Colbert Martins: "Eu entendo que não há fato para que eu seja denunciado."
Por João Gabriel Galdea
Bahia Notícias – Começar logo falando sobre a denúncia que levou o senhor a ser detido pela Polícia Federal. As acusações envolvem o nome do senhor em um desvio de verbas do Ministério do Turismo em um convênio com o Ibrase, de 2009. O senhor assinou a liberação da última parcela do convênio no valor de cerca de R$ 4 milhões, não foi isso?
Colbert Martins – Isso. Eu assumi no ministério no dia 15 ou 16 de março, e no dia 12 de abril, menos de um mês depois, recebo a chefe do departamento com o processo, como é normal, com um parecer jurídico, com a nota técnica, atestando que o convênio está em cumprimento. Em razão disso, menos de um mês depois, eu assinei o pagamento.
BN – O senhor sabia o que era o Instituto Brasileiro de Infraestrutura Sustentável (Ibrase)? Como ele atuava?
CM – Era uma empresa de qualificação profissional, como umas cem outras entidades o fazem. E, apesar de ter chegado no ministério havia menos de 30 dias, e fazer uma assinatura dessa, como fiz de outros convênios também, porque todos eles continham a nota técnica e a autorização do setor jurídico constando que estava regular o andamento do convênio. Não existia nenhuma determinação da CGU, nem do Tribunal de Contas da União, nem do Ministério Público Federal, nenhuma determinação judicial de sustar o convênio. Não há isso até hoje no ministério.
BN – O senhor foi acusado, formalmente, de que pela Polícia Federal?
CM – Apenas porque eu assinei essa última parcela. Apenas isso. Eu entendo que não há fato para que eu seja denunciado.
BN – Essa empresa fica no Macapá, capital do Amapá. Ontem [domingo, dia 21] saiu uma reportagem dizendo que o Ministério do Turismo gastou nos últimos dois anos R$ 351 milhões em cidades sem nenhuma vocação turística. Não seria o caso de Macapá? Como o senhor vê essa situação?
CM – Eu acho que existe vocação turística sim. Algo muito semelhante ao que é o Amazonas. Eu vou até mandar pra você, porque o motorista que me levou lá me deu um panfleto muito interessante, mas eu mando uma cópia pra você... Tem sim. Várias cidades têm vocação turística. Quem foi que foi treinado? Pessoas de hotéis, de restaurante, de bares, tá certo? Motoristas de táxi, enfim, o objetivo era esse. Essa empresa apresentou ao Ministério do Turismo um resultado de mil e novecentas pessoas que deviam ser qualificadas, apresentou um resultado de mil e quinhentas pessoas, mais ou menos, das quais quatrocentas presenciais, mais setecentas de cursos à distância e trezentos e poucos que não alcançaram a média mínima. Então, a empresa apresenta um tipo de resultado dos cursos que ela realizou no Amapá.
BN – Feira de Santana é uma cidade com vocação turística? Quais seriam os atrativos de Feira?
CM – Sim. Primeiro é um centro regional importante, muito próximo de Cachoeira. Muito próxima de diversas regiões no nordeste do estado a exemplo de Canudos, e outras. Não é preciso que a cidade seja histórica pra poder ser turística. Feira tem uma vocação de turismo de negócios muito forte. E mais do que isso: estrategicamente e logisticamente, Feira pode estar no centro de uma região na qual ela possa ter irradiações. Feira também tem tradições folclóricas muito importantes. Quixabeira da Matinha, entre outras. Teve uma caminhada do folclore ontem com mais de 10 mil pessoas na rua. Eu acho que Feira tem área de voo livre...
BN – Mas com relação a esse turismo de negócios, a cidade não tem nem centro de convenções ainda. A obra está parada há algum tempo...
CM – Tem seis anos que está construindo. A obra do centro de convenções está parada há cinco anos, mas o turismo de negócios acontece no Amélio Amorim e em outros lugares. O que você está colocando é uma necessidade que tem, como acontece em Itabuna também. Parado o seu centro de convenções. Então, não é porque Ilhéus tem uma característica turística que seja apenas por causa da praia. E voltando a Itabuna, tem tantos atrativos. Se você for falar em culinária, em outros atrativos, eu acho que Feira se enquadra. Você veja agora, teve o trem do forró. Lembra o baião? Pois é, nós tivemos em Conceição de Feira. Tem também o São João, e fora as festas regionais. Eu acho que a questão do que é o turismo, ele se faz quando você cria um produto. E para isso tem que ter a infraestrutura necessária.
BN - O senhor foi afastado do cargo de secretário nacional de Desenvolvimento do Turismo. Ainda volta?
CM – A Justiça afastou todas as pessoas que estiveram detidas. Eu sou o único que tenho condições de assumir novamente o cargo. Mas não assumi e nem assumirei enquanto não se tiver estado juridicamente claro que não tenho nada a ver com essa questão.
BN – O ex-ministro Geddel Vieira Lima disse que não as mãos no fogo nem por ele mesmo, mas pelo senhor colocaria. O senhor colocaria as mãos no fogo por Geddel?
