30.4.13

País tem pior superávit primário para março em 3 anos


Segundo Banco Central, setor público registrou superávit primário de R$ 3,500 bilhões de reais no mês passado

Homem passa pelo edifício do Banco Central em Brasília

Brasília - O setor público brasileiro registrou superávit primário de 3,500 bilhões de reais no mês passado, informou o Banco Central nesta terça-feira, o pior resultado para meses de março desde 2010.
O número foi pior que o esperado por analistas consultados pela Reuters, cuja mediana apontava saldo positivo de 5,6 bilhões de reais.
Em 12 meses até março, a economia feita para pagamento de juros foi equivalente a 1,99 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
Os governos regionais (Estados e municípios) garantiram a maior parte do primário de março, com superávit de 2,143 bilhões de reais. Já o governo central --governo federal, BC e INSS-- registrou saldo primário positivo de 1,059 bilhão de reais no período, enquanto que as estatais, 298 milhões de reais.
O BC informou ainda que o déficit nominal do país somou 15,859 bilhões de reais no mês passado, enquanto a dívida pública representou 35,5 por cento do PIB.
Em março, as contas públicas do país foram afetadas pela arrecadação federal, que registrou queda de quase 10 por cento sobre um ano antes, somando 79,613 bilhões de reais. O resultado veio da economia ainda sem sinais de recuperação mais robusta e pelas desonerações fiscais feitas pelo governo.
Diante desse quadro, recentemente o governo encaminhou ao Congresso medida que flexibiliza ainda mais a meta de superávit primário deste ano --definida em 155,9 bilhões de reais-- e de 2014. Por meio dela, os Estados e municípios poderiam abater seus investimentos da meta que cabe a eles, de 47,8 bilhões de reais em 2013.
Antes dessa medida, o governo havia anunciado no início do ano que poderia abater até 65 bilhões de reais em gastos com investimentos e desonerações da meta cheia de superávit primário do setor público consolidado.

Exportações brasileiras de celulose caem 4,9%


Na comparação com fevereiro, o indicador encolheu 4,5%, de acordo com dados preliminares divulgados pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa)

Plantação e corte de eucaliptos da Suzano de Papel e Celulose

São Paulo - As exportações brasileiras de celulose movimentaram 759 mil toneladas em março, volume 4,9% inferior ao registrado no mesmo período de 2012.

Na comparação com fevereiro, o indicador encolheu 4,5%, de acordo com dados preliminares divulgados nesta terça-feira pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa).
A indústria brasileira encerrou o primeiro trimestre com vendas totais de 2,189 milhões de toneladas de celulose destinadas ao mercado externo, uma queda de 1,5% em relação ao mesmo intervalo de 2012.
A receita brasileira com as exportações de celulose somou US$ 1,176 bilhão (preço FOB) no trimestre, uma expansão de 0,8% na comparação com os três primeiros meses de 2012.
A alta, em oposição à queda do volume exportado, é explicada pelo reajuste de preços aplicados nos últimos meses - foram dois aumentos, em janeiro e março.
O principal destaque dentre os mercados consumidores da celulose brasileira é a China. As vendas para o país asiático somaram US$ 390 milhões, uma expansão de 14% no trimestre.
As vendas para a América do Norte também tiveram alta, de 8,2%, e somaram US$ 210 milhões. As exportações para a Europa, por outro lado, encolheram 9,4% e somaram US$ 471 milhões. A produção brasileira de celulose cresceu 1,8% no primeiro trimestre e atingiu 3,587 milhões de toneladas.
As vendas domésticas cresceram 2% na mesma comparativa, alcançando 416 mil toneladas.

As mudanças no Fundo Monetário Internacional


Divulgado no final da semana passada, o ultimo relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) traz um balanço amplo da economia internacional.
A principal conclusão do relatório é sobre as discrepâncias no ritmo de recuperação  das diversas economias. Para se obter crescimento sustentado e equilibrado, constata o relatório, há a necessidade de que o ritmo de recuperação seja similar em todos os países, que seja inclusivo e fundado na economia verde.
Em relação ao ritmo de recuperação, o Fundo identifica três grupos de países distintos.
O Grupo 1 é formado pelos mercados emergentes. Para eles, o Fundo recomenda reconstruir o espaço público e reforçar a regulação e a supervisão financeira. Os de baixa renda devem focar suas políticas na construção de infraestrutura e nas políticas sociais.
O Grupo 2 tem os Estados Unidos. O FMI considera que foi evitado o precipício fiscal – decorrente do impasse entre o Congresso e o Executivo. Mas que o país precisa acertar o ritmo do ajuste fiscal, melhorando a sua qualidade.
O Grupo 3 é a Zona do Euro. Considera-se que muitas medidas foram tomadas em curto espaço de tempo. Mas há a necessidade de maior saneamento bancário e de se avançar na união bancária, de maneira a fortalecer o sistema bancário contra a contaminação. Também considerou positivo o afrouxamento monetário no Japão e os planos do país de reduzir a dívida pública e promover reformas estruturais para conferir maior eficiência à economia.
***
O principal alerta do trabalho é quanto aos riscos do setor financeiro, que ainda não foi completamente saneado. E faz um alerta até agora pouco escutado: os ajustes precisam manter a equidade, protegendo os segmentos mais vulneráveis da população e promovendo o crescimento e o emprego. Os ajustes precisam ser justos, para terem legitimidade política.
***
Uma das grandes ameaças trazidas pela crise seria a fragmentação das ações nacionais, comprometendo a cooperação. Como se recorda, o agravamento da crise de 1929 – que acabou levando à Segunda Guerra Mundial – se deveu às guerras comerciais e cambiais entre países.
***
Agora, há um monitoramento permanente sobre os riscos iminentes, as correias de transmissão capazes de provocar efeitos em cadeia nos diversos países. A grande mudança do banco foi a criação de um Relatório do Setor Externo, destinado a dar uma visão mais prospectiva em relação às contas externas dos diversos países, acabando com a miopia de centrar todos os diagnósticos na questão fiscal.
São curiosas as mudanças que a crise trouxe ao Banco. Antes, havia receita única para os diversos países. Para qualquer problemas com as contas externas, o único remédio receitado era o ajuste fiscal. Ele teria que ser suficientemente profundo para reduzir as importações e gerar excedentes para exportação, fossem quais fossem as consequências sobre emprego, renda e crescimento.
Agora, o discurso do Fundo enfatiza a importância do diálogo e da persuasão e a análise das circunstâncias específicas de cada país.
Principalmente, visa analisar o impacto de mudanças cambiais de um país sobre os demais, além de criar um quadro de consultas multilaterais.

