Valor Economico (SP)
Captação: Instituições ainda emitiram dívida no exterior; crédito se expandiu na mesma proporção
Aline Lima, de São Paulo
Considerados o calcanhar de aquiles dos bancos de médio porte, os depósitos voltam a mostrar força e a tendência, segundo especialistas, é de que o movimento se mantenha em trajetória crescente. Uma análise da safra de balanços do primeiro trimestre de dez instituições financeiras de capital aberto mostra um aumento médio dos depósitos de 39,6% no período de 12 meses encerrado em março. Entre dezembro de 2009 e março de 2010, a alta foi de 3,6% .
A retomada dos depósitos se deve, basicamente, à melhora do ambiente econômico. Passado o auge da crise imobiliária internacional, tanto os investidores de renda fixa se sentiram mais tranquilos para aplicar novamente nesses bancos como as próprias instituições financeiras ficaram mais motivadas a conceder crédito. Basta verificar o saldo médio das carteiras, que de um ano para cá apresentou expansão de 38,5% - em linha com o crescimento dos depósitos.
O retrato atual dos bancos de médio porte é, nesse sentido, o oposto daquele exibido no início do ano passado. Até mesmo a janela para emissões externas foi reaberta. A nova crise que se alastra pela Europa preocupa, mas ainda não produziu impactos na liquidez do sistema. "Caso ela persista com acuidade, é possível que a janela se transforme em fresta" alerta Milto Bardini, vice-presidente do BicBanco. Mesmo assim, existe uma percepção de que as consequências tendem a ser menos graves em comparação com o enxugamento de recursos visto após a quebra do Lehman Brothers.
Pelo sim, pelo não, os bancos tentaram aproveitar ao máximo as oportunidades de captação externa abertas ao longo dos primeiros meses de 2010. O BicBanco, por exemplo, que apresentou um expressivo aumento dos depósitos entre março do ano passado e março deste ano, de 78,4% (considerando apenas depósitos a prazo e à vista), realizou duas emissões - uma de US$ 275 milhões, em janeiro, e outra de dívida subordinada de US$ 300 milhões, em abril. O banco Pine também foi no embalo e emitiu, em janeiro, US$ 125 milhões em dívida subordinada.
Apesar de as captações externas saírem, em geral, mais caras do que as domésticas, efeito do "hedge" cambial (proteção contra oscilação do preço da moeda estrangeira), um aspecto importante que conta a favor são os prazos mais longos típicos dessas emissões. A atenção dos bancos de médio porte está voltada, hoje, não só ao volume de depósitos, mas também aos prazos. "Os investimentos em infraestrutura dos quais o país carece demandam crédito de longo prazo. Por isso, são necessárias alternativas de captação também de longo prazo", afirma Bardini.
Vale lembrar que, além da escassez de depósitos, os bancos de médio porte sofreram, no auge da crise financeira, com o chamado "descasamento" entre ativos e passivos. Ou seja, o banco captava por um período menor do que o prazo do empréstimo concedido. Boa parte desse problema ocorreu com os bancos voltados para o financiamento de veículos e crédito consignado. "Em meio à onda de resgates, essas instituições se viram obrigadas a honrar CDBs [Certificados de Depósitos Bancários] que, no limite, as levariam à quebra", afirma João Augusto Salles, analista da Lopes Filho.
Para reduzir esse descompasso, o Banco Central (BC) lançou mão, na época, de medidas como redução do compulsório e criou, em abril de 2009, um instrumento financeiro com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE). Daí os esforços dos bancos, agora, em ampliar os prazos dos depósitos, mesmo entre aqueles especializados no atendimento a empresas de médio e grande porte, que têm como principal produto as linhas de capital de giro. O BicBanco testou o mercado de DPGE com uma emissão de R$ 30 milhões em 2009 e retomou com mais força as emissões no primeiro trimestre deste ano, com outros R$ 182 milhões (3,2% dos depósitos a prazo). A última captação teve prazo de cinco anos, numa estratégia de alongamento do passivo da instituição.
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