O Estado de S.Paulo (SP)
Mudança do compulsório é uma 'medida prudencial'
Beatriz Abreu
BRASÍLIA
A decisão do Banco Central de retirar dinheiro dos bancos e reduzir o volume de crédito no País interfere diretamente na chamada liquidez e, certamente, eliminará o risco de os bancos se envolverem com operações feitas sem a devida cautela e de elevado risco, segundo fontes do governo. O que o BC fez foi calcular qual o volume de dinheiro necessário para manter a atividade econômica e a oferta de crédito no tamanho adequado para atender os consumidores, sejam pessoas físicas ou jurídicas.
O que estava sobrando volta para o BC. O diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, definiu a mudança no recolhimento dos compulsórios como uma "medida prudencial". O objetivo, portanto, era retirar o incentivo para "aventuras". Vale lembrar que o excesso de liquidez foi o combustível para a crise financeira, que começou nos Estados Unidos, avançou na economia mundial e ainda fragiliza a Europa.
Prudencial também pode ser definida a medida que determina o recolhimento em espécie do compulsório a prazo, como aplicações em CDBs ou poupança. A lógica é: considerando-se os compulsórios como um colchão de liquidez, como definem as regras de Basileia, recolhimento em espécie preserva o valor da moeda em momentos de estresse do mercado financeiro. Pagamento em títulos públicos não traz a mesma eficácia. A crise mostrou que muitos governos tiveram problemas para garantir a liquidez no mercado porque suas carteiras estavam cheias de títulos que perderam valor rapidamente.
RISCO
A política diferenciada praticada nessa nova mexida nos compulsórios mostra que o Banco Central considera que ainda há o risco de impactos da crise sobre bancos brasileiros. Está garantindo às instituições R$ 30 bilhões em novas operações para compra de carteiras, medida agora voltada apenas ao segmento de bancos pequenos e médios. Essas operações poderão acontecer até 30 de junho.
Se um menor volume de dinheiro em circulação vai ou não impactar os juros do mercado e/ou a Selic é uma questão que o BC não discute. O mantra que será repetido cada vez mais é o de que o efeito dos compulsórios na política monetária será neutro. Foi o que disse Mendes na quarta-feira. Não se descarta, porém, que redução do dinheiro em circulação e aumento de taxas de juros possam ser complementares.
A política de utilizar o controle dos chamados agregados monetários para conter a inflação ficou para trás, na leitura da ação do BC. Os compulsórios são, apenas, instrumentos de controle da liquidez. A inflação é controlada pelas taxas de juros. É isso o que diz o BC para tentar derrubar interpretações de que o ajuste dos compulsórios é uma medida para adiar o ajuste na Selic. Ou mesmo permitir uma correção mais gradual da taxa de juro básica da economia, quando necessário.
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