4.2.10

Reformas radicais firmam-se na manufatura americana

04 de fevereiro de 2010

Valor Economico (SP)

Mark Whitehouse, The Wall Street Journal

A base industrial dos Estados Unidos passa pela reestruturação mais radical em décadas, à medida que os fabricantes repensam suas estratégias no rastro da recessão.

Da Dow Chemical Co. à Intel Corp., ícones de seus respectivos setores têm relatado mudanças tortuosas - tanto na contração como na recuperação - enquanto divulgam os resultados de 2009.

A Dow Chemical informou terça-feira que estuda vender cerca de US$ 2 bilhões em fábricas velhas e outros ativos neste ano enquanto muda seu foco para os químicos especiais, mais lucrativos. A fabricante de eletrodomésticos Whirlpool Corp., a controladora da Multibrás S.A. Eletrodomésticos, informou que diminuiu a capacidade em um décimo em 2009 enquanto lutava com um declínio de 9,6% nas vendas. Já a Intel está investindo bilhões de dólares em suas fábricas americanas, graças à recuperação da demanda por computadores.

"Estamos emergindo de um dos cenários econômicos mais desafiadores que presenciamos em décadas", disse na terça-feira o diretor-presidente da Whirlpool, Jeff Fetting, numa teleconferência.

"Enxergamos 2010 como um ano inteiro de recuperação para nossa empresa."

As mudanças mais recentes estão acelerando a tendência de longo prazo do setor industrial americano de abandonar setores pesados, como os de automóveis e químicos básicos, e rumar para os de produtos de mais alta tecnologia, como microprocessadores ultrarrápidos.

Em alguns casos, como no das montadoras, as empresas estão encolhendo para se ajustar à menor demanda interna ou investindo em fábricas menores e mais eficientes. Em outros, empresas como as fabricantes de químicos estão relocando operações com uso intensivo de mão de obra para países em que os salários são menores.

Em 2009, a capacidade do país de produzir veículos motorizados e químicos encolheu 4,4% e 1,7%, respectivamente, o maior declínio desde pelo menos 1949, segundo estimativas do Federal Reserve, o banco central americano. A capacidade de produzir semicondutores, em contraste, cresceu 10,4%, segundo algumas estimativas. No geral, a capacidade industrial americana caiu 1% em 2009, o maior declínio anual de que se tem registro, enquanto as empresas que fabricam produtos eliminaram mais de 2,3 milhões de empregos.

O resultado disso é que os economistas esperam que o desemprego continue alto durante vários anos, com milhões de trabalhadores americanos nos setores mais prejudicados tendo dificuldade para encontrar trabalho. E embora alguns economistas considerem que a restruturação é necessária para tornar a indústria americana mais enxuta e lucrativa, outros temem que a abrangência da destruição no setor possa matar empresas que deveriam sobreviver.

"O terremoto pelo qual passamos foi tão grande e os tremores secundários tão fortes que poderíamos ter destruído facilmente indústrias perfeitamente saudáveis que são cruciais para a cadeia de suprimento", como fabricantes de autopeças que suprem a indústria inteira, disse Diane Swonk, economista-chefe da Mesirow Financial, uma administradora de recursos de Chicago. "Esse é o grande perigo, e ele ainda existe."

A reestruturação em curso ajuda a entender os tipos de bens que os EUA devem produzir e em quais volumes. Em setores como automotivo, imobiliário e de eletrodomésticos, a eliminação de capacidade está corrigindo pelo menos parcialmente as distorções que se empilharam durante vários anos de crédito fácil e consumo desenfreado. As empresas estão simplesmente se ajustando à demanda menor.

Fettig, da Whirlpool, por exemplo, disse que sua empresa vai "retirar mais capacidade" em 2010, depois de eliminar capacidade para 5 milhões de unidades nos últimos 15 meses - como uma fábrica em Evansville, no Estado de Indiana, que fabricava geladeiras e máquinas de gelo. O diretor-presidente da Ford Motor Co., Alan Mullaly, prevê vendas de carros e picapes nos EUA em 2010 de 11,5 milhões a 12,5 milhões de unidades, em comparação com o recente auge de 17,5 milhões, em 2005.

Para a indústria química, a recessão intensificou um êxodo dos EUA que ocorre há pelo menos dez anos, devido ao custo crescente da energia, preocupações com o meio ambiente e demanda cada vez maior nos países em desenvolvimento.

A Dow, por exemplo, já fechou ou anunciou planos de fechar seis fábricas que produzem químicos de etileno nos Estados de Louisiana e Texas no último ano.

"A indústria química está deixando os EUA e não vai voltar", diz Peter Huntsman, diretor-presidente da gigante texana dos químicos Huntsman Corp., que planeja divulgar os resultados do quarto trimestre em 19 de fevereiro. "Quando a demanda se recuperar, eles vão construir nova capacidade no exterior - no Oriente Médio, em Cingapura e na China."

A Huntsman, disse ele, está expandindo a capacidade no Oriente Médio e na China para produzir químicos usados em coisas como isolamento térmico e ferrovias de alta velocidade. A empresa conta com um terço de sua capacidade nos EUA, ante quatro quintos há dez anos. Essa capacidade está cada vez mais focada em produzir mais químicos especializados, como resinas epóxi que podem ser usadas para construir aviões.

A situação é totalmente diferente nas produtoras de semicondutores, que assistiram à demanda americana se recuperar rapidamente, levando as fabricantes de computadores a aumentar os investimentos no fim de 2009 para atender à demanda. A Intel, que produz microchips em Chandler, Arizona; em Rio Rancho, no Novo México; e em Hilsboro, no Oregon, aumentou as despesas de capital em 15% no quarto trimestre em relação ao anterior, para US$ 1,08 bilhão - parte de um programa de dois anos e US$ 7 bilhões para atualizar as fábricas americanas.

Uma fatia considerável da produção de semicondutores vem de fora dos EUA, mas muitas empresas ainda preferem produzir no país, especialmente se a fabricação envolve pouca mão de obra ou é altamente complexa. A proximidade dos centros americanos de design de empresas como Dell Inc. e Apple Inc. também pode ser uma vantagem.

"Esse é o tipo de fabricação que fará sentido ter nos EUA ainda por muito tempo", diz Tim Peddecord, diretor-presidente da fabricante de módulos de memória Avant Technologies, de capital fechado e que recentemente abriu uma fábrica de 4.645 metros quadrados em Pflugerville, Texas, que vai aumentar a capacidade da empresa de 500.000 para 800.000 módulos por mês.

Peddecord diz que sua empresa está se expandindo, depois de se reestruturar durante a recessão, que acabou com vários concorrentes.

Estar nos EUA, diz ele, permite que mude pedidos no país em 24 horas, uma vantagem crucial num setor em que a demanda é volátil e os clientes tentam manter o estoque baixo. Os custos reduzidos do frete em comparação à China também podem compensar o custo maior da mão de obra americana, porque a folha de pagamento responde por menos de um centésimo do seu preço médio de venda.

(Colaborou Bob Tita)

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