O Globo (RJ)
Profissional com 11 anos de estudo teve perda de 12% entre 2002 e 2008, mostra Ipea
Geralda Doca
BRASÍLIA. Os trabalhadores brasileiros qualificados — com mais de 9 anos de estudo e que representam um universo de 42 milhões de pessoas — tiveram, na média, queda na renda entre 2002 e 2008, na contramão dos ganhos auferidos pelas demais categorias. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), enquanto na média a renda do trabalho nacional subiu 7,59% no período (de R$ 926,14 para R$ 996,45, a valores de setembro de 2008), quem estudou entre 9 e 11 anos amargou uma queda nos rendimentos de 5,09%. Para aqueles com escolaridade acima de 11 anos — ou seja, com pelo menos o ensino médio completo — o tombo foi ainda maior, de 12,76%.
Os números do estudo do Ipea, apresentado ontem, foram corrigidos pela inflação. Ou seja: os trabalhadores até receberam reajustes, mas estes não foram suficientes para recompor a variação dos preços.
Trabalhador com 4 anos de estudo teve ganho de 12%
Isso fica claro se for observado o período após a crise de 2002, que contaminou a economia em 2003. Entre 2004 e 2008, há uma recuperação na renda dos trabalhadores mais qualificados. Para aqueles com entre 9 e 11 anos de estudo, houve crescimento no salário de 8,09%. Ainda assim, o desempenho é bastante inferior ao ganho de renda da média dos trabalhadores brasileiros naqueles quatros anos, de 17,10%.
Segundo o estudo, que considera a renda dos trabalhadores com e sem carteira, quem mais ganhou entre 2002 e 2008 foram as pessoas com apenas quatro anos de escolaridade. Nesse grupo, que completou somente o ensino básico, a alta nos rendimentos foi de 12,39%.
— O crescimento da renda do trabalho no Brasil não ocorreu de forma homogênea. Trabalhadores com pouca qualificação e de setores que tradicionalmente pagam baixos salários, como agricultura e serviço doméstico, tiveram melhor desempenho — afirmou o pesquisador do Ipea, Sandro de Carvalho.
Os ganhos reais do salário mínimo, afirmou Carvalho, ajudam a explicar esse movimento, mesmo no setor informal da economia, onde o piso funciona como referência. Porém, para conhecer as causas da queda de renda entre os brasileiros de maior escolaridade, é preciso aprofundar os estudos, abordando aspectos da oferta e demanda de mão de obra, disse o economista.
O cansaço de Cléber da Costa Pinto, professor desde os anos 80, é prova de que seu salário não tem acompanhado a velocidade dos preços. A pesquisa do Ipea constatou que os professores com formação superior amargaram perda de renda de 2,69%.
— Preciso trabalhar mais para manter a renda estável. Há dez anos, eu dava menos aulas por um salário maior. Considerando a preparação do material, tem dias em que eu trabalho 18 horas — disse Pinto, que leciona língua portuguesa em cinco colégios, inclusive nos fins de semana, para receber R$ 5 mil por mês.
Negros e mulheres tiveram ganhos acima da média
O estudo do Ipea confirma ainda a evolução na renda de negros, pardos e mulheres — que historicamente estão no lado mais prejudicado pela desigualdade do mercado de trabalho.
Estes trabalhadores superaram o ganho médio de renda auferido por brancos e homens.
Entre 2002 e 2008, o aumento no rendimento de pardos e negros chegou a 17,92% e o das mulheres, a 9,25%.
Entre as regiões, a maior alta dos salários foi registrada no Nordeste, de 19,69%, contra 1,96% do Sudeste.
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