5.2.10

Juro futuro cai após a ata do Copom

05 de fevereiro de 2010

O Estado de S.Paulo (SP)

Embora analistas tenham divergido na interpretação da ata, mercado diminuiu suas apostas numa alta forte dos juros

Fabio Graner e Fernando Nakagawa, BRASÍLIA

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, demonstrou que o Banco Central está bem mais preocupado com os riscos de inflação, reforçando a possibilidade de elevação da taxa básica de juros (Selic) em uma de suas próximas reuniões. Mas, apesar do tom mais duro empregado no documento, as taxas negociadas no mercado futuro tiveram forte queda (de 10,27% os juros para janeiro de 2011), indicando que o mercado já não está tão seguro em relação ao início do aperto monetário.

No documento, o BC já não vê mais uma atividade econômica em recuperação gradual e sim uma redução "sensível" da capacidade ociosa na indústria; enxerga um risco maior vindo do cenário externo, especialmente dos preços de commodities; e demonstra maior preocupação com a trajetória das expectativas de inflação, além de seguir atento os efeitos na atividade econômica dos impulsos do maior gasto público e da redução dos juros em 2009.

"O Copom avalia que, diante dos sinais de retomada da demanda doméstica (...) e do comportamento recente das expectativas de inflação, podem aumentar os riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno", afirma a ata. "Nesse ambiente, cabe à política monetária manter-se vigilante para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos."

Apesar do tom mais incisivo e da avaliação de que indica elevação mais iminente da Selic, o texto deu força a uma corrente de analistas que vê o início do novo ciclo de alta dos juros, até agora previsto para março ou abril, no fim do primeiro semestre ou início do segundo. Essa percepção foi reforçada pela redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre combustíveis, anunciada na véspera pelo Ministério da Fazenda - medida interpretada como sinal de que a Pasta vai ajudar o BC no controle da inflação e, portanto, a alta dos juros pode não vir tão cedo.

A queda das taxas também demonstrou que o mercado esperava uma ata ainda mais contundente no sentido de que a Selic já estaria prestes a ser elevada. Essa é a opinião do ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas. Ele avaliou que, apesar da subida de tom, a ata mostra que a Selic pode começar a subir apenas no segundo semestre. "As taxas de curto prazo caíram, e isso é sinal de que o mercado esperava uma ata que sinalizasse alta mais rápida da Selic." Freitas considera que, se o BC quisesse sinalizar alta de juros tão próxima, a ata seria mais incisiva. "A ata mudou, mas não foi uma mudança que disse que o juro vai subir já. Se o BC quisesse dizer isso, poderia ter feito", disse o Freitas, que prevê alta a partir de julho.

Apesar de respaldada pelo mercado, a análise do ex-diretor não é consensual. Boa parte dos analistas entende que o BC deixou claro que vai subir os juros em breve, no mais tardar em abril. "A ata desta reunião do Copom subiu bastante o tom em relação à anterior, elevando a probabilidade de aumento dos juros já em março", avaliou a economista-chefe da Rosenberg e Associados, Thaís Zara.

A análise do Departamento Econômico do Bradesco vai na mesma direção: "Mantemos nosso cenário de subida de juros em abril deste ano, sem descartar antecipação deste movimento, caso os desdobramentos até a reunião de março se revelem substancialmente desfavoráveis para a inflação".

APERTO NO HORIZONTE

Principais trechos da ata

O que diz a ata: "Cabe à política monetária manter-se vigilante para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes curtos se propague para horizontes longos"

O que o BC quer dizer: BC deve impedir que a alta localizada de preços, como vem acontecendo no atacado, se propague para o restante da economia.

O que diz ata: "A probabilidade de que desenvolvimentos
inflacionários inicialmente localizados venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação poderia estar se elevando''

O que o BC quer dizer: O Banco Central teme que a inflação suba e fique acima da meta de 4,50% em 2010.

O que diz a ata: "Na eventualidade de deterioração do perfil de riscos que implique alteração do cenário para a inflação, a estratégia de
política monetária será prontamente adequada"

O que o BC quer dizer: Se os preços começarem a subir, colocando a meta em risco, o BC vai aumentar os juros.

O que diz a ata: ''A tendência nas economias que foram menos
impactadas pela crise e se recuperam mais rápida e
intensamente é de adoção de política monetária mais restritiva''

O que o BC quer dizer: Países que se recuperaram rapidamente do tombo da crise e mostram economia em crescimento intenso, como o Brasil, podem ter de subir juro para evitar inflação fora de controle.

Trechos que sumiram da ata

Em dezembro, Banco Central afirmava que: Havia "ociosidade remanescente" na economia

Ou seja: as fábricas tinham capacidade suficiente para aumentar a produção e atender à demanda.


O Brasil estava em um cenário "de recuperação gradual da atividade".

Ou seja: o ritmo de recuperação da economia não era tão forte a ponto de provocar temor de inflação.

E as pressões inflacionárias devem "seguir contidas"

Ou seja: havia algumas pressões inflacionárias, mas não representavam risco.

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