18.5.10

Sem freio no crescimento

18 de maio de 2010

O Globo (RJ)

Apesar de corte de R$ 10 bi em gastos públicos, mercado eleva projeção para PIB e inflação


Patrícia Duarte, Geralda Doca e Vivian Oswald BRASÍLIA


Nem mesmo o anúncio do corte de R$ 10 bilhões nos gastos do governo, na semana passada, fez com que as expectativas sobre inflação e crescimento econômico para este ano cedessem.

Segundo a pesquisa Focus do Banco Central (BC) divulgada ontem, os analistas preveem agora um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) de 6,30% este ano — contra 6,26% na semana passada. E enxergam uma inflação pelo IPCA de 5,54% (acima do centro da meta, de 4,5%) na 17aelevação seguida dessa estimativa.

Ontem, em mais um sinal do forte aquecimento da economia, o Ministério do Trabalho informou que o país criou 305 mil postos de trabalho formais no mês passado, no melhor resultado para abril dos últimos 18 anos.

E a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou suas novas projeções para a economia brasileira, estimando uma alta de 8% no PIB industrial de 2010, que, se confirmada, será o melhor desempenho desde 1994.

Ao anunciar o corte de gastos de R$ 10 bilhões este ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que pretendia evitar um superaquecimento da economia e um crescimento acima de 7%. No mercado financeiro, já há projeções de que o país vá crescer 8%.

Na média, os analistas ouvidos pelo Focus preveem 6,30% — taxa, porém, que vem avançando semana após semana (no início do ano era de 5,20%). A atividade aquecida explica a piora nas expectativas para a inflação.

Mas, segundo especialistas, o corte de gastos pode ajudar a segurar as previsões a médio prazo.

— O anúncio (do governo de contenção de gastos) ajuda na estabilização das projeções de 2011. Mostra que os ministérios da Fazenda e do Planejamento reconhecem a força da atividade econômica — afirmou o economistachefe da Máxima Asset Management, Elson Teles.

Para 2011, os analistas mantiveram suas projeções de uma inflação de 4,80% pela quinta vez consecutiva.

E preveem um crescimento do PIB de 4,5%. Teles lembra que essa estabilidade nas perspectivas a médio prazo também vem do cenário internacional, com a crise na Europa.

Por causa dos temores de contágio, há dúvidas se a economia brasileira conseguiria manter o mesmo ritmo de crescimento acelerado.


Emprego formal bate recorde


Na esteira do crescimento acelerado da economia brasileira, o mercado formal de trabalho registrou em abril a criação líquida (admissões menos demissões) de 305.068 empregos, quase o triplo do verificado em igual mês de 2009, quando o país ainda sofria os impactos da crise financeira internacional.

Com isso, foram 962.327 novos trabalhadores com carteira assinada no primeiro quadrimestre de 2010 — o melhor desempenho da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.

Segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o crescimento do emprego vai se desacelerar em maio devido a fatores sazonais na agricultura e a um processo de acomodação, pois a base de comparação com os primeiros meses de 2009 é baixa. A projeção é de um saldo entre 240 mil e 280 mil. Lupi projeta que o mercado fechará o ano com 2,5 milhões de novos postos. O Bradesco prevê 2,1 milhões de vagas formais este ano.

O ministro afirmou ainda que o corte de R$ 10 bilhões no orçamento do governo federal não vai afetar o mercado de trabalho. Ele admitiu posições divergentes dentro do próprio governo e rebateu os argumentos da equipe econômica de que a economia brasileira não pode crescer mais que 7% sem inflação.

— Temos que parar de ter complexo de inferioridade — destacou Lupi.

A indústria, que no ano passado amargou sua pior crise dos últimos 18 anos, poderá bater recordes históricos em 2010, sendo um dos principais motores do crescimento do país. Diante dos bons números do primeiro trimestre, a CNI reviu para 8% o
crescimento do PIB industrial este ano — o que seria o melhor resultado desde 1994. No ano passado, o PIB industrial teve retração de 5,5%. A CNI prevê que, no conjunto, o PIB brasileiro vá crescer 6% este ano.

O otimismo das empresas deve elevar os investimentos da indústria em 18%, contra uma queda de quase 10% ano passado. Para chegar a um PIB industrial (renda gerada pelo setor) de 8%, a produção fabril deve crescer 12% em volume este ano, prevê a CNI.

Pelas contas do economista da CNI Marcelo Azevedo, o setor deve ser responsável por pelo menos dois pontos percentuais do aumento projetado em 6% para o PIB brasileiro. Em dezembro do ano passado, quando divulgou as primeiras estimativas para os indicadores econômicos do país, a CNI previa uma alta de 5,5% no PIB nacional e de 7% no PIB industrial.

A CNI manteve a projeção das importações em R$ 175 bilhões, mas diminuiu as estimativas para as exportações de US$ 188 bilhões para US$ 185 bilhões. A revisão já leva em conta parte dos efeitos da crise econômica na Europa.

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