Querem frear o Brasil

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.   Foto: Antônio Cruz / ABr


Diz-nos o Sr. Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, que “A saída[da ‘crise’] é frear a economia. É demitir mesmo”. Dizem os ‘economistas’ midiáticos, catados a dedo pelos jornalões para confirmarem seus editoriais, que, ‘com esse nível de emprego’ (e aí repousa o cerne da história), a inflação vem a galope, e se é assim,  a única coisa a fazer é subir os juros e  promover o desemprego  para que o consumo caia. Ou seja, desmontar a política que reduziu os efeitos da crise do capitalismo internacional e realizou a mais importante distribuição de renda conhecida entre nós. Demitir, afastar de vez a ‘ameaça’ do pleno emprego com que sonha a sociedade sadia. Esta é a pérola do pensamento neoliberal, reduzindo a vida da nação aos seus índices macroeconômicos, gasto público, juros, inflação etc., donde o aumento da taxa de juros real, produzindo menor taxa de inflação, menor PIB e maior desemprego.  Com esse programa recessivo os economistas midiáticos vão ao orgasmo. Povo, como dizia a desterrada Zélia, é apenas um ‘detalhe’, a política é um estorvo, as metas estratégicas, em país que renuncia ao seu destino histórico, uma fantasia, administrada pela tecnoburocracia financeira estatal, preparando-se para o grande salto da gerência privada.
Se o desemprego e a fome, a insegurança e o caos social são admissíveis, e são fenômenos puramente estatísticos para essa tecnoburocracia, enquanto uma reles  inflação sazonal é inadmissível, aumentar o desemprego é a alternativa que retiram de seus manuais mal-traduzidos, o cediço receituário do monetarismo jurássico que ora destrói a Europa. A última decisão do Copom revela que a cantilena do mercado, tonitroada pelos jornalões, voltou a impor-se no BC, quebrando o viés de baixa inaugurado pela presidente Dilma. Sim, a questão é um pouco mais profunda. Não se trata, apenas, do injustificado aumento de 0,25%, mas do risco de um aumento, que poderia ser episódico, transformar-se em tendência, por exigência da mesma ideologia que comandou o BC nas últimas décadas.
Eis o que nos dizem: é preciso aumentar os juros, pois é preciso diminuir o consumo, o pai e a mãe da inflação, e para diminuir o consumo é preciso desaquecer o mercado de trabalho. O grande vilão desta feita é ‘o crescimento do poder de renda da população’ pressionando os salários no setor de serviços (Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda).
Mas, como amaldiçoar o consumo, se não há excesso de demanda em relação à oferta, numa economia que no último ano cresceu miserável 0,9%, depois de haver crescido em 2011 apenas 2,7%, abaixo do crescimento médio mundial (de um mundo em crise) de 3,9% em 2011 e 3,12% em 2012?  Os economistas midiáticos que ridicularizam o PIB de 0,9%  – por eles chamado de  ‘pibinho’ — vêm agora nos dizer que a economia precisa ser esfriada! Na verdade, as pitonisas da tragédia sempre na esquina se assustam com a perspectiva de o país crescer 3% em 2013, ainda abaixo dos 3,1% previstos (FMI) para o crescimento mundial. Somos o único país do mundo que não pode crescer acima de 3% a.a. e ter juros baixos. Só os nossos monetaristas estão certos, todo o resto do mundo, como os chineses, é incompetente. Viva a Espanha, viva Portugal, viva a Grécia, que, a despeito de conviver com a fome de suas crianças (The New York Times International Weekly/FSP, 29.4) anuncia  mais 15 mil demissões no serviço publico (O Globo 29.4).
Lá, naqueles países, aprofundar a recessão é o remédio que o FMI receita para a recessão, e assim ele caminham num crescendo de pobreza. No Brasil, para combater uma pressão de demanda que só eles vêem, os saudosistas do FMI receitam o desemprego (leia-se, a estagnação econômica). Mas, como falar em pressões de demanda, se a economia brasileira registra crescimento fraco?
Bem, dirá o banqueiro, dizem os jornalões, haja ou não excesso de demanda, há inflação, e se há inflação é preciso anular a pressão dos salários, que crescem mais do que a produtividade.
Agora querem deter o crescimento econômico, mínimo, repita-se sempre, para combater a inflação.
Mas de qual inflação fala o sistema financeiro, se em nosso país ela está em queda desde o início do ano? É só conferir: janeiro, 0,86%; fevereiro, 0,60% e março, 0,47%. A inflação está em queda e a queda é tendencial, independentemente do BC. Explica-se: o mundo é deflacionário em commodities; os preços dos alimentos (responsáveis por 76% da inflação) começam a cair; o governo continuará desonerando produtos, de que resulta a redução de custos e dos preços ao consumidor, e permanecerá utilizando as importações como um regulador de mercado. E com  juros mais baixos o governo  gasta menos com o pagamento dos juros da dívida pública.
Em artigo recente (‘Inflação’, FSP, 25.4.13) Marcelo Miterhof demonstra que nada justifica a recente alta dos juros (que afronta uma das principais conquistas do atual governo) para combater uma inflação sabidamente irrelevante porque cadente e sazonal, pois decorrente: 1) da queda da safra agrícola (mais precisamente reduziu-se a produção de alimentos em benefício dos produtos exportáveis) associada à elevação dos preços das commoditiesagrícolas no exterior, impactando os preços, sim, mas  apenas temporariamente; 2) do aumento dos fretes, decorrente principalmente das mudanças regulatórias de 2012 (restrições à emissão de poluentes dos caminhões e limitação das jornadas dos caminhoneiros); e 3) da desvalorização do câmbio, positiva para competitividade, e  ‘de efeitos limitados no tempo sobre a inflação’.
De nada vale, porém,  o grito da realidade, pois a visão ideológica da banca, a serviço da qual estão os jornalões, é insensível: os salários precisam crescer menos, donde a elevação do desemprego, quando a nação que produz festeja um quase pleno-emprego (5,4% da desocupação em janeiro, segundo o IBGE), talvez a mais importante conquista de nosso povo em toda a vida republicana. Na contramão da história, a elevação dos juros prejudica a retomada econômica (quem está satisfeito com os 0,9%, além dos banqueiros?), gera mais despesa com juros no governo federal e compromete o futuro do país.
A presidenta Dilma tem declarado – e para isso precisa de nosso apoio, e uma forma de apoiá-la e combater a recidiva altista — que não sacrificará o crescimento da economia e o desenvolvimento social (sem o que não haverá nada, nem sociedade, nem povo, nem nação, nem país) para combater a inflação. Mas, graças à última reunião do Copom, reconquistamos (para gáudio dos Itaú, Bradesco, Citi e quejandos) a triste liderança do maior juro nominal do mundo. Precisamos ajudar a presidente para que esse aumento inoportuno não se transforme numa tendência no BC, porque o fim do padrão de juros altos permanece sendo um dos grandes legados do atual mandato.
Ao fim e ao cabo, não há uma só justificativa para o aumento dos juros, senão a de atender aos reclamos da banca: ganhar mais dinheiro na ciranda financeira, mais precisamente na aplicação em títulos públicos indexados à Selic. A conta será paga por nós, os contribuintes.
O governo Dilma precisa estar consciente da armadilha que lhe prepara o pensamento conservador. E precisa, principalmente, reagir.

