5.7.10

Nova recessão já é uma ameaça no horizonte

05 de julho de 2010

Valor Economico (SP)

Financial Times

A crise econômica está longe de ter acabado. Crescem as evidências de que as forças recessivas que dirigem a economia mundial ainda não foram dominadas. A balança de risco pende na direção de uma nova recessão. O crescimento lento atual mais se assemelha a um surto temporário que à arrancada rumo a uma sólida recuperação.

A parada repentina que a economia mundial experimentou no fim de 2008 levou as empresas a reduzir sua produção, mas elas tiveram uma reação exagerada e logo começaram a ficar sem estoques. Assim, ainda que o crescimento subjacente estivesse anêmico, as companhias foram rapidamente obrigadas a elevar os seus níveis de produção em seguida, visando recuperar terreno.

Isso é mais claro nos EUA, onde o ciclo de estoque tem sido especialmente pronunciado. Nos dois trimestres passados, a produção nacional cresceu a uma taxa aparentemente robusta, mas dois terços do aumento no PIB foram compostos por reposição de estoques.

O consumo privado e as exportações têm sido fracas - e nenhum deles está ganhando ímpeto. Levantamentos com fabricantes têm registrado desacelerações no ritmo de novas encomendas locais e do exterior. A dispensa de recenseadores promovida pelo governo dos EUA ficou evidente nas estatísticas do mercado de trabalho.

Esta não é a única área em que o setor público está obstruindo a economia dos EUA. Os orçamentos dos Estados começaram a pesar sobre a produção em meados de 2009. O peso dos cortes eclipsa agora o aumento dos gastos federais. A política de aperto nos EUA deverá se acelerar. O Fundo Monetário Internacional espera que o país corte o seu déficit em 2,7 pontos do PIB no próximo ano.

Poucos governos estão se contraindo tão rapidamente como os EUA. Mesmo os governos de fala grossa da zona do euro, perturbados pelos mercados de bônus, só estão planejando contrações equivalentes a 0,7% da produção. Mas tudo isso pesa sobre o crescimento. As grandes economias avançadas deverão sofrer aperto de cerca de 1,9 ponto do PIB nesse ano.

Na China, esses fatores - política monetária mais rigorosa e fraca recuperação global - já estão sendo sentidos. O índice dos gerentes de compras do HSBC para o país revela que a recuperação estancou e a produção industrial esta começando a cair. A recuperação global, em todo caso, não deve ser impulsionada por esse país ainda pobre.

A economia mundial ruma na direção de um período de política de aperto fiscal e (se o crescimento não decolar) de política monetária ultraflexível. Os mercados futuros denotam que as taxas de juros dos EUA não subirão antes do segundo trimestre do próximo ano - e os investidores nesses mercados tendem a ser exageradamente otimistas a respeito da recuperação.

A economia global poderá se safar desse atoleiro, mas os governos precisam ser flexíveis: os perigos estão se avolumando do lado negativo. Poderemos escapar de outra rodada de recessão, mas não podemos mais dar isso como favas contadas.

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