O Estado de S.Paulo (SP)
Detalhes do plano de ajuda deverão ser anunciados hoje, na reunião de cúpula da União Europeia
Jamil Chade, CORRESPONDENTE, GENEBRA
Os países europeus, em particular os 16 que fazem parte da zona do euro, vão dar suporte à Grécia para enfrentar sua crise orçamentária. A informação foi divulgada ontem pelo primeiro-ministro da Espanha, Jose Luis Rodriguez Zapatero, que exerce a presidência rotativa da União Europeia. O acordo foi possível depois que as maiores economias da Europa, Alemanha e França, chegaram a um entendimento de que precisariam agir para desbloquear as negociações de um resgate da economia da Grécia e impedir que o euro sofra um desgaste em sua credibilidade.
"Temos de dar suporte à Grécia, isso está claro, e é a Europa e o zona do euro que farão isso", disse Zapatero à imprensa ao desembarcar em Bruxelas para um encontro dos socialistas europeus, na véspera da reunião de cúpula da UE, prevista para hoje. A zona do euro é formada pelos ministros de Finanças dos 16 países que integram a zona do euro. Zapatero não deu detalhes sobre o tipo de apoio à Grécia, que seria negociado nesta madrugada e anunciado hoje na reunião de cúpula.
A aliança franco-alemã foi construída nos últimos dias, enquanto crescia a pressão do mercado sobre o euro e um questionamento cada vez maior sobre a capacidade da UE de dar solução às suas crises. Com o apoio das duas maiores economias do bloco, ministros de Finanças fizeram ontem uma teleconferência para debater uma saída. No fim do dia, foi a vez dos membros do conselho do Banco Central Europeu (BCE) se reunirem com o mesmo objetivo. Jean-Claude Juncker, presidente da zona do euro e primeiro-ministro de Luxemburgo, disse que a proposta surgiu depois dessas reuniões.
Berlim e Paris privilegiam uma solução bilateral de apoio à Grécia para evitar violação às leis da UE. O envolvimento financeiro do FMI estaria descartado, mas Paris admite que a entidade poderá auxiliar o processo em sua condição de "especialista". Nos últimos 12 meses, o Fundo já atuou em vários países do Leste Europeu. Nenhum, porém, era da zona do euro.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, insinuou ontem que seu país apenas faria parte de um plano de resgate se o FMI fosse incluído financeiramente. Por enquanto, em seu ponto de vista, a Grécia é um problema da zona do euro.
As divisões ficaram claras quando o ministro belga de Finanças, Didier Reynders, defendeu, em entrevista ao jornal Le Monde, que se recorra ao FMI na ajuda à Grécia. "A Grécia tem o direito de recorrer ao FMI. Senão, qual é a vantagem de ser parte do FMI?" Atenas, porém, é contra.
Para completar, o Parlamento Alemão concluiu um relatório indicando que qualquer ajuda oficial de Berlim aos gregos violaria as regras da UE.
Diante da indefinição europeia, o euro voltou a cair ontem, pelo temor de que o anúncio de hoje ainda não seja suficiente, numa demonstração da volatilidade dos mercados e das incertezas em relação à cúpula. A queda do euro em relação ao dólar foi de 0,7%. Já as bolsas subiram pelo terceiro dia seguido.
A ideia original da cúpula era apenas tratar da recuperação econômica da região. Mas a agenda acabará dominada pela nova crise. A Grécia precisa de empréstimos de 53 bilhões neste ano para financiar suas dívidas públicas, que atingem 12,7% do PIB e quatro vezes o limite permitido por Bruxelas. Até abril, precisa de cerca de 20 bilhões. Se o valor é alto para os gregos, representa apenas uma fração do que Berlim deu aos próprios bancos.
Uma das propostas é que a UE ou a aliança franco-alemã dê empréstimos a bancos estatais para a compra de bônus gregos, fortalecendo a posição do país e reagindo aos especuladores. Outra opção seria injetar recursos nos bancos altamente expostos à Grécia, também para estabilizar os mercados.
O projeto não virá sem a imposição de condições à Grécia, tendo como meta reduzir seu déficit a 2,7% em 2012. Os critérios serão uma sinalização a Portugal, Irlanda e Espanha de que não haverá pacotes gratuitos de ajuda. Na realidade, seja qual for o tipo de ajuda, haverá uma lista de exigências a serem cumpridas pelos gregos.
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