19.12.11

Escolher o alvo certo: reduzir o juro para o consumidor

Matéria da Editoria:


Economia - 19/12/2011

A economia está caminhando rapidamente para a estagnação, independentemente da crise europeia e isso se deve não à Selic, mas ao crédito caro. Se o governo não intervier rápida e duramente nessa área não vai adiantar botar a culpa na crise externa. É necessário mirar e atirar firme no alvo certo. Se é certo reduzir a Selic, como está fazendo o governo, mais necessário ainda é reduzir a taxa de juro ao consumidor. Isso irá ativar o consumo, diminuir a inadimplência que é criada pela elevada taxa de juro.

Amir Khair (*)/ Data: 16/12/2011

Quase todas as análises que abordam a questão dos juros se referem à Selic. Tudo se passa como sendo ela que controla a inflação, regula o crescimento econômico e o câmbio. Serve até para se comparar com a chamada taxa de juro neutra - considerada como a mínima para que não ocorra inflação - que alguns atribuem, sem maiores explicações, como sendo 4% a 5%.

A Selic é considerada como a variável macroeconômica mais importante junto com a taxa de crescimento econômico. No entanto, pode estar servindo para desviar a atenção sobre outra taxa de juro: a que é cobrada pelos bancos aos consumidores e às empresas. Nesse artigo vamos tratar apenas da taxa de juro ao consumidor.

Uma modalidade muito usada pelas pessoas é o cheque especial. O último levantamento do BC junto a 31 bancos referente ao período de 23 a 29 do mês passado serve para revelar o verdadeiro assalto dos bancos sobre os consumidores. Essas taxas de juros variavam desde 2,24% ao mês no Banco Cruzeiro do Sul, primeiro lugar no ranking, até 10,32% no Santander, o último colocado. A CEF figurou em 18º lugar com 8,12%, o BB em 21% com 8,80%, o Bradesco em 24% com 8,87%, o Itaú em 25% com 8,93% e o HSBC em 29% com 9,97%.

Vê-se por aí que o abuso é geral envolvendo, inclusive, as instituições oficiais. Isso revela o descaso do governo com essa questão. É uma afronta à sociedade que se vê totalmente desprotegida por regras que impeçam a prática abusiva dos bancos.

Na comparação internacional, o sistema financeiro que atua no País pratica a maior taxa de juro ao consumidor do mundo. E isso ocorre, pelo menos, desde 2000, sem perder essa posição em nenhum (!) mês até hoje. Pior, desde 2004 sustenta em média o dobro (!) da taxa do Peru que vem em segundo lugar. Para efeito de comparação, serve também o fato dos países emergentes operarem com uma taxa média de juro para o consumo de 10% e os desenvolvidos 3%. A nossa em outubro bateu em 47%, quase cinco vezes maior que a dos emergentes e dezesseis vezes a dos desenvolvidos!

Tentando responder a essa crítica o sistema financeiro procura botar a culpa na cunha fiscal (tributos que incidem sobre os empréstimos), na inadimplência e nas despesas administrativas que os bancos têm. Fato é que as despesas administrativas são mais do que cobertas pelas receitas com as elevadas tarifas bancárias. A inadimplência é baixa e devida principalmente à elevada taxa de juro. A cunha fiscal existe em todo o mundo e não tem nada de especial. Mas o que procuram esconder é que o grosso da taxa de juro é a parcela responsável pela composição do lucro bancário.

Os bancos captam recursos a uma taxa próxima à Selic e a emprestam ao consumidor com diferença entre essas duas taxas de 32 pontos neste ano (dados realizados até outubro). Nos países emergentes essa diferença neste ano foi de quatro pontos.

A taxa de juro ao consumidor é usada no Brasil como poderoso freio na economia por encarecer o crédito, retirando poder aquisitivo do consumidor. Neste sentido tem sido um aliado do Banco Central para controlar a inflação.

O governo assustado com a perda de ritmo do crescimento econômico tomou medidas para ampliar o crédito, mas com a taxa de juro escorchante, que está aí está submetendo a parcela da população de renda média e baixa, que mais usa o crediário, a cair na inadimplência e ver reduzido seu poder aquisitivo. Essa perda se expressa, por exemplo, ao comprar uma geladeira e pagar duas, sendo uma virtual só de juros.

O crédito é fundamental como um dos motores importantes para a expansão do consumo, mas pouco se fala sobre a qualidade desse crédito e o quanto ele carrega de redução do poder aquisitivo da população.

Ora, para ampliar o consumo, como quer o governo, a primeira medida seria a redução da taxa de juro para o consumidor. Até hoje o governo nunca fez nada nesse sentido. Talvez por temer um confronto direto com o mercado financeiro. Por isso quando fala em taxa de juro, se refere normalmente à Selic. É necessário reluzi-la. Será um alívio para as despesas do governo, estímulo ao investimento privado e desestímulo à especulação externa contra o real e motivo de rombo nas contas externas.

