Jornal do Brasil (RJ)
Primeiro Caderno
THE NEW YORK TIMES
Mesmo que os sinais de recuperação da crise financeira sejam mais fortes na Ásia e que a região esteja cotada para ser a fonte mais provável de crescimento econômico globalmente, a pobreza rural continua enorme lá.
– O foco na agricultura é absolutamente essencial – diz o ganhador do Nobel Joseph Stiglitz, referindo-se aos países agrários em desenvolvimento na Ásia, em particular Mianmar, onde a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para Ásia o convidou para dar consultoria sobre a política econômica do país e redução da pobreza rural.
Então, por que Mianmar, que já foi considerada a “tigela de arroz da Ásia”, não conseguiu atingir o crescimento que muitos previram? Para Stiglitz, isso se dá, em parte, porque o país sucumbiu ao que chama de “maldição dos recursos naturais”.
– A maioria dos países com grande produção de recursos naturais se sai pior do que os que não produzem tanto, o que é uma ironia – disse em coletiva de imprensa em Cingapura organizada pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros.
E ele atribui isso a “fracassos muito grandes no desenvolvimento e gestão dos recursos naturais, (e) no desenvolvimento agrícola”.
– Com frequência, países com grande quantidade de recursos naturais sofrem com a apreciação da taxa de câmbio e o resultado é que, quando eles vendem os recursos naturais, o valor da moeda sobe; eles produzem recursos naturais, mas nenhum emprego – explica. – É possível ver isso no mundo onde há países ricos e pessoas pobres; por isso é tão importante gerir os recursos naturais de um ponto de vista macroeconômico.
Economias emergentes que não conseguem explorar o potencial de ativos que têm abaixo do solo – como petróleo e gás natural – são candidatas a vítimas da “maldição”. Se não for possível “recriar” esses ativos acima do solo, diz, “você será pobre, por estar destruindo sua base de ativos. Se você desperdiçar seus ativos, você está pondo em risco o futuro do seu país”.
Os problemas são mais intensos no setor agrícola, em que agricultores enfrentam taxas de juros de até 10% por mês. Como resultado, diz Stiglitz, muitos agricultores não conseguiram crédito que precisavam para comprar fertilizante e sementes de alta qualidade, e o potencial agrícola total continua não realizado.
O financiamento de operações comerciais tem sido um problema para as economias emergentes na Ásia depois da crise financeira, mas desde então “melhoraram”, diz Stiglitz.
– Os fluxos de capitais mais abrangentes caíram muito – explica. – E quando digo fluxos de capitais, refirome a particularmente investimento direto estrangeiro, e em alguns casos há fluxos de capitais reversos.
De acordo com Stiglitz, crescimento econômico menor significa que o comércio está menor. O efeito do impacto do financiamento das operações comerciais está sendo agora amenizado, explica.
Essa é uma das razões pelas quais a Ásia está se recuperando; a outra, diz, é que a China adota políticas muito mais fortes e tinha políticas prudentes antes.
– Diferentemente dos EUA, que tiveram um grande déficit quando entrou em crise, a qual se tornou maior, a China construiu uma grande reserva, para que pudesse se promover uma política fiscal contra cíclica muito mais forte – observa.
Outra questão chave para países em desenvolvimento está relacionada à remessa de dinheiro de nacionais que migraram para outros países, o que representa grande fonte de renda para a maioria das economias emergentes. “Quando a economia está em baixa, as primeiras pessoas a perderem os empregos são os trabalhadores imigrantes”.
– Isso tem impacto em muitos países. Enfermeiros não são demitidos, pessoas continuam ficando doentes. Então, os países exportadores de enfermeiros ficaram relativamente protegidos.
Já os países que enviaram trabalhadores migrantes para o setor de construção foram devastados. São exemplos de padrões variados.
Para estimular o desenvolvimento, Stiglitz, ex-economista chefe do Banco Mundial, diz que se deve encarar os processos econômicos e políticos de um país não como entidades separadas, mas como partes interligadas.
– Se alguém quiser atingir segurança econômica, estabilidade econômica, desenvolvimento sustentável, ele precisa participar de processos para tentar absorver algumas das lições que alguns países absorveram – comenta.
Investimento em capital humano e em educação, acrescenta, também é necessário para manter o motor do crescimento se movendo.
– Você fica mais velho uma vez por ano, e não importa que inovações ocorram, esse processo de envelhecimento não pára. – conta. – Consequentemente, se você não renova seu capital humano, ele deprecia como o capital físico.
Mesmo assim, Stiglitz tem esperança de que para um país em desenvolvimento como Mianmar – que nunca foi integrado à economia global, mas acabou se tornando uma vítima “inocente” da crise financeira apesar de tudo – a onda esteja mudando.
Talvez seja um chamado de alerta que o Ciclone Nargis induziu.
Ele não somente dizimou vilas inteiras, matando 140.000 pessoas e destruindo 800.000 casas no ano passado, mas também devastou o sistema de crédito e destruiu fertilizante e animais domésticos.
Resumo: ele arruinou o que restou da economia.
– A globalização abriu os olhos deles nesse ponto – diz Stiglitz sobre Mianmar. – Em geral, espera-se que este seja o momento de mudança para o país e seria um erro perder essa oportunidade no momento em que as coisas possam funcionar.
Tradução: Victor Barros
A maioria dos países com grande produção de recursos naturais se sai pior na economia do que os que não produzem tanto “ Quando a economia está em baixa, os primeiros a perderem os empregos são os imigrantes.
Joseph Stiglitz ganhador do Nobel, ex-economista chefe do Banco Mundial “
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