CM – Eu acho que nós todos temos que agradecer a Geddel, agradecer a Michel Temer, agradecer ao meu partido por essa grande disponibilidade que o partido teve na minha defesa. Eu acho que o que é importante é você não condenar as pessoas, antes de elas serem julgadas. Eu só fui ouvido até agora. Então, o que eu posso fazer com Geddel é o mesmo que ele fez comigo. Aliás, a família dele teve uma ação tão solidária, e várias outras pessoas... A imprensa, de uma forma quase que geral... Aliás, eu me lembro muito do ex-prefeito Luiz Caetano, que foi condenado previamente, exposto, e o que se viu depois é que ele não tem nada a responder. Nós devemos evitar esse tipo de exposição.
BN – As mensagens de apoio vieram até de adversários...
CM – Sim. Eu fiquei muito agradecido e agradeço a todos os partidos. Feira de Santana foi uma cidade que me abraçou praticamente unanimemente.
BN – Algum desses apoios surpreendeu o senhor?
CM – Eu fiquei surpreso porque entendo que nós plantamos muito a abertura. Eu não tenho inimigos na política. O tempo inteiro eu respeitei muito as pessoas. As discordâncias que tive foram do ponto de vista político e nunca do ponto de vista pessoal. (...) Eu não vou destacar ninguém, prefiro não citar nomes, mas gostaria de dizer que o que me magoa muito foi a forma e exposição desnecessária do que aconteceu.
BN – O senhor foi bem tratado pela Polícia Federal?
CM – Fui muito bem tratado pela Polícia Federal, em São Paulo, bem como lá em Macapá. Agora, ao você ser transportado, aí é preciso que se revejam certas situações. Não é possível você ser revistado nu. Acho que é um exagero. Não é necessário o uso de algemas, por exemplo, numa pessoa com 67 anos. Uma mulher que estava acabando de fazer quimioterapia. Teve que suspender o tratamento de câncer dela, lá em Macapá, porque não tinha condições de fazê-lo. Então, eu acho que tem que se ver e tem que se ter certos cuidados. Não era necessário descer em Brasília. Aí aparece a exposição. É fotografia. Não é necessário subir em Brasília de volta. Ficamos em pé no hangar em Brasília durante uma hora, de forma, no meu entendimento, desnecessário. Eu acho que houve excesso. E, também, na questão lá da divulgação de fotos lá em Macapá, que me lembra regimes nazistas, [como era] na Alemanha, com a divulgação daquele tipo [de coisas], de algo que é de responsabilidade do servidor público. Espero que os vazamentos que ocorreram possam ser corrigidos porque funcionários públicos não podem tomar esse tipo de atitude.
BN – E como era a prisão lá no Macapá? A situação dos presos...
CM – Mil e setecentos homens; quatrocentas mulheres. Sessenta por cento dos homens estão lá por tráfico ou porte de drogas. Setenta por cento das mulheres estão lá por tráfico de drogas. É uma situação que se nós não tivermos um novo enfoque nessa área penal brasileira, essas pessoas que passam lá trancadas 22 horas por dia e depois duas horas de banho de sol...
BN – O senhor teve contato direto com essas pessoas? Ficou na mesma cela?
CM – Não na mesma cela. Mas celas vizinhas, sim. Nós ficamos numa cela de 4x3 metros, 12 m², com seis pessoas, três dormiram no chão, dentre os quais, um era eu. Mas essa situação das drogas precisa ser tratada com cuidado porque o que eu vi ali... Aliás, a média no Brasil para que é mais ou menos essa. Maioria dos presos estão lá por tóxico e se nós não tomarmos uma outra ação, a tendência disso é só realimentar no futuro.
BN – O senhor teme que as imagens da sua prisão sejam utilizadas por seus adversários políticos no ano que vem, já que o senhor pretende disputar a prefeitura de Feira de Santana?
CM – Imagino que pode ser. Acho que é um absurdo, que é um abuso. Isso atinge não apenas a mim, mas também a minha família, aos meus filhos, aos meus amigos, e não é propriedade de governo nenhum dispor da sua imagem da forma como foi feita. Eu espero que possa haver uma punição clara com aqueles que divulgaram informações e fotografias que são de responsabilidade do Estado. E, aliás, é bom dizer que a Polícia Federal teve uma ação completamente diferente na semana passada, na Operação Alquimia. Defendo, junto com o meu partido, o combate à corrupção, o combate à impunidade; ninguém ta tergiversando nisso não. Quero ir em frente; apurar o que tem de ser apurado pra quem quer que seja. Agora, veja que a polícia teve uma atitude completamente diferente a semana passada.
BN – O senhor acha que foi um reflexo das reclamações na condução da Operação Voucher?
CM – Espero que não seja, porque eu não quero servir de exemplo pra ninguém. Muito pelo contrário. Espero que seja um padrão de atuação.
BN – Nos bastidores da política feirense, se falou, há não muito tempo, da possibilidade de o senhor sair como vice na chapa do ex-prefeito José Ronaldo. Houve alguma articulação nesse sentido, realmente?
CM – Isso é especulação e, nesse momento, eu estou voltado mesmo pra lavar a minha honra, poder explicar aos meus amigos, à minha família, à minha cidade... Nesse momento, política está em segundo plano.