Tiro no pé
A chamada crise entre o Congresso brasileiro, avacalhado pelo seu próprio comportamento, e o Judiciário, incensado e açulado pelos mesmos jornalões que denigrem o Congresso, tem um agente provocador e seu nome é  ministro Gilmar Mendes, aquele que inventou estar sendo grampeado, tentou denegrir a honra do ex-presidente Lula e agora, em ato conscientemente injurídico, intervém, monocraticamente, em autos de medida liminar,  na pauta do Senado, para impedi-lo de apreciar determinado projeto de lei aprovado na Câmara. Os que hoje tanto falam em ‘respeito entre os três poderes’ escondem de seus leitores que sempre  foi um dogma do Direito Constitucional brasileiro o respeito às deliberações internacorporis do Congresso. A concessão da liminar constitui inominável abuso de poder. Essa provocação do ministro Mendes, é grosseira represália a um nada, pois é um nada a Comissão de Constituição e Justiça aceitar ‘a admissibilidade’ (sem importar qualquer juízo de mérito) de um projeto-de-lei, polêmico ou não. Pois é apenas isso o projeto do deputado Nazareno Fonteles: uma proposta em andamento, seguindo o circuito determinado pelo Regimento Comum. Protesta-se contra uma proposta parlamentar dentro do âmbito congressual, e silencia-se, silenciam os jornalões diante da intromissão do STF pelas mãos de um de seus ministros. Pensemos no inverso: o Congresso proibir o pleno do STF de apreciar determinado processo.
Mas o pior de tudo é que a liminar acatada pelo ministro Mendes foi interposta por um senador da República, e, assim, uma vez mais, e não mais pela última vez, lamentavelmente, é o próprio Congresso, incompetente para decidir ele mesmo suas querelas, que apela para o STF, provoca sua ingerência, para depois chorar a dignidade perdida.


26.4.13

Novo estudo aponta erros em 'base científica' das políticas de austeridade


Argumento de que há uma relação perniciosa entre alta dívida pública e crescimento do PIB, encampado por políticos conservadores, começa a ser derrubado na academia. Economistas da Universidade de Massachusetts acabam de publicar estudo que invalida os achados estatísticos de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart (foto), os 'papas' daquela teoria.

O influente estudo de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart sobre a relação negativa entre dívida pública e crescimento, publicado originalmente em 2010 na American Economic Review e com a versão preliminar no NBER, acaba de ser desbancado por economistas da Universidade de Massachusetts em Amherst. 

O estudo de Rogoff e Reinhart foi base para o também livro best seller “This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly”. O argumento dos autores é o de que há uma relação perniciosa entre alta dívida pública e crescimento do PIB, o que foi imediatamente encampado por políticos conservadores como justificativa científica para os programas de austeridade fiscal. 

Mas outro recente estudo de Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin acaba de invalidar os achados estatísticos de Rogoff e Reinhart ao mostrarem que estes cometerem “erros” básicos de metodologia, além de “erros” ao utilizarem funções no Excel. Pior ainda, o “erro” de Rogoff e Reinhart no Excel alterou por completo a principal conclusão do estudo de que países com relação dívida pública sobre PIB acima dos 90% sofrem, em média, crescimento negativo.

A história é a seguinte. Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, professores de Harvard, queriam avaliar a relação entre crescimento do PIB e dívida pública. Mas como ambos pesquisadores tem um viés ideológico evidentemente conservador, lhes interessava encontrar uma correlação negativa entre a razão dívida pública sobre PIB e a taxa de crescimento médio do PIB. E este foi o resultado que eles de fato encontraram ao analisarem vários países em várias décadas.

Rogoff e Reinhart separam os países em quatro subgrupos de acordo com a relação dívida pública sobre PIB: (1) abaixo de 30%; (2) entre 30% e 60%; (3) entre 60% e 90%; (4) acima de 90%. E perceberam que o crescimento médio do PIB era negativo (-0.1%) para os países no grupo com índice de dívida sobre PIB acima de 90%. Concluíram então que o acúmulo de dívida pública ocorre em detrimento do crescimento econômico. 

Rogoff e Reinhart não escreveram que há uma relação causal entre dívida e contração econômica. Limitaram-se a postular a correlação, sem implicar qualquer causalidade. Mas o faziam em entrevistas para jornais e para a televisão. Fora do mundo acadêmico, Rogoff e Reinhart afirmavam que de fato há uma relação causal entre dívida e retração do crescimento. 

Nada mais propício para os austeros de plantão que ansiavam por uma justificação científica e objetiva para a contração fiscal e redução da relação dívida-PIB. O achado foi utilizado diversas vezes no congresso dos EUA tanto por senadores como por deputados como prova cabal de que o governo deveria cortar gastos, em especial os gastos sociais.

Mas havia uma pedra no meio do caminho. O primeiro problema foi que vários outros economistas tentaram replicar os resultados de Rogoff e Reinhart, todos sem sucesso. Até que os autores tiveram que liberar seus dados e cálculos para dois economistas da Universidade de Massachusetts em Amherst, nomeadamente Michael Ash e Robert Pollin, os quais deixaram Thomas Herndon, colega de doutorado em economia, encarregado de checar os cômputos. 

Resulta que Herndon descobriu que Rogoff e Reinhart tinham cometido “erros” básicos ao utilizarem o Excel para calcular médias de crescimento do PIB, além de utilizarem pesos injustificáveis para as observações. No estudo original, Rogoff e Reinhart excluem arbitrariamente algumas observações cruciais e ainda dão o mesmo peso para observações de uma década e uma observação de um simples ano, o que acaba por viesar os resultados a favor da conclusão de que mais dívida se correlaciona com menor crescimento:

“We replicate Reinhart and Rogo ff (2010a and 2010b) and nd that coding errors, selective exclusion of available data, and unconventional weighting of summary statistics lead to serious errors that inaccurately represent the relationship between public debt and GDP growth among 20 advanced economies in the post-war period. Our finding is that when properly calculated, the average real GDP growth rate for countries carrying a public-debt-to-GDP ratio of over 90 percent is actually 2.2 percent, not -0.1 percent as published in Reinhart and Rogoff . That is, contrary to RR, average GDP growth at public debt/GDP ratios over 90 percent is not dramatically diff erent than when debt/GDP ratios are lower. We also show how the relationship between public debt and GDP growth varies signi ficantly by time period and country. Overall, the evidence we review contradicts Reinhart and Rogoff ’s claim to have identifi ed an important stylized fact, that public debt loads greater than 90 percent of GDP consistently reduce GDP growth.”

