20.11.11

Como castelos de areia




Por Luiz Alberto Machado (*)


“Eu fico feliz ao olhar para a minha mãe,
minha esposa, minha filha e a senhora,
presidente, e dizer: eu sou inocente.”
Orlando Silva
(ex-ministro dos Esportes)


Conversando recentemente com os amigos Roberto Macedo e Paulo Roberto de Almeida, o primeiro economista, o segundo diplomata, ambos articulistas de primeiríssima qualidade, ouvi os dois dizerem algo que não me saiu da cabeça: “Se você tem um título, você tem um artigo”.

Acompanhando o noticiário político e econômico da Europa nas últimas semanas e do Brasil ao longo deste ano, não houve como não me lembrar da referida frase.

Mas, o que há de comum no noticiário europeu nas últimas semanas e no brasileiro ao longo deste ano?

A resposta é que tanto lá como aqui ocupantes de altos postos governamentais caíram, deixando seus cargos até então por muitos considerados inatingíveis e revelando a fragilidade de determinadas estruturas, lembrando verdadeiros castelos de areia, incapazes de resistir às ondas que se desfazem na praia.

E o que há de diferente no noticiário sobre a queda de ocupantes de importantes postos nos governos da Europa e do Brasil?

A diferença é que na Grécia e na Itália, os primeiros-ministros George Papandreou e Silvio Berlusconi foram obrigados a renunciar pela incompetência demonstrada na gestão da economia de seus respectivos países. De forma um pouco diferente, o mesmo já havia acontecido alguns meses antes em Portugal, onde o ex-primeiro-ministro José Sócrates teve que antecipar as eleições diante da situação insustentável em que se encontrava. O mesmo poderá acontecer na Espanha, onde as eleições também foram antecipadas para o dia 20 de novembro e em que as pesquisas eleitorais apontam ampla vantagem para o Partido Popular, que deverá retornar ao poder depois dos oito desastrados anos em que o país foi governado por José Luis Zapatero.

Já no Brasil a queda de inúmeros ministros que posaram ao lado de Dilma Rousseff na foto oficial com a equipe ministerial que assumiu o governo em 1º de janeiro deste ano está relacionada ao envolvimento com diversos esquemas de corrupção. Um após o outro, foram deixando o governo por envolvimento com desmandos e corrupção o reincidente Antonio Palocci, que ocupava a chefia da Casa Civil, e os ministros Alfredo Nascimento, dos Transportes, Pedro Novais, do Turismo, Wagner Rossi, da Agricultura, e Orlando Silva, dos Esportes. O mais recente acusado de também estar envolvido com corrupção é o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Por enquanto, ele está “prestigiado”, jargão utilizado no futebol para técnicos em vias de serem demitidos por seus clubes. Por mais que a presidente Dilma Rousseff procure minimizar os atos de seus ministros chamando-os de “malfeitos”, o povo não se deixa enganar e tem plena consciência de que a rapinagem que culminou com o afastamento dos ministros chama-se “corrupção”.

Nem o que está ocorrendo na Europa nem o que está ocorrendo no Brasil é digno de louvor ou de comemoração. Ao contrário. Ainda que por razões diferentes, a queda de pessoas que ocupam postos relevantes no governo de tantos países é algo a se lamentar e a se refletir.

Nesse sentido, fica a pergunta: o que é pior, a incompetência verificada nesses países europeus ou a corrupção, existente praticamente em todos os lugares e muitas vezes combinada com a impunidade, como bem mostrou o filme Trabalho interno, mas que, no Brasil, é praticada numa escala quase inacreditável?

Fonte: COFECON

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