18.12.09

Mantega: 2010 não deve ter pacotes de estímulo

18 de dezembro de 2009

O Globo (RJ)

Ministro anuncia incentivo para venda de motos e diz que não será mais preciso socorrer outros setores


Aguinaldo Novo e Karina Lignelli

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem medidas de incentivo financeiro para o setor de motocicletas e sinalizou que este poderá ser o último pacote de ajuda a setores atingidos pela crise. Segundo Mantega, como a economia voltou a crescer a um ritmo “entre 4,5% e 5%”, o governo já não veria mais a necessidade de socorrer outros setores ou prorrogar os acordos anunciados neste ano e que acabam no início de 2010.

— Não posso dizer categoricamente (que o pacote anunciado ontem foi o último), porque a economia é dinâmica. O que digo é que a maioria dos setores já está crescendo. Teremos pela frente um ano tranquilo — afirmou o ministro, durante evento em São Paulo.

Segundo ele, apenas o setor de motos e de móveis (beneficiado recentemente por redução de tributos) ainda não tinham se recuperado totalmente da crise. Mantega anunciou a redução de 3% para zero da Cofins na venda de motos até 150 cilindradas (que respondem por 90% do mercado no país), alíquota que vai valer até 31 de março. Além disso, o governo criou uma linha de crédito de R$ 3 bilhões para tentar destravar as operações de financiamentos no varejo.

Os recursos serão operados pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal.

A renúncia fiscal com as duas medidas foi estimada em R$ 54 milhões. Com esse novo pacote, Mantega calcula que só neste ano as desonerações tributárias tenham alcançado cerca de R$ 12 bilhões, mas ele ressalta que esse número não pode ser tomado de forma isolada.

— Não podemos ver que o governo deixou de arrecadar R$ 12 bilhões ou R$ 13 bilhões.

Se abrimos mão de parte do IPI, aumentou a arrecadação com outros tributos, como o PIS e a Cofins.

Os acordos anunciados nos últimos meses pelo governo passaram a ser alvo de economistas, que entendem haver risco de comprometimento do equilíbrio fiscal no próximo ano. Em resposta a esses ataques, Mantega afirmou que “as contas públicas foram mantidas sob controle num ano de crise e estarão melhores em 2010”.

— É claro que o resultado primário foi menor, mas foi melhor do que em outros países.

Em 2010, vamos voltar a uma superávit fiscal de 3,3% (do PIB) — disse ele.

Indústria espera alta de 14% nas vendas em 2010

Com a decisão anunciada ontem, os fabricantes de motos passaram a projetar alta de até 14% das vendas no próximo ano. Para 2009, a previsão é de uma queda entre 18% e 20%, para cerca de 1,6 milhão de unidades, refletindo principalmente a escassez de crédito ao longo do primeiro semestre. Historicamente, o crediário responde por 65% das vendas de motos no país, índice que está hoje em 45%.

— A falta de crédito foi um problema crônico para o setor — afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores e Motonetas (Abraciclo), Shuiti Takeuchi, acrescentando que o repasse da Cofins deve significar desconto entre R$ 150 e R$ 200 no preço final de motos de até 150 cilindradas.

A escassez de crédito no primeiro semestre fez o total de 2,035 milhões de unidades vendidas em 2008 despencar para 1,620 milhão neste ano.

Até novembro, o setor comercializou 1,432 milhão de motos, com queda no faturamento ainda maior, de 30%, em relação ao ano passado. Já o prejuízo para os fabricantes chegou a R$ 3,6 bilhões em novembro, com baixa de 16,6% nas vendas para o mercado interno em comparação a outubro.

Honda prevê fechar ano com 20% de queda na produção

Até a Moto Honda, que responde por 77,5% do mercado de duas rodas no país, fez duas paralisações na fábrica de Manaus, em outubro e novembro, para readequar o nível de produção os altos estoques. De acordo com a montadora, a projeção é fechar o ano também com 20% de queda na produção e vendas, ou 1.165 unidades produzidas em 2009, contra 1.456 milhão de 2008.

Na Zona Franca de Manaus, o setor é um dos poucos que ainda ficaram para trás por ter uma cadeia com mais etapas.

As principais marcas precisam competir com outros fabricantes da China e da Coreia que importam boa parte do que estão montando na região.

Há 11 fabricantes do produto final e outras 55 de componentes.

COLABOROU: Vivian Oswald

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