Rogoff e Reinhart, em bom português, usaram uma metodologia altamente duvidosa com exclusão seletiva de dados, manipulação injustificável dos pesos e, pior ainda, erro nos códigos das médias. Se corrigidos, os resultados apontam que países com relação dívida-PIB acima de 90% crescem em média 2.2% ao ano, e não -0.1%. 

O achado de Herndon, Ash e Pollin já ganhou repercussão internacional. Artigos no New York Times (aqui também), Businessweek, Financial Times, blog do Krugman (aqui, aqui, e aqui), Wall Street Journal, Bloomberg, Guardian etc. deram publicidade global para o fato de que as conclusões favorecendo a austeridade fiscal se assentavam sobre cálculos equivocados. Resulta que agora Rogoff e Reinhart já admitiram publicamente o “erro” (aqui também), mas não abrem mão do argumento de que a contração fiscal é necessária para obter maior crescimento. Bom, neste caso a ideologia da direita vence a realidade.

No final das contas, se utilizarmos os dados corretamente, haveria correlação entre dívida e crescimento? Em gráfico obtido por Herndon, Ash e Pollin, os autores utilizam todos os dados para todos os países e anos originalmente usados por Rogoff e Reinhart. Aparentemente há uma correlação negativa entre dívida pública e crescimento. Mas esta correlação é mera aparência, afinal a qualidade do ajuste (fitness) da regressão é muito baixa. Vejam como as observações se espalham ao redor da regressão, com R-quadrado = 0.04.

Uma questão central é o problema da causalidade. É o aumento da dívida que causa baixo crescimento, ou o baixo crescimento do PIB que causa aumento da dívida pública? O estudo original de Rogoff e Reinhart sugeria uma correlação, não causalidade. Mas o argumento foi tomado pelos políticos como uma evidência que maior endividamento causa menor crescimento. Mas não poderia haver causalidade reversa com baixo crescimento causando aumento da dívida pública? A teoria keynesiana nos fornece fortes razões teóricas para crer que a causalidade vai do baixo crescimento para o aumento da dívida pública.

Outro problema é o do significado da razão estoque sobre fluxo. Ao medir dívida pública sobre PIB estamos medindo o estoque total da dívida (em dólares) sobre o fluxo de valor agregado em um ano (em dólares por anos), o que nos deixa com um número puro por ano. Além disso, por que usar 1 ano como referência de tempo para a dívida pública? Por que não 10 anos? Não há nada especial em utilizar dívida por ano como um bom indicador de endividamento, pois muito desta dívida é de longo prazo.

“After all, debt (which is measured in currency units) and GDP (which is measured in currency units per unit of time) yields a ratio in units of pure time. There is nothing special about using a year as that unit. A year is the time that it takes for the earth to orbit the sun, which, except for seasonal industries like agriculture, has no particular economic significance.” – Robert Shiller

A retratação pública de Rogoff e Reinhart se resume ao argumento de que se a análise não reflete a realidade, pior para a realidade.

“Reinhart and Rogoff have admitted to a “coding error” in the spreadsheet that meant some countries were omitted from their calculations. But the economists denied they selectively omitted data or that they used a questionable methodology. [...] Reinhart and Rogoff, however, say their conclusion that there is a correlation between high debt and slow growth still holds. “It is sobering that such an error slipped into one of our papers despite our best efforts to be consistently careful,” they said in a joint statement. “We do not, however, believe this regrettable slip affects in any significant way the central message of the paper or that in our subsequent work.” - NYT

Ambos continuam a defender abertamente o ajuste recessivo via políticas de austeridade fiscal como solução para o baixo crescimento. Cabe então indagar sobre quem se beneficia com as políticas de austeridade.

Adendo:

Para aqueles que estiverem interessados em uma análise econométrica da relação entre crescimento e dívida pública, recomendo o excelente e curto artigo preparado por Arin Dube, também professor da UMass Amherst. Dube invalida a ideia de que mais dívida leva a menor crescimento, mostrando justamente o contrário: é o baixo crescimento do PIB que leva ao aumento do quociente dívida pública sobre PIB. O problema é o baixo crescimento, não a alta dívida.

OMC confirma disputa entre brasileiro e mexicano por chefia do órgão


A Organização Mundial do Comércio (OMC) confirmou nesta sexta-feira o brasileiro Roberto Azevêdo e o mexicano Herminio Blanco como finalistas na eleição para a direção-geral da entidade, em maio. A informação foi divulgada ontem pelas agências de notícias Reuters e France Presse, citando fontes diplomáticas.
Os dois disputarão o cargo, que hoje é ocupado pelo francês Pascal Lamy, após duas rodadas preliminares. A segunda fase da escolha tinha, além de Azevêdo e Blanco, os candidatos da Nova Zelândia, Tim Groser, da Indonésia, Mari Pangestu, e da Coreia do Sul, Bark Tae-ho, que não conseguiram o apoio necessário.
Nos últimos dias, o governo do México destacou o apoio que Blanco recebeu de países desenvolvidos, especialmente dos membros da União Europeia. Segundo o governo, o candidato mexicano também conta com o apoio de nações africanas. Blanco atuou como ministro do Comércio entre 1994 e 2000.
Azevêdo é o embaixador do Brasil na OMC desde 2008 e tem maior respaldo os países da América Latina, além de asiáticos e africanos. Embora seja candidato do governo brasileiro, ele se diz contrário à política comercial da presidente Dilma Rousseff.

Índice de Preços ao Produtor volta a subir em março, diz IBGE

O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que  mede a evolução dos preços de produtos na “porta da fábrica”, sem impostos e fretes, de 23 setores da indústria de transformação, variou 0,03% em março, em relação a fevereiro, que havia registrado queda de 0,35%.

