse que uma queda de 20% nas ações é "bastante possível".
A volatilidade das Bolsas e a aversão aos riscos deverão crescer, segundo Das, diretor de pesquisa de mercado e estratégia da RGE, consultoria fundada por Nouriel Roubini.
As ações recuaram e os bônus dos governos subiram após a Dubai World, empresa de investimento do governo daquele emirado, com uma dívida de US$ 59 bilhões, procurar adiar os pagamentos de suas dívidas.
"Isto pode ser o gatilho para permitir que o mercado descanse e recue", disse Mobius em uma entrevista dada à Bloomberg Television por telefone, de Hanói. "Eu sentia que haveria uma correção significativa no que está acontecendo no mercado altista", disse ele. "Se Dubai tiver que dar o calote, isto pode dar início a uma série de calotes em outras áreas."
O Índice MSCI de Mercados Emergentes subiu cerca de 65% neste ano, mais do que o dobro do avanço dos mercados desenvolvidos, uma vez que a alta das commodities fortaleceu as ações de diversos países, do Brasil à Rússia.
"Uma correção de 20% não é rara em um mercado altista como este, de forma que é bastante possível, e nós devemos ficar prontos para isso", disse Mobius. "Não há como uma pessoa que possa prever especificamente quando e qual a extensão, mas sem dúvida haverá correções ao longo do caminho", acrescentou.
O recuo dos mercados emergentes deverá ser composto pela desvalorização da moeda do Vietnã e por uma "avalanche" de vendas iniciais de ações, disse Mobius.
O novo imbróglio financeiro começou na noite de quarta-feira, quando surgiu a informação de que o Dubai World pediria moratória de sua dívida, estimada em US$ 59 bilhões, por seis meses.
Com o temor de que grandes instituições financeiras europeias e asiáticas estivessem muito expostas a essa dívida, os mercados desabaram na quinta-feira. A Bovespa não conseguiu se isolar e encerrou as operações na quinta em baixa de 2,25%, enquanto a Bolsa de Londres recuou 3,18%; a de Frankfurt, 3,25%; e a de Paris, 3,41%. O mercado dos EUA estava fechado por causa do feriado de Ação de Graças.
Na sexta-feira, houve recuperação nos mercados do Brasil (a Bovespa subiu 1%) e da Europa, enquanto a Bolsa de Nova York, recuou 1,48% (índice Dow Jones).
Instituições financeiras britânicas tinham emprestados US$ 50 bilhões para empresas da região em 2008, de um total de US$ 123 bilhões concedidos pelos bancos estrangeiros, segundo o BIS (Banco para Compensações Internacionais).
O HSBC, o maior banco da Europa, é o que aparece como mais exposto a possíveis dívidas de Dubai, com US$ 17 bilhões em empréstimo.
No sábado, Abu Dabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, aos quais pertence Dubai, disse que poderá ajudar o emirado, o que poderá trazer alívio aos mercados hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário