5.3.10

Grécia tem êxito em emissão de títulos

05 de março de 2010

Folha de S.Paulo (SP)

Anúncio de novo pacote fiscal reanima investidores, e país consegue captar 5 bi no exterior com taxas de juros mais baixas

Apesar da procura três vezes maior pelos papéis gregos, país ainda paga o dobro dos juros dos títulos da Alemanha e mais que Portugal e Brasil

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Se o teste para a Grécia era o mercado, o país à beira do colapso parece ter passado, pelo menos num primeiro momento. No vácuo do aparente otimismo com seu novo pacote fiscal, Atenas vendeu ontem 5 bilhões (R$ 12,1 bilhões) em bônus de dez anos -e a demanda foi três vezes maior.
O ágio sobre os papéis recuou discretamente, mas continua alto: 6,25%, ou dois pontos a mais do que os de Portugal, outro país na linha de tiro dos investidores. A taxa é o dobro do que paga, por exemplo, a Alemanha, a maior economia do continente, mas cujo deficit orçamentário, ainda que metade do grego, estoura o teto imposto pela União Europeia.
A Grécia também paga mais que o Brasil para captar recursos. Na mais recente emissão de títulos brasileiros no exterior, os juros pagos foram de 4,75% ao ano, a taxa mais baixa da história para uma dívida com prazo de dez anos.
O êxito da Grécia ontem foi lido por analistas e pelo governo grego como um aval ao novo pacote de medidas fiscais, anunciado na quarta, que prevê reduzir em 30% o 13º e o 14º salários dos servidores, subir impostos sobre mercadorias e congelar pensões, entre outros.
Com o novo ajuste, Atenas espera economizar 4,8 bilhões -ou 2% de seu PIB- e satisfazer a Comissão Europeia, que havia considerado seu plano anterior bom, mas insuficiente para a meta de cortar 75% de seu deficit orçamentário de 12,7% do PIB até 2013, quatro pontos só neste ano.
A União Europeia elogiou, e, consequentemente, os mercados mostraram confiança. "Nossa crença é que essas medidas, e o apoio da UE a elas, asseguram que a Grécia conseguirá se financiar em condições aceitáveis por ora, mesmo que não haja um apoio europeu mais explícito", diz o banco americano JPMorgan em relatório a investidores. "Apoio explícito" é alusão a um anúncio efetivo de resgate, com data e valores, algo que a UE protela.
A Grécia tem mais 50 bilhões em dívida para rolar neste ano, e 23 bilhões vencem até o meio de maio.
Hoje, o premiê grego, George Papandreou, reúne-se em Berlim com a chanceler alemã, Angela Merkel. A Alemanha, e a França em menor escala, é vista como o provável fiador da dívida grega em um pacote que deve combinar ajuda direta dos governos à compra de títulos gregos por bancos privados.
Atenas já ameaçou ir ao FMI -o que soaria como um atestado de inépcia da UE- se não receber ajuda na vizinhança.
Mas a população alemã, bem como a maior parte dos políticos do país, é contra o resgate -84%, segundo pesquisa da BBC. Ontem, a capa do tabloide alemão "Bild" aconselhava os gregos a venderem suas ilhas para evitar a moratória.

--------------------------------------------------------------------------------
Colaborou a Sucursal de Brasília

Nenhum comentário: