Valor Economico (SP)
Europa: Investidores temem que país necessite reestruturar suas dívidas
David Oakley, Quentin Peel e Kerin Hope, Financial Times, de Londres, Berlim e Atenas
Os mercados de bônus gregos caíram ontem em meio a temores crescentes entre os investidores de que o país precisará reestruturar suas dívidas, apesar do pacote de ajuda de € 45 bilhões (US$ 60 bilhões) que vai receber da comunidade internacional. Os rendimentos dos bônus gregos de dois anos, que têm uma relação inversa com o preço, subiram 3 pontos percentuais - a maior alta em um único dia desde que o país aderiu ao euro, há nove anos -, para fechar em 13,14%.
Segundo o banco americano Brown Brothers Harriman, esse é o maior rendimento de um título de dívida de curto prazo do mundo. Ele é maior até que o da Argentina, de 8,8%, e o da Venezuela, de 11%, dois países que vêm sendo evitados por muitos investidores internacionais por causa da má administração de suas economias.
Segundo investidores, o mercado de bônus gregos está agora na verdade determinando um "default" do governo, uma vez que os rendimentos dos bônus de dois anos estão mais de 12 pontos porcentuais maiores que os dos bunds da Alemanha, o referencial do mercado na Europa.
O mercado de ações grego caiu quase 3% ontem e o euro recuou em relação ao dólar. Gary Jenkins, diretor de análises de renda fixa da Evolution, disse: "O mercado está indicando um default grego, se não no curto prazo, pelo menos no médio".
Nigel Rendell, estrategista sênior da RBC Capital Markets, acrescentou: "A Grécia está sendo negociada agora como o mais fraco dos mercados emergentes".
Dominique Strauss-Khan, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), e Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), foram solicitados a apresentar amanhã detalhes do pacote de resgate aos membros do parlamento alemão, para a provação destes a possíveis empréstimos à Grécia.
Angela Merkel, a primeira-ministra alemã, também tentou assegurar aos eleitores alemães e os mercados financeiros internacionais de que seu governo vai defender a estabilidade do euro a qualquer custo, insistindo ao mesmo tempo nas condições duras para a concessão de um empréstimo de muitos bilhões de euros para a Grécia. "A Alemanha sente uma obrigação enorme de garantir a estabilidade do euro", declarou ela em um pronunciamento improvisado à imprensa, feito em seu gabinete em Berlim. Merkel disse que assim que o governo grego chegar a um acordo sobre um programa de austeridade e recuperação de três anos com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia, seu governo vai implementar a legislação para apoiá-lo em um empréstimo coordenado a ser fornecido pelos outros 15 países da zona do euro.
Entretanto, os investidores temem que os gregos não tenham estômago para as medidas de austeridade necessária para a recuperação da economia. Ontem, a nova rodada de greves e manifestações teve início com uma passeata de 24 horas organizada pelos sindicatos dos trabalhadores da marinha mercante, que interrompeu os serviços de balsas nas ilhas do Mar Egeu.
O transporte público também será paralisado por seis horas em Atenas hoje, enquanto trabalhadores deverão fazer um protesto contra os cortes de salários e o enxugamento do sistema de transporte da capital. Há também alguns sinais de que a crise grega está se espalhando para outros mercados de bônus periféricos da zona do euro, como Portugal, Espanha e Irlanda. Os rendimentos dos bônus de dois anos portugueses subiram três quartos de ponto para 3,64%, os dos bônus da Irlanda subiram num ritmo parecido, para 2,99%, e os dos bônus espanhóis aumentaram um quarto de ponto para 1,87%.
(colaborou Aline van Duyn, de Nova York)
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