Com isso, o acumulado no ano ficou em -0,42%, contra -0,45% em fevereiro. Já o acumulado nos 12 meses recuou para 6,64%, contra 7,71% em fevereiro.
Na comparação mensal, 13 das 23 atividades industriais pesquisadas pelo IBGEapresentaram variações positivas de preços, com destaque partindo de madeira (1,61%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (1,35%), alimentos (-1,25%) e metalurgia (1,09%). As maiores influências vieram de alimentos, refino de petróleo e produtos de álcool, metalurgia e outros produtos químicos.
De janeiro a março, as atividades que tiveram as maiores variações percentuais foram alimentos (-5,26%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-3,32%), têxtil (3,14%) e outros equipamentos de transporte (-2,75%). As maiores influências foram: alimentos, refino de petróleo e produtos de álcool, outros produtos químicos e metalurgia.
Em relação a março do ano anterior, as quatro maiores variações de preços nessa comparação ocorreram em fumo (19,06%), outros produtos químicos (13,45%), bebidas (10,14%) e refino de petróleo e produtos de álcool (9,74%) e as principais influências vieram de alimentos, outros produtos químicos, refino de petróleo e produtos de álcool e borracha e plástico.
Apesar da alta de 0,03% em março, em relação em fevereiro, o técnico do IBGE  Manuel Campos Souza Neto destaca a redução do IPP em 12 meses. Enquanto em fevereiro, na comparação com fevereiro do ano anterior o IPP marcou 7,71%, em março, o índice caiu para   6,64% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
"Essa grande diferença de mais de 1% se deve principalmente ao que ocorreu em março de 2012, quando houve uma variação positiva do dólar de 4,5% e problemas safra mundial", explicou.
Em 12 meses, o fumo apresentou a maior variação ente os produtos pesquisados: 19,06%. O técnico explica que o índice tem a influência de políticas oficiais que reduzem o Imposto sobre Produtos industrializados (IPI) para cigarros mais caros, levando ao aumento de preços, além do preço mínimo estabelecido de R$ 3.
Os setores têxteis e de vestuário também tiveram altas expressivas em 12 meses (4,11% e 4,93% respectivamente), segundo o técnico, devido à valorização do algodão, que segue preços internacionais.
"Mas em abril o preço começou a cair devido aos grandes estoques", disse Souza Neto.
O segmento de informática teve a maior variação negativa em 12 meses: -5,7%, puxada principalmente pelos telefones celulares. Para o técnico, o produto nacional vem perdendo espaço para os importados com mais tecnologia, o que faz seu preço cair.

Para entender o xadrez da economia


A economia assemelha-se a um jogo de xadrez. Há inúmeras peças no tabuleiro, com as posições de cada uma influenciando-se mutuamente. E vários objetivos simultâneos, que podem ser conflitantes entre si. O desafio do jogo é atender a todos os objetivos sem comprometer o equilíbrio geral.
É objetivo finalístico o atendimento do bem estar da população do país, garantindo emprego, renda e serviços públicos de qualidade.
Esse objetivo precisa ser alcançado criando-se um mercado interno robusto, com estabilidade de preços e equilíbrio nas contas externas.
***
Em uma economia aberta, a produção interna disputa dois mercados – o interno e o externo – com os concorrentes internacionais.
O processo virtuoso de crescimento completa-se assim: cria-se um mercado interno robusto; que absorve uma produção interna robusta e competitiva; que gera mais emprego e mais renda, que ajuda a aumentar o mercado interno; que produz ganhos de escala permitindo alcançar outros mercados.
***
A roda começa a pegar quando a produção interna não é competitiva em relação à externa – o que ocorre agora.
Aí, o processo degenera.
Primeiro, a queda da competitividade interna provoca a perda de mercados externos. Depois, a batalha é internalizada, e as empresas nacionais passam a lutar com as estrangeiras pelo próprio mercado interno de consumo.
***
Para atender ao aumento da demanda, recorre-se cada vez mais aos importados.
Quanto mais importação, mais déficit externo e mais vulneráveis ficam as contas externas.
Quando se entra nessa dinâmica de déficits crescentes – quadro atual – há duas maneiras de resolver o pepino. A maneira usual é através do Senhor Crise.
Quando os investidores percebem que a situação está ficando insustentável, saem correndo. Há um estouro da boiada que desvaloriza o câmbio até mais do que o necessário e reequilibra a balança comercial.
***
O segundo governo FHC praticamente acabou no primeiro mês, com a desvalorização cambial – fruto da política de empurrar com a barriga o déficit externo.
Em 2008, o segundo governo Lula caminhava para desastre semelhante. Foi salvo pela grande crise internacional, que desvalorizou o câmbio e obrigou a um conjunto de ações de emergência da Fazenda.
***
Agora, já se entrou novamente nessa dinâmica. A acumulação de reservas cambiais por parte do Banco Central, que permitirá financiar os déficits por algum tempo. A cada semana o governo anuncia pacotes de subsídios, desonerações, incentivos financeiros para melhorar a competitividade da produção interna.
Todas essas ferramentas são gambiarras, e visam adiar a solução de um problema básico, que não foi enfrentado por nenhum governo desde os anos 80: o desequilíbrio do câmbio, que tornam os preços internos muito superiores aos internacionais.
***
A maneira não traumática de resolver a questão é proceder a uma desvalorização cambial controlada do real; e, depois, ter sangue frio para atravessar um período de turbulências inflacionárias até a economia se estabilizar em outro patamar.
Não será nem neste ano, nem no próximo, devido ao fator eleições.
Provavelmente será no primeiro ou segundo ano do próximo governo.

Conceito de intervenção internacional de Dilma é criticado por especialistas


Em 21 de setembro de 2011, um trocadilho intencional na fala da presidenta Dilma Rousseff contra a intervenção humanitária na Líbia, durante a abertura da 66ª Assembleia Geral da ONU nos EUA, introduziu um novo debate nas relações internacionais. “Muito se fala sobre a Responsabilidade de Proteger, pouco se fala sobre a responsabilidade ao proteger”, disse Dilma.
A alternativa ao princípio da Responsabilidade de Proteger, adotado na ONU em 2005, que coloca a obrigação dos Estados em proteger as populações de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra ou de limpeza étnica, gerou fortes críticas ao Brasil. Dilma sugeriu o uso da força em última opção e pediu a criação de formas de controle das missões autorizadas pelo Conselho de Segurança para evitar desvios de objetivo. Quase dois anos depois, a proposta foi tema de um colóquio internacional entre Brasil e França na Universidade de São Paulo nesta quinta-feira 25.
“A fraqueza da proposta é não ter muitos detalhes ou conteúdo para dizer como a responsabilidade ao proteger seria aplicada na Síria, por exemplo”, diz Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV. “Não houve um modelo intelectual robusto por trás que pudesse ser aplicado às crises.”
A proposta ganhou destaque, mas os dramas do mundo real continuaram a precisar de uma solução, aponta Bruno Delaye, embaixador da França no Brasil. “A proposta é legítima, mas não deve impedir o mundo de recorrer à negociação com base no consenso de 2005. Neste ponto, Brasil e França têm posições diferentes.”
Em meio à repercussão contraditória, em 2012, diz Stuenkel, o Brasil deixou de lado a proposta. “Quem a mantém viva são acadêmicos e a sociedade civil. É uma pena não promovê-la, porque pela primeira vez o País se destacou desenvolvendo compromissos e propostas que podem ter apoio de atores importantes.”
O assunto é polêmico e mesmo o conceito original de Responsabilidade de Proteger não é unânime. O R2P, como é conhecido, prevê que os Estados são responsáveis em proteger as populações até mesmo de seus próprios governos. Caso a comunidade internacional não possa ou não queira fazer isso, o Conselho de Segurança pode ser acionado e autorizar intervenções militares e ataques preventivos. Esse tipo de ação gera polêmica pois envolvem aspectos de soberania nacional e que podem esconder interesses intervencionistas de potências militares.
Essa foi uma das críticas de diversos países emergentes à ação na Líbia. Acreditava-se que a intervenção, além de pretender evitar um massacre aos opositores de Muammar Kaddafi em Bengazi, também teria como objetivo derrubar o ditador, desvirtuando-se de seu mandato original. “Na Líbia, surpreende que a decisão pela intervenção tenha precedido as justificativas para a guerra para proteger os Direitos Humanos antes que eles tivessem sido violados”, opina Rony Brauman, ex-presidente da ONG Médicos Sem Fronteiras. “Insistir nessa ideologia da segurança acarreta em multiplicar as guerras preventivas.”
O conceito da Responsabilidade de Proteger também é visto como fraco e dependente da vontade política das potências, como na guerra civil na Síria, sobre a qual o Conselho de Segurança não consegue atingir um consenso “humanitário”. É o que diz Jean-Baptiste Jeangène Vilmer, pesquisador em Direito Internacional da Universidade de McGill, no Canadá. “A Responsabilidade de Proteger não é uma obrigação jurídica. É quase um apelo político.”

