Valor Economico (SP)
Jamil Anderlini e Daniel Dombey, Financial Times
O crescimento das reservas de divisas chinesas desacelerou acentuadamente no primeiro trimestre, proporcionando a Pequim renovadas evidências para seu debate com Washington sobre se vem mantendo o yuan intencionalmente desvalorizado.
As reservas cambiais chinesas cresceram US$ 47,9 bilhões, para US$ 2,447 trilhões, ao final do primeiro trimestre, em comparação com um aumento de US$ 126,5 bilhões no quarto trimestre de 2009, disse o banco central chinês.
Os números foram divulgados quando Hu Jintao, presidente chinês, preparava-se para encontrar-se com Barack Obama na cúpula sobre segurança nuclear em Washington. As conversas entre os dois quase certamente incluiriam uma discussão sobre o regime monetário chinês.
O encontro, cuja realização chegou a ficar incerta durante disputas, neste ano, sobre Taiwan e o Dalai Lama, acontece quando os dois lados parecem estar aprofundando uma cooperação não apenas econômica, mas também envolvendo o empenho dos EUA e aplicar sanções ao Irã.
"O fato de Hu Jintao ter decidido vir é, em si mesmo, um êxito para o governo Obama", disse Michael Green no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington. "O fato é que a China quer fazer parte do consenso internacional sobre questões nucleares e deseja um relacionamento bilateral estável e construtivo com os EUA."
Analistas disseram que a contenção no crescimento das reservas chinesas foi devido principalmente a uma queda de 77% no superávit comercial da China no primeiro trimestre em relação ao mesmo período no ano anterior, para US$ 14,5 bilhões.
A China registrou um déficit comercial de US$ 7,2 bilhões em março, o primeiro em seis anos. Segundo o Ministério do Comércio do país, isso prova que a taxa de câmbio não é o principal fator determinante dos fluxos comerciais.
Políticos e muitos economistas americanos argumentam que Pequim desvaloriza deliberadamente sua moeda para impulsionar suas exportações à custa de empregos e de exportações de outros países que incorrem em grandes déficits comerciais com a China.
"Isso certamente contribuirá para a argumentação de Pequim, mas, independentemente do déficit no mês e da queda no ritmo de acúmulo das reservas, os EUA manterão a pressão, porque grande parte do debate é motivado por considerações de ordem política no Congresso", disse Dong Tao, economista-chefe do Credit Suisse para a China.
Pequim parece estar se preparando para um ajuste iminente em seu mecanismo cambial. Altos funcionários e economistas sugerem que os chineses poderão ampliar a banda de negociação diária e retomar a valorização gradual administrada do yuan, interrompida em julho de 2008 em resposta à crise financeira global.
Mas altos funcionários, entre eles o premiê Wen Jiabao, têm repetidamente dito que Pequim não valorizará sua moeda em resposta a pressões externas. Autoridades chinesas dizem que uma possível mudança (de política cambial) provavelmente seria programada de modo a minimizar a percepção de que os chineses estariam cedendo a exigências americanas.
Os empréstimos de bancos comerciais chineses em março também diminuíram substancialmente para 511 bilhões de yuans (US$ 75 bilhões), bem abaixo das previsões e inferior ao crescimento de 700 bilhões de yuans em fevereiro.
Os novos empréstimos de bancos na China mais que dobraram desde 2008, para 9,6 trilhões de yuans no ano passado, depois que o governo incentivou facilidades na liberação de crédito para evitar o pior da crise financeira global. As agências regulamentadoras vêm gradualmente contendo os bancos estatais desde o segundo semestre do ano passado.
"Os esforços de Pequim para apertar a liquidez e as condições de crédito começaram claramente a produzir um impacto", disse Brian Jackson, do Royal Bank of Canada, em Hong Kong. "Isso reduzirá parte do ímpeto da economia chinesa, mas achamos que as autoridades terão ainda de evitar um superaquecimento."
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