1.6.10

Reajuste fará do minério de ferro o principal item exportado pelo Brasil

01 de junho de 2010

O Globo (RJ)

Volume de receitas deve atingir recorde em maio, superando US$ 2 bi


Ronaldo D’Ercole, Danielle Nogueira e Patrícia Duarte
SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA.

Com o reajuste de preços efetuado pela Vale em abril, o minério de ferro deve se tornar o principal item da pauta de exportações brasileira em maio, estabelecendo também um novo recorde de receitas, acima de US$ 2 bilhões. Um novo aumento de preços não só elevará essa marca mensal, mas proporcionará ao país um superávit substancialmente superior às projeções atuais dos analistas.

— Teremos números surpreendentes, porque pela primeira vez um único item da pauta de exportações vai superar os US$ 2 bilhões em um mês — diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), sobre os números que o Ministério do Desenvolvimento divulga hoje sobre a balança em maio.

Segundo ele, as receitas com exportações de minério de ferro, de US$ 13,2 bilhões em 2009, atingiriam cerca de US$ 22 bilhões este ano, mantidos os preços atuais. Com a perspectiva de nova alta — e supondo-se que ela seja de 30% a partir de julho —, a receita do país com a exportação do minério chegaria a US$ 25 bilhões. A Vale responde por 90% do minério de ferro exportado pelo Brasil.

— Mais do que nunca, o minério de ferro se firma como o principal item da pauta de exportações brasileira.

No fim de 2009, a AEB estimava em US$ 12 bilhões o superávit da balança comercial este ano. Com o reajuste do minério em abril, de 90%, a projeção passou a US$ 20 bilhões.

Siderúrgicas e empresas vão repassar novas altas

Ubirajara Choairi, diretor da área de Veículos e Marketing da fabricante de caminhões e chassis para ônibus Agrale, espera nova queda de braço com os fornecedores de aço por causa do reajuste do minério de ferro.

Segundo ele, parte do reajuste será repassada aos clientes. A Usiminas, que após o reajuste de abril elevou seus preços de 10% a 15%, também fala em repasse. O presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo, afirma que não há como as siderúrgicas absorverem novos reajustes, pois minério e carvão respondem por 50% do preço do aço: — Esse novo modelo de reajustes trimestrais traz muita instabilidade para o setor.

Mas ele não acredita que um eventual reajuste nos preços dos produtos siderúrgicos provoque um efeito cascata em carros e eletrodomésticos. Em simulação feita pelo instituto, um aumento de 20% no aço elevaria em 1,6% o preço de um Gol, por exemplo.

O banco Credit Suisse e a corretora SLW preveem reajustes entre 30% e 35%, o que levaria o preço da tonelada do minério de ferro a entre US$ 142 e US$ 149 a partir de 1ode julho.

Caso as previsões se confirmem, o novo preço será 150% superior ao de 2009 (US$ 56).

A Vale diz que o novo reajuste será automático, mas não revela o índice. O analista de mineração da SLW, Pedro Galdi, vê uma tendência ao preço se estabilizar ou cair no próximo trimestre, devido à provável queda do consumo na Europa. Ele estima que o preço da tonelada do minério feche o ano a US$ 150.

Essa estimativa contribuiu para que, depois de 18 semanas em alta, as projeções de inflação ficassem estáveis na última pesquisa Focus, do Banco Central (BC), divulgada ontem. Pesou ainda a expectativa de alta na Taxa Selic — hoje em 9,50% ao ano — e de acomodação dos preços dos alimentos. A projeção para o IPCA em 2010 permaneceu em 5,67%. Para 2011, ficou em 4,80%. Nas expectativas de 12 meses, o IPCA caiu de 4,81% para 4,76%, mais perto do centro da meta do governo, de 4,5%, para 2010 e 2011.

— Ainda há incerteza sobre a crise europeia, mas pode-se esperar uma acomodação nos preços das commodities — disse o economista-chefe do banco Schaim, Sílvio Campos Neto.

O Focus também manteve a estimativa de que a Selic chegará em dezembro em 11,75% ao ano. Já a projeção para o crescimento da economia brasileira este ano passou de 6,46% para 6,47%.

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