18.5.10

Crescem as dívidas acima de R$ 5.000

18 de maio de 2010

Folha de S.Paulo (SP)

Aumento do número de brasileiros nessa situação foi de 40% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado

Como a capacidade de pagamento também subiu, o comprometimento de salário ficou no mesmo patamar de 2008 e 2009

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A retomada do crédito no período pós-crise elevou em 40% o número de brasileiros com dívidas acima de R$ 5.000.
Números do Banco Central mostram que o total de consumidores com empréstimo acima desse valor chegou a 25,7 milhões em fevereiro.
Isso significa que cerca de 20% dos brasileiros com mais de 16 anos têm dívidas que equivalem a, pelo menos, quatro vezes a renda média nacional mensal.
Apesar desse aumento no endividamento, os dados do BC também mostram que cresceu a capacidade de pagamento.
O gasto com dívidas compromete hoje 22% do salário do trabalhador brasileiro, uma melhora em relação a 2008 (22,4%) e 2009 (23,7%).
Nesse caso, o BC considera as prestações que estão vencendo e devem ser pagas, e não o estoque total das dívidas.
Ou seja, o brasileiro deve mais, mas o crescimento da sua renda foi maior e ele ganhou mais prazo. Por isso, continua comprometendo praticamente a mesma parcela do salário.
Nos 12 meses encerrados em janeiro deste ano, por exemplo, a massa de salários cresceu 10%, enquanto o pagamento de dívidas (juros e principal) teve uma expansão de 3,4%.
O aumento no total das dívidas é visto pelo Banco Central como "contínuo, porém equilibrado", por estar amparado na expansão do crédito e não na queda da renda.
Além disso, o número de pessoas com dívidas acima de R$ 5.000 cresceu mais do que o valor total desses empréstimos, o que significa diluição do risco.

Alta
De acordo com o último levantamento do SCR (Sistema de Informações de Crédito do BC), houve alta de 17% nessas dívidas, que somavam cerca de R$ 640 bilhões em fevereiro.
Como o número de devedores cresceu mais, o valor médio devido individualmente caiu 15% em relação ao registrado um ano antes, para R$ 25 mil (preço de um carro popular).
Esse comportamento pode ser explicado pela queda nas taxas de juros nos últimos anos e pela formalização do mercado de trabalho.
Houve também um alongamento no prazo dos financiamentos, que passaram de uma média de 180 dias para cerca de 300 dias desde 2003.
As dívidas que mais cresceram nos últimos anos estão relacionadas a empréstimos na faixa entre R$ 50 mil e R$ 500 mil, devido ao aumento no crédito para compra de veículos e imóveis, duas modalidades que possuem prazos mais largos.
Para o economista Aquiles Rocha de Farias, professor do Ibmec-DF, ainda há espaço para ampliação do crédito no país, já que o nível de endividamentos das famílias é menor do que em outras economias emergentes e desenvolvidas.
Ele avalia, no entanto, que é preciso ficar atento aos efeitos colaterais desse crescimento.
"O aumento das dívidas preocupa, pois pode gerar mais inadimplência e as pessoas precisam fazer uma gestão melhor da sua renda. Mas o nosso nível de endividamento ainda é confortável quando se compara com outros países", afirmou.

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