Esquerdas de Portugal e Grécia unem forças contra austeridade


O líder da coligação grega Syriza, Alexis Tsipras (foto), esteve nesta quinta-feira (25) em Portugal para encontro com o Bloco de Esquerda luso. Para ele, “unidade” será a “única resposta eficaz às insistências da Sra. Merkel em políticas de dividir para reinar, que forçaram a Zona Euro a posicionar-se à beira da ruina”. O coordenador do Bloco, João Semedo, defendeu que “só a democracia pode vencer a austeridade”.

Lisboa - “Em meados dos anos 70, Portugal, Grécia e Espanha eram admirados por toda a Europa como casos paradigmáticos de transição de situações de ditadura para a democracia. Quero assegurar-vos que, em breve, os nossos países voltarão a ser apontados como casos paradigmáticos de transição de situações de austeridade para a democracia”, afirmou Alexis Tsipras durante o Comício organizado pelo Bloco de Esquerda, que teve lugar esta quinta feira no Fórum Lisboa.

Citando Franklin Roosevelt, Alexis Tsipras salientou que “a única coisa de que temos de ter medo é do próprio medo". Segundo o líder da Syriza, “separados seremos derrotados. Sairemos também a perder se nos fecharmos no isolamento económico e se voltarmos às políticas do passado de desvalorizações competitivas das moedas nacionais”. 

Por outro lado, “juntos e a uma só voz, podemos fazer inclinar os equilíbrios do poder político Europeu para o nosso lado” e derrotar a “ditadura Europeia e económica que é imposta pelos mercados todo-poderosos”.

Reforçando a ideia de que “a nossa força reside na nossa unidade”, Tsipras referiu que “à medida que a recessão engole a Zona Euro, a austeridade está agora também a alarmar os mais vulneráveis no Norte” e que, nesse contexto, "a aliança anti memorando dos países do Sul deve também englobar as forças sociais do Norte que rejeitam a austeridade”. “Será uma aliança Europeia pela refundação democrática da união monetária”, avançou.

“Não há qualquer exemplo de sucesso com políticas de austeridade”
Lembrando que o próprio Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, já veio admitir que a austeridade “tinha chegado ao limite”, “talvez porque agora a recessão já chegou ao Norte da Europa”, Alexis Tsipras destacou que “não há qualquer exemplo de sucesso com políticas de austeridade”.

Para o representante da Syriza, só há uma saída para “a crise auto-alimentada da Zona Euro”. Essa solução terá que passar, conforme adiantou, pela anulação do Memorando de Entendimento e a “substituição das políticas recessivas de austeridade por políticas de redistribuição do rendimento”, a renegociação dos acordos firmados e subsequente anulação de uma parte significativa da dívida, e um ‘Novo Acordo para a Europa’, centrado em projetos de investimento públicos de dimensão Europeia.

O consenso da direita
O coordenador do Bloco de Esquerda, João Semedo, acusou, durante a sua intervenção, Cavaco Silva de “dar luz verde à segunda vaga de austeridade e de cortes que o governo se prepara para anunciar”.

“Uma maioria de direita, um governo à direita e um presidente de fação que usou o 25 de Abril para dar a mão a um governo em queda livre. Este é o governo do presidente Cavaco Silva”, frisou o dirigente bloquista.

“O consenso de Cavaco é o mesmo de Paulo Portas e Pedro Passos Coelho, é o consenso para mais austeridade, o consenso para dar uma segunda vida a um governo moribundo. E sejamos muito claros, o consenso porque nos batemos é exatamente o oposto. É o consenso contra a austeridade, contra a dívida, contra a troika. É a nossa escolha, a nossa opção. Toda a esquerda, sobretudo o PS, está hoje desafiada a fazer a sua escolha”, alertou João Semedo.

Vivemos em plena era dos credores
Citando declarações de Miguel Portas, datadas de agosto de 2011, João Semedo afirmou que “vivemos em plena era dos credores” e que “Pedro Passos Coelho ou Antonis Samaras não são mais do que os cobradores às ordens dos credores: os bancos, os fundos internacionais, a troika. Não governam, não decidem, fazem o que os mandam fazer”.

“E das duas uma: ou nos livramos deles ou eles acabarão connosco, acabarão com Portugal e a Grécia como países soberanos, países livres e democráticos, em que o povo é que mais ordena”, alertou, sublinhando que “a liberdade e a democracia são também gorduras incómodas para os credores”.

“A austeridade liquida a democracia, austeridade ou democracia, só a democracia pode vencer a austeridade”, realçou.

Renegociar a dívida é a alternativa da esquerda socialista
Reforçando que “recusar a austeridade e recuperar os rendimentos perdidos é a resposta da esquerda socialista” João Semedo defendeu que “Portugal só evitará um segundo resgate se cortar nos juros e na dívida, se anular parte da dívida para valores compatíveis com o desenvolvimento económico”.

“Há hoje muitas razões para olhar com cepticismo o futuro da Europa. Mas nós não desistimos de lutar por uma outra Europa, uma Europa para os cidadãos, para a coesão económica e social, uma economia forte que assegure trabalho para todos, uma europa de iguais que respeite a soberania dos povos e dos estados, uma europa de paz”, avançou o deputado, referindo que o Bloco recusa “a tese de que a defesa do Euro exije uma europa federal e que sem federalismo europeu o fim do euro é inevitável”.

“Sabemos que pode haver euro sem troika, sem austeridade e por isso resistimos à chantagem da defesa do euro para nos impor mais austeridade”, avançou ainda João Semedo, reafirmando que “a alternativa não é sair do euro, é cortar na dívida e por fim à austeridade”.

