Valor Economico (SP)
Por dentro do Mercado
Eduardo Campos
Mesmo que ainda existam incertezas sobre a trajetória da inflação e o ritmo de desaceleração da atividade doméstica, o mercado de juros futuros acena, cada vez mais, com um aumento nas apostas de que o Banco Central (BC) fará um ciclo de alta de juros menor do que o previsto anteriormente.
"Estamos entrando em um cenário alternativo, que pode levar o BC a fazer um ciclo menor de alta de juros", resume o sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi.
Ainda de acordo com o gestor, já é possível verificar alguns bancos montando estratégias com contratos de juros futuros que contemplam mais uma alta de 0,75 ponto percentual, na reunião da semana que vem, e um aperto final de 0,5 ponto em setembro.
Com isso, o ajuste total ficaria em 275 pontos-base, com Selic a 11,50%. Vale lembrar que no começo do ano investidores falavam em Selic a 13% e até mais do que isso.
Na visão do economista-chefe para o Brasil do Barclays, Marcelo Salomon, o mercado passa a precificar a perda de dinamismo da economia doméstica, algo que começa ganhar contorno mais definido, e o movimento de baixa da inflação. "Essa conjuntura faz o mercado olhar para a política monetária com olhos menos ansiosos, esperando um ciclo menor de alta de juros", disse.
Salomon ressalta que não revisou seu prognóstico para alta de juros agora em 2010. O economista espera mais duas elevações de 0,75 ponto na Selic, o que resultaria em taxa básica de 11,75%. Para efeito de comparação, o último boletim Focus mostra mediana em 12%, recuando de 12,13%.
Ainda de acordo com o economista, um fator determinante para a política monetária não só do Brasil, mas de outros países da América Latina e do mundo, é a forma como os choques externos vão promover uma aceleração ou desaceleração da economia global.
Salomon lista três fontes primárias de incerteza externa. Primeira, a possibilidade de perda de força da economia americana. Segunda, a economia da China respondendo às medidas de contenção de crescimento. E terceiro, o risco de algum evento envolvendo o sistema financeiro europeu.
"Essas três incertezas não vão se dissipar no curto prazo e, quanto mais o mercado precificar desaceleração, tanto menor será o aperto também em outros países", diz o especialista, exemplificando que não espera mais uma alta de juros nos EUA em 2010.
Olhando agora para o câmbio, Salomon trabalha com uma banda de oscilação para o real com piso em R$ 1,75 e teto entre R$ 1,90 a R$ 2,00.
E o que alimenta essa possibilidade de depreciação da moeda brasileira são os mesmo três fatores de incerteza externa, listados acima, aliados ao calendário eleitoral.
Para o economista, falta uma indicação mais clara dos candidatos com relação à condução da política econômica. "Como vamos nos aproximando das eleições e esse tipo de postura é cobrada pelo mercado, não é possível descartar um movimento de apreciação do real", explica.
Salomon pondera, no entanto, que tal desvalorização da moeda não seria sinal de estresse por causa de um novo governo. "Vejo mais como um cenário de cautela, já que o mercado tem que entender um pouco mais o que acontecerá para frente."
Olhando para o pregão de ontem, o dólar comercial teve leve alta de 0,22%, para R$ 1,765. Mas o fato é que pelo quarto dia consecutivo a moeda não foi nem abaixo nem acima da linha de R$ 1,76.
Eduardo Campos é repórter
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