16.6.10

Crise na Espanha estimula ímpeto por reformas

16 de junho de 2010

Valor Economico (SP)

Mark Mulligan, Financial Times

José Luis Zapatero, o premiê espanhol, deverá apresentar hoje ao seu gabinete mudanças muito aguardadas nas rígidas leis trabalhistas do país, que muitos consideram ser essenciais para lidar com a taxa de desemprego de 20%.

O Banco da Espanha (o BC do país) também está procurando meios de acelerar o ritmo da consolidação do setor financeiro. Ele determinou que ontem era o prazo limite para os pedidos das "cajas" - bancos de poupança regionais não registrados em bolsa - para receber capital de um fundo especial criado há quase um ano para incentivar fusões no setor excessivamente aglomerado.

Essas medidas acentuam a forma como a crise da zona do euro vem conferindo uma nova urgência a reformas estruturais na Espanha, onde o governo está sendo pressionado a mostrar que pode reduzir um déficit orçamentário de 11,2%, ao mesmo tempo em que estimula investimentos e reconduz o país à rota do crescimento.

As duas medidas, que se seguem a cortes salariais no setor público, reforma previdenciária, aumento de impostos e outras iniciativas de austeridade, ocorrem no momento em que Zapatero se prepara para a reunião de cúpula da União Europeia em Bruxelas. Especulações sobre planos para um socorro no estilo grego para a Espanha - constantemente negado - transformou a quarta maior economia da zona do euro num tema estratégico à margem do encontro.

Dominique Strauss-Kahn, o diretor-gerente do FMI, visitará a Espanha na sexta-feira para manter conversas sobre a economia com Zapatero, disse o FMI, ontem.

Em tentativa adicional de defender a solvência do país e rechaçar especuladores, autoridades do governo recomendaram a publicação dos resultados dos testes de estresse aplicados a bancos na Europa, sugerindo que eles extinguiriam rumores de resgates soberanos, apesar de fracos vínculos no sistema financeiro.

A Espanha demonstrou ontem que ainda consegue captar recursos a margens razoáveis, vendendo € 5 bilhões (US$ 6,2 bilhões) em notas do Tesouro para 12 meses e 18 meses com rendimentos médios de 2,3% e 2,8% respectivamente, na comparação com 1,6% e 1.95% há um mês.

Bancos espanhóis mais fracos e algumas companhias, no entanto, estão enfrentando dificuldades para acessar os mercados de capitais. Francisco González, presidente do conselho de administração do BBVA, segundo maior banco espanhol, disse na segunda-feira que os mercados continuavam "fechados" para muitos. Salvador Alemany, presidente do conselho do Abertis, conglomerado espanhol do setor de infraestrutura, confirmou ontem que a elevada percepção de risco tornou mais difícil para as companhias tomar crédito ou levantar capital. "Naturalmente, não é tão fácil obter financiamento agora", ele disse, durante uma conferência de negócios.

Instituições frágeis ou de pequeno porte não só foram eliminadas dos mercados de bônus, como estão tendo negados os recursos de curto-prazo necessários para operações diárias, segundo algumas fontes. Isso levou no mês passado ao uso desproporcional das operações de liquidez regulares do Banco Central Europeu.

Além da opinião dos observadores externos sobre o risco soberano, e do pesado endividamento das famílias e do setor privado, a saúde de grande parte das instituições de crédito não listadas em bolsa do país se deteriorou verdadeiramente nos anos recentes. Apesar de ter sido poupado do pior da crise do "subprime" (empréstimos hipotecários de alto risco) dos EUA, as cajas ficaram pesadamente expostas à bolha da habitação da Espanha imediatamente antes da sua explosão e desde então têm sido enfraquecidas pela recessão mais ampla.

O banco central, enquanto isso, interveio para resgatar duas instituições de crédito - Caja Castilla La Mancha e CajaSur -, enquanto a maioria das 44 remanescentes estão em vários estágios de processo de fusão.

O prazo final de ontem para apresentar planos de fusão significa que em breve o banco central terá condições de estipular quanto dinheiro precisará desembolsar do chamado Fundo para Reestruturação Bancária Ordenada. Ele já foi capitalizado em € 9 bilhões, ampliáveis a um total de € 99 bilhões por meio de emissão de bônus e outros tipos de captação de recursos.

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