É preciso derrubar o governo 
“Para mudar a política nacional, para tirar o país da crise, é necessário derrubar o governo”, garantiu o coordenador do Bloco de Esquerda, frisando que “o agravamento da crise económica e social acabará por impor a demissão do governo”.

“O Bloco de Esquerda recusa qualquer outra solução que não seja realizar eleições. Confiamos que esta é a hora da esquerda governar. Pela nossa parte estamos disponíveis e prontos para fazer parte da solução. Um governo de esquerda que rejeite a austeridade, ponha termo ao memorando da troika e imponha aos credores uma renegociação da dívida”, adiantou João Semedo.

A eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias denunciou o feroz ataque à democracia a que temos vindo a assistir. “Todas as decisões importantes para as nossas vidas estão a ser retiradas das mãos dos cidadãos. É como se a democracia, a cidadania, a participação popular fossem um adereço ou qualquer coisa que está a mais no quadro institucional europeu”, lamentou a eurodeputada. "A voz da democracia é: é o povo quem mais ordena”, frisou Marisa Matias.

“A dívida é um eficaz instrumento de submissão dos povos”

Segundo a dirigente bloquista Joana Mortágua, “a dívida é um eficaz instrumento de submissão dos povos, porque ela nasce de uma relação de forças desigual, porque pode interminavelmente consumir a riqueza da força de trabalho de um povo inteiro, e porque, nas palavras de Eduardo Galeano, ‘a dívida constrói uma estrutura de humilhação sucessiva que começa nos mercados financeiros e acaba na casa de cada um e de cada uma de nós’”.

“Mudar a estrutura da dívida significa, na chamada ‘era dos credores’ desferir um golpe profundo sobre o capitalismo financeiro, mas significa também ensinar à chanceler Merkel e aos eurocratas alguma coisa sobre democracia, sobre solidariedade e sobre europeísmo”, avançou Joana Mortágua.

25.4.13

Fazenda "garante" desaceleração da inflação de alimentos em 2013

Estudo do governo destacou desonerações tributárias, redução na conta de luz e queda nos preços ao produtor como fatores que possibilitarão a desaceleração da alta dos preços

ministro da Fazenda, Guido Mantega
Guido Mantega prevê uma renúncia fiscal de 70 bilhões de reais em 2013 (Renato Araújo/Agência Brasil)

O Ministério da Fazenda publicou nesta quarta-feira o boletim "Economia Brasileira em Perspectiva", que reúne dados da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano. Segundo o documento, a inflação de alimentos desacelerará ao longo do ano e direcionará o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para baixo, garante o Ministério. "A inflação de alimentos encontra-se no pico e registrará desaceleração nos próximos meses, o que redirecionará o IPCA", afirma o texto.

A Fazenda baseou sua afirmação na percepção de que a oscilação dos preços ao consumidor tem respondido, de maneira defasada, às variações nos preços dos alimentos ao produtor, medidos pelo índice IPA-DI agrícola. Os economistas do governo acreditam que a atual desaceleração do índice agrícola terá reflexos no IPCA. O IPA-DI mostra forte desaceleração desde julho de 2012. Em março deste ano, teve queda de 2,31%.

O governo manteve o tom otimista em relação ao crescimento econômico em 2013, apesar de os últimos dados mostrarem fraca recuperação. Segundo o documento, "o Brasil começou 2013 com ritmo de crescimento mais intenso", dando prosseguimento à trajetória de aceleração verificada a partir do segundo semestre de 2012. Na avaliação do órgão, os fundamentos macroeconômicos do país têm permitido enfrentar a crise global sem maiores sobressaltos.

A Fazenda destaca também algumas desonerações tributárias que têm sido promovidas para estimular a economia, como as mudanças nas folhas de pagamento das empresas, que englobam mais de 40 setores da economia. O boletim reitera as projeções feitas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmando que a renúncia fiscal em 2013 superará os 70 bilhões de reais, quase 2% do Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado, tal valor foi de 40 bilhões de reais.

A redução na tarifa de energia elétrica também foi destacada no relatório, que relata que a conta mais baixa "já está gerando aumento da competitividade das empresas e ampliando a renda disponível das famílias". A desoneração da cesta básica também foi lembrada no texto.

Infraestrutura - Segundo o boletim, o programa de concessões de aeroportos, rodovias, ferrovias e portos também será fundamental para a superação de gargalos na infraestrutura dos transportes, com aumento da qualidade dos serviços e redução de custos de produção e distribuição. O governo também considera o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) um instrumento essencial para garantir que o investimento se mantenha como uma das principais forças impulsionadoras do desenvolvimento.

O boletim destaca que caberá aos investimentos em infraestrutura o papel central na agenda das políticas públicas. "Isso levará crescimento mais intenso no aumento da produção de bens de capital do país, o que trará uma maior participação no PIB nos próximos anos", prevê o estudo.

(com Estadão Conteúdo)

 

Lucro do Santander cai 8,9% no trimestre e fica em R$ 1,577 bilhão

Brasil respondeu por 26% do lucro do banco espanhol e posiciona filial no País como a primeira no mundo 

SÃO PAULO - O banco Santander Brasil anunciou, nesta quinta-feira, 25, lucro líquido de R$ 1,577 bilhão no primeiro trimestre de 2013, recuo de 8,9% ante o resultado visto no mesmo intervalo de 2012, seguindo o padrão contábil internacional (IFRS). 

Os ativos do banco espanhol somaram R$ 427,358 bilhões em março, alta 7,5% ante o volume registrado no mesmo intervalo de 2012. O Santander encerrou o primeiro trimestre com patrimônio líquido consolidado de R$ 79,766 bilhões, aumento de 3,6%, na mesma base de comparação e também no critério IFRS.
O Brasil respondeu por 26% de todo o lucro do Grupo Santander obtido no primeiro trimestre do ano. O número posiciona a filial brasileira como a mais importante para o resultado da instituição. Quando considerada a distribuição de ativos, o Brasil ocupa a terceira colocação, com 12% dos ativos do Santander. México e Estados Unidos têm, cada, 5%.
Na quarta-feira, 24, o Santander Brasil anunciou a saída do presidente Marcial Portela. O executivo era responsável pelos negócios do Santander no Brasil, sendo os últimos dois anos e meio como presidente das operações locais. Para o lugar, foi escolhido Jesús Zabalza, executivo que comandava a divisão América, que administra as atividades do banco na Argentina, no Chile, México e Uruguai. Ao jornal O Estado de S.Paulo, Portela explicou que a saída já estava planejada, informando que pesaram fatores familiares para sua decisão.

