Valor Economico (SP)
Europa em crise: Fragilidade dos ativos financeiros é um dos argumentos para rebaixamento
Assis Moreira, de Genebra
Os bancos espanhóis amargam € 165,5 bilhões de empréstimos "potencialmente problemáticos" e o volume de créditos podres pode aumentar com o rebaixamento da nota de solvência do país anunciada ontem pela agência de classificação de risco Standard & Poor's.
A exposição total dos bancos espanhóis ao setor imobiliário alcança € 445 bilhões atualmente, dos quais 37,2% são considerados "potencialmente problemáticos". Desse montante de € 165,5 bilhões em risco, pelo menos € 60 bilhões dizem respeito à tomada de imóveis por causa da falta de pagamentos e outros € 43 bilhões considerados "duvidosos".
Como apenas 25% da "exposição problemática" está coberta por provisões específicas, isso significa que as instituições financeiras espanholas estão sob pressão para aumentá-las. Também estão vulneráveis a lançar mais ativos podres como perdas, conforme o Instituto Internacional de Finanças (IIF).
Uma das debilidades assinaladas pela S&P ao rebaixar a nota do país são os ativos financeiros. Em março, a agência já tinha baixado a classificação da banca espanhola diante da possibilidade de perdas importantes por causa da "morosidade creditícia". Com o novo corte ontem, o rating da Espanha caiu em um degrau, de "AA+" para "AA". A perspectiva do rating é negativa, refletindo a possibilidade de um novo rebaixamento se a posição fiscal da Espanha piorar mais que o previsto atualmente pela S&P.
A agência entende que o sistema bancário espanhol poderá necessitar de mais capital do que os € 27 bilhões disponíveis inicialmente através do Fundo de Reestruturação Bancária. Esse mecanismo tem, em todo caso, capacidade de endividamento de até € 90 bilhões, segundo informou a imprensa espanhola.
O IIF, que representa os maiores bancos do mundo, nota em relatório confidencial, datado de antes da onda de rebaixamentos, que a Espanha era outro país que continuava a atrair a atenção dos mercados por causa de seu enorme déficit fiscal, recessão prolongada e deterioração persistente do setor de construção.
Para a entidade, uma alta no custo do financiamento para os espanhóis, diante de "preocupações do mercado" sobre o déficit fiscal e os níveis de endividamento do governo, deve "agravar" a taxa de inadimplência e o volume de créditos problemáticos junto ao setor de construção e desenvolvimento imobiliário.
Durante boa parte do dia, o jornal "El Pais", de Madrid, intitulou que a Espanha "contém sua respiração ante uma possível rebaixamento do rating". E o governo do primeiro-ministro José Luis Zapatero alertou que movimentos especulativos podiam atingir o país nos próximos dias.
A noticia da baixa da nota de solvência "caiu como uma bomba" na Bolsa de Madrid, que teve sua queda ampliada de 1,5% para 2,99%. O corte no rating, um dia depois de a dívida grega ser considerada "lixo" pelos mercados, fez o governo espanhol multiplicar as tentativas de se diferenciar da situação de Atenas.
O governo de Zapatero anunciou que os impostos aumentaram no primeiro trimestre de 2010, ilustrando que a economia vem se estabilizando.
Entretanto, investidores consideram que dificilmente o país conseguirá reduzir seu déficit público de uma taxa de 11,2% do PIB em 2009 para o limite de 3% até 2013. Ainda mais em uma situação em que o desemprego atingiu nível recorde, superando a casa dos 20% em março.