Mas se é certo reduzir a Selic, como está fazendo o governo, mais necessário ainda é reduzir a taxa de juro ao consumidor. Isso irá ativar o consumo, diminuir a inadimplência que é criada pela elevada taxa de juro, e estimular os investimentos, que só interessam às empresas, se podem proporcionar rendimento maior do que na aplicação na Selic.

Temo que essa questão, que nunca foi enfrentada até agora, continue obscurecida pela discussão apenas da Selic. Ela não deve ser o alvo principal e o risco é ficar erigindo-a em poção milagrosa para tudo, quando não é, e deixar de lado o alvo que interessa, que é a taxa de juro ao consumo.

Com a crise europeia se acirrando, e sem possibilidade de saber que desdobramento terá sobre o País, é urgente, aproveitar o potencial não explorado do mercado interno. Para isso, políticas de distribuição de renda, desoneração tributária sobre bens de consumo popular e rebaixamento dos custos que mais incidem sobre o orçamento doméstico, como alimentação, transporte, habitação, medicamentos, comunicação, energia elétrica e consumo de água são elementos importantes para ampliar a capacidade de consumo e poupança da maioria da população. E, sobre tudo isso pouco se fez até hoje.

Essas medidas, no entanto, dependem de recursos do governo e, por essa razão, são mais limitadas em seu alcance e levam mais tempo para surtir efeito. Por outro lado, a redução da taxa de juro ao consumo tem efeito imediato e com repercussão ampla. Mas é possível reduzi-la? Sim. Na medida em que as aplicações na Selic forem caindo abaixo de certo ponto, os bancos vão migrar gradualmente para ampliar suas operações de crédito. Essa ampliação traz dois benefícios para a redução do juro: a) aumenta a concorrência bancária e; b) maior oferta para atender à demanda.

Fora esse movimento natural de mercado, pode-se destacar duas medidas que podem ser tomadas pelo governo. A primeira é a redução das taxas de juros nas instituições oficiais Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (CEF), que se encontram elevadas, como visto. A segunda é estabelecer regra diferenciada de depósito compulsório dos bancos no Banco Central (BC). Quanto menor a taxa de juro praticada pelo banco, menor o percentual de depósitos a vista e a prazo que terá que efetuar no BC.

A economia está caminhando rapidamente para a estagnação, independentemente da crise europeia e isso se deve não à Selic, mas ao crédito caro. Se o governo não intervier rápida e duramente nessa área não vai adiantar botar a culpa na crise externa. É necessário mirar e atirar firme no alvo certo.

Saio de férias e desejo um feliz natal e um ano novo com paz, saúde e felicidade.


(*) Mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e consultor.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19230

Governo aposta no PAC para fazer PIB crescer 5%

Há 11 horas e 0 minuto



Por Roberto Rockmann
Para o Valor, de São Paulo

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é um dos trunfos que o governo acredita ter para blindar a economia dos efeitos da crise internacional e atingir um crescimento de 5% em 2012. Os investimentos em infraestrutura também poderão contribuir para o acréscimo da taxa de formação bruta de capital, que no terceiro trimestre chegou a 20% do PIB, um dos níveis mais elevados desde 1992, mas ainda abaixo de outros emergentes, como Índia e China, onde o investimento supera 30% do PIB. O grande desafio da década do Brasil é elevar a taxa de investimento, o que não apenas ampliaria a capacidade das indústrias para atender à demanda sem pressões inflacionárias, como também permitiria melhorar a infraestrutura. O ritmo dos investimentos públicos e privados tende a se acelerar a partir do próximo ano.



O ano de 2011 foi de reformulação do PAC e do programa Minha Casa, Minha Vida. Em maio foram anunciadas novas regras para a segunda fase do programa habitacional, cuja meta é a contratação de dois milhões de unidades até 2014 e cujo foco são as famílias com rendimento mensal até R$ 1,6 mil. Em novembro, o governo desonerou impostos, com a ampliação da faixa de valor do imóvel sobre a qual incide a alíquota de 1% do Regime Especial de Tributação (RET) de R$ 75 mil para R$ 85 mil. Para os imóveis acima de R$ 85 mil, a alíquota é de 6%.



Apenas o TAV pode movimentar mais de R$ 30 bilhões em encomendas para a indústria brasileira

Segundo a organização Contas Abertas, o programa havia desembolsado R$ 5,6 bilhões até 22 de novembro desse ano, dos quais apenas R$ 8,5 milhões, equivalente a 0,07%, foram alocados em despesas executadas neste exercício. O restante dos recursos foi pago a título de "restos a pagar", compromissos assumidos em anos anteriores. A previsão era de que R$