14.12.09

Poupança encolhe e traz mais incertezas para o PIB de 2o1o

14 de dezembro de 2009

DCI (SP)

Fernanda Bompan


SÃO PAULO - A taxa de poupança bruta registrou uma queda acentuada no terceiro trimestre deste ano. De acordo com os dados divulgados, pelo IBGE, o índice atingiu, de julho a setembro, 15,9% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no mesmo período do ano passado, a taxa estava em 19,7%. O menor dado observado foi em 2000, quando a taxa chegou a 14,4%, e em 2001, 15,1%. Nos anos seguintes o valor se mantinha entre 17,2% (2002) e 20,1% (2006). Para os especialistas a explicação é de que a queda é resultado do aumento do consumo das famílias.

Segundo o IBGE, a despesa de consumo das famílias (3,9%, chegando a R$ 507,3 bilhões do PIB) mostrou o vigésimo quarto crescimento consecutivo entre o terceiro trimestre de 2009, na comparação com o período anterior. O documento aponta como um dos fatores para o resultado, a elevação de 2,5% da massa salarial real, com aumento de ocupação e do rendimento médio real do trabalho. Além disso, apesar da pequena desaceleração da taxa de crescimento trimestral em relação ao segundo, houve um crescimento, em termos nominais, de 17,9% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres para as pessoas físicas.

"Mas não é a única razão", afirma o professor da Fia, Keyler Carvalho Rocha. Para ele, outra explicação seria a atração de outros tipos de investimento. "A principal explicação pode ter sido a de que, como a renda da classe mais baixa cresceu, e esta não poupa tanto quanto a mais alta, forçou a queda da taxa com relação ao PIB. Antes se poupava mais por causa da preocupação de faltar dinheiro com a crise", justifica.

O professor afirma que o resultado é negativo para a economia do País, pois "o dinheiro diminuiu em um lado e aumentou em outro". Se observarmos o valor de crescimento do consumo do ano passado a tendência também era de crescimento, enquanto que a poupança alcançava quase 20% do PIB, o que confirma a opinião de Carvalho Rocha. Espera-se que, com o crescimento da economia previsto para 2010, os brasileiros tenham condições de poupar mais dinheiro.

O professor de economia da ESPM, José Eduardo Balian, concorda que a justificativa para a queda da representação da taxa de poupança no PIB é uma somatória de fatos. "Vemos que o País não está crescendo conforme esperado, muito próximo ao zero, o que prejudica a poupança", diz. "ainda que tenhamos sofrido pouco com a crise, percebemos que não está sobrando recursos para economizar", acrescenta.

Balian recorda que a inadimplência de cartão de crédito no período de 90 dias está em 12%, significa, para ele, que há muitos endividados. "Creio que o consumo vai diminuir porque as pessoas estão endividadas, ao mesmo tempo que não haverá dinheiro para a aplicar na poupança, trazendo impactos [a médio prazo] no PIB."

No âmbito governamental, as despesas do governo fizeram com que este, também, poupasse menos. "O governo fica sem poupança interna, causando uma certa dependência do capital externo para investir em obras importantes para o País, por exemplo", comenta Balian.

Recuperação

Na opinião do professor da Fia, a retomada das taxas de poupança com relação ao PIB será feita caso o governo reduza os impostos e aumente a taxa de juros. E até mesmo a renda de classes que poupem mais. "Outra sugestão é fazer com que cresça a atividade produtiva que, se tiver mais ativa, haverá maiores investimentos", avalia Rocha.

"Indiretamente, é muito importante a redução de impostos para ajudar a economia. As desoneração [do IPI] da linha branca mostraram que isso é possível. Além, é claro, que é importante aplicar um reforma fiscal, a fim de beneficiar todos os setores", analisa o professor da ESPM.

Outra solução para a poupança crescer em 2010, na opinião do especialista, seria a população planejar melhor seus gastos e, assim, conseguir poupar.

Balian afirma que, com relação ao governo, é necessário reduzir as despesas com custeio e corrupção, pois "são gastos ruins".

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