Valor Economico (SP)
Crédito: Redução da atividade faz sobrar mais de 30% dos R$ 250 bi de "finance trade" reservados pelo G-20
Assis Moreira, de Genebra
Está sobrando crédito para o comércio internacional. Do pacote de US$ 250 bilhões que o G-20 implementou no ano passado, a demanda foi de apenas 67%, significando que mais de US$ 80 bilhões continuam disponíveis. Foi o que revelou ontem ao Valor o diretor-adjunto do Departamento de Comércio e Agricultura da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Raed Safadi.
"Não há penúria, esse crédito continua existindo", disse o economista. Nesse cenário, ele vê consenso entre economistas de que o comércio internacional está "voltando ao normal passo a passo" e pode crescer 4% este ano. Ontem, Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) atribuiu a brutal queda de 12% no comércio global em 2009, entre outros fatores, à falta de financiamento.
O mercado global de crédito ao comércio ("trade finance") é descrito como a "graxa" para facilitar exportações e importações, normalmente com maturação de até 180 dias. No total, esse tipo de operação cobre entre 80% e 90% dos mais de US$ 12 trilhões do comércio mundial.
Quando as linhas de credito secaram em meados do ano passado, o G-20, reunindo as maiores economias do planeta, teve que intervir com um pacote bilionário para dois anos, reativando o "trade finance" por intermédio do Banco Mundial, bancos regionais e instituições oficiais dos países ricos.
Safadi, da OCDE, diz que desde então a situação começou a se normalizar e mais bancos comerciais estão de volta ao mercado. Outras fontes reclamam que as taxas, porem, continuam elevadas. E que se as linhas de credito não foram inteiramente utilizadas, é tambem porque a demanda global por mercadorias continua frágil.
Por outro lado, fontes bancárias acenam com tratamento flexível para o "trade finance" na regulamentação bancaria global que está sendo negociada no Banco Internacional de Compensações (BIS), que é uma espécie de banco dos bancos centrais.
Pelo acordo de Basileia 2, os bancos têm de manter mais capital em proporção do risco dos ativos. E isso teria causado tambem o aperto nas linhas para o comércio exterior.
O acordo de Basileia está sendo revisado e vai endurecer as exigências de capital, para as instituições financeiras correrem menos riscos.
O Brasil foi o primeiro país a insistir na OMC sobre o impacto que as regras do sistema financeiro tem no credito ao comércio, porque este séria um dos modos mais seguros de crédito, devido à sua curta maturidade e existência de garantia física (os produtos), por exemplo.
Agora, as indicações são de que os reguladores mostram-se favoráveis à possibilidade de reformar as regras para o "trade finance". Mas querem mais demonstrações de que essas linhas de crédito são relativamente seguras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário