15.4.10

Substituição do dólar é apenas um exercício intelectual, diz Lamy

15 de abril de 2010

Valor Economico (SP)

Assis Moreira, de Genebra

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, chegará nesta sexta-feira à noite ao Brasil sem muito entusiasmo por um dos temas que os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) pode ter discutido pouco antes em Brasília: o uso de suas moedas no comércio entre eles em gradual substituição ao dólar. Em entrevista antes de partir para o Chile, Lamy qualificou a questão de "exercício intelectual" e que o papel do dólar no sistema monetário internacional é um debate de 50 anos.

"Se você olhar a taxa de câmbio dessas moedas (dos Bric), ela é muito mais estável que uma cesta aleatória de outras moedas", afirmou. "Haveria uma expressão política dos países emergentes em optar por isso, eles acham que o sistema monetário internacional devia agir quanto ao dólar. Acredito que é bom investir intelectualmente no que for o sistema monetário internacional adequado em uma economia globalizada. Mas é um exercício intelectual."

Em novembro, a OMC foi bem mais incisiva num texto divulgado como anexo. Primeiro, constatou sinais de "erosão" no papel dominante do dólar no mundo. Estimou que nos próximos cinco anos a economia americana vai crescer menos do que o resto do mundo. E essa divergência de expansão é particularmente importante em comparação com a China e a Índia. Enquanto os EUA continuarão a ser a maior economia do mundo, sua fatia de produção vai declinar. Futuros déficits fiscais americanos e ameaça de inflação por causa da gigantesca expansão monetária na crise podem erodir a confiança no futuro valor do dólar. Mas, diz a OMC, é difícil prever se o dólar será destronado, como ocorreu com a libra esterlina no século XX.

Em todo caso, segundo a OMC, o papel internacional do dólar americano, mesmo se erodido, não vai declinar imediatamente. É que, para o comércio, um sistema monetário internacional com múltiplas moedas em vez de uma dominante significa custos de transação mais elevados e mais incertezas na condução das exportações e importações.

Lamy procurou, porém, driblar a questão de moedas, que está no centro das divergências entre os Estados Unidos e a China, por exemplo, com Washington acusando Pequim de subavaliar sua moeda e agir deslealmente no comércio. "Isso [que o câmbio chinês está desequilibrando o comércio] é o que dirão alguns economistas, mas outros dirão que o câmbio não importa para moldar os fluxos comerciais", comentou.

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