Lucro gerencial
O lucro líquido do banco no critério gerencial, de R$ 1,518 bilhão no primeiro trimestre veio acima das expectativas dos analistas consultados pelo Broadcast. O montante é 14% superior ao R$ 1,332 bilhão, conforme média de cinco instituições consultadas pelo Broadcast (Bank of America Merrill Lynch, BES, Deutsche Bank, GBM e Safra).
O lucro líquido gerencial corresponde ao lucro líquido societário mais 100% da reversão da despesa de amortização do ágio, ocorrida no período. A despesa de amortização do ágio no primeiro trimestre foi de R$ 909 milhões, mesma cifra registrada no primeiro e quarto trimestre do ano passado. O Broadcast considera que o resultado está em linha com as projeções quando a variação para cima ou para baixo é de até 5%.

Lucro societário
O lucro líquido societário do banco somou R$ 609 milhões no primeiro trimestre, resultado que representa queda de 29,59% ante o resultado visto no mesmo intervalo de 2012, seguindo o padrão contábil brasileiro, o BRGaap. No critério gerencial, o lucro do banco ficou em R$ 1,518 bilhão, recuo de 14,43% ante um ano e de 5,5% em relação ao trimestre anterior.
De acordo com Marcial Portela, o banco apresentou avanços nos principais pilares da sua estratégia de longo prazo, como diversificação de receitas, eficiência, inovação na oferta e no atendimento e solidez de balanço. "Esses são os alicerces que vão suportar o crescimento futuro do setor financeiro", diz ele, por meio de nota.
O retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado, excluindo ágio, do Santander Brasil caiu de 12,8% no quarto trimestre de 2012 para 12,0% nos três primeiros meses deste ano. Ante o quarto trimestre, a queda foi de 2,6 pontos porcentuais.
A carteira de crédito ampliada do Santander totalizou R$ 256,1 bilhões, evolução de 8,3% em relação ao mesmo período de 2012. Na comparação com o quarto trimestre o volume de empréstimos permaneceu estável (variação de 0,1%).
O maior crescimento da carteira de crédito do Santander foi visto no segmento de pequenas e médias empresas, foco de expansão do Santander no Brasil, com alta de 9,2%, seguido por grandes empresas (+7,4%), pessoa física (+7,3%) e financiamento ao consumo, com queda de 0,5%.
Os ativos do banco espanhol totalizaram R$ 448,601 bilhões ao final de março, cifra 7,5% superior ao registrado no mesmo intervalo de 2012. Ante o quarto trimestre, foi registrada queda de 0,1%.
O Santander Brasil encerrou o primeiro trimestre com patrimônio líquido de R$ 51,133 bilhões, 6,5% maior que o visto em 12 meses e 1,2% superior ao obtido no quarto trimestre de 2012.

 

Brasil é o país com maior redução do desemprego desde 2008 7

O Brasil é o país que acumula maior redução da taxa de desemprego desde 2008, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) que abrangem os 42 países que já divulgaram os números de 2012 sobre o mercado de trabalho.
No ano em que estourou a crise financeira internacional, 7,9% da população ativa brasileira estava sem emprego; em 2012, essa proporção passou para 5,5%, o que representa uma queda de 30% na taxa.
Os números do FMI se referem à média de cada ano e vão só até 2012. No entanto, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que a tendência de queda do desemprego se manteve no início de 2013, apontando a menor taxa para meses de março desde 2002.

Mundo
A Alemanha, no ranking do FMI, aparece em segundo lugar, com uma diminuição muito próxima da brasileira, de 7,6% para 5,5%. O terceiro país da lista é a Bolívia, onde o indicador foi de 6,9% para 5,5%.
A taxa só caiu em 15 dos 42 países analisados. Em Portugal, na Bulgária e na Espanha, o indicador de desemprego mais do que dobrou no período. Na Grécia, mais que triplicou (veja tabela abaixo).
Os Estados Unidos e a Índia são os dois únicos países, entre as maiores economias, que não estão na lista do FMI, por não terem o dado fechado do desemprego médio em 2012.
Mas para os EUA, o FMI tem uma projeção, de que a taxa atingiu 8,1% no ano passado, contra 5,8% em 2012. Já a Índia não conta com os dados oficiais nem com previsões.

Esta é a terceira postagem da série “Brasil no mundo”, em que o blog Achados Econômicos analisa a recém atualizada base de dados do FMI.
Nas duas primeiras, o blog mostrou que o país caiu 25 posições no ranking mundial do crescimento econômico e que voltou a ter uma taxa de investimento menor que a das nações ricas.
Essas três comparações confirmam que o atual momento econômico brasileiro – de um país emergente que combina mercado de trabalho aquecido e, ao mesmo tempo, crescimento e investimento baixos – é um caso particular no mundo.
A questão agora é saber por quanto tempo esse cenário vai se sustentar e o que deve ocorrer depois, se uma recuperação nos demais indicadores ou uma redução no nível de emprego.

Desemprego em países selecionados

PaísTaxa em 2008 (%)*Taxa em 2012 (%)*Variação (%)**
Brasil7,95,5-30,4
Alemanha7,65,5-28,2
Argentina7,97,2-8,6
Rússia6,46,0-6,3
China4,24,1-2,4
Japão4,04,49,2
México4,04,820,8
França7,810,231,5
Reino Unido5,68,044,3
Itália6,810,656,8
Portugal7,615,7106,2
Espanha11,325,0121,2
Grécia7,724,2215,8
  • * Porcentagem da população economicamente ativa
  • ** Variação porcentual de 2008 a 2012
  • Fonte: FMI
Metodologia
A medição da taxa de desemprego varia muito de um país para outro. Por isso, não é possível fazer um ranking indicando onde o desemprego é menor e onde é maior.
Porém, é possível comparar cada país consigo próprio. Se a taxa passou de 7,9% para 5,5% no Brasil, e de 7,6% para 15,7% em Portugal, é possível dizer com segurança que ela caiu aqui e subiu lá.
Outro exemplo de comparação de pesquisas com diferentes metodologias: o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e o IBGE. Apesar de as duas instituições apresentarem dados bem diferentes todos os meses, quando se observam as tendências de longo prazo, os resultados são muito parecidos. Enquanto na do IBGE, feita em seis regiões metropolitanas,  a taxa caiu 30% desde 2008, na  do Dieese, em São Paulo, a queda foi de 26%.
Há décadas o IBGE adota um padrão menos rigoroso que o Dieese para definir o que é estar desempregado. A atual série do instituto do governo, iniciada em 2002, e não mudou esse conceito.
Vale acrescentar, ainda, que os números se referem à proporção de desempregados em relação à população ativa. Uma queda nessa taxa não significa que menos pessoas estejam sem emprego, e sim que esse contingente passou a representar uma parcela menor do total de pessoas que fazem parte do mercado de trabalho.
Também se deve notar que, em alguns países, a taxa cai menos porque já é muito baixa. Na China, por exemplo, a redução foi de 4,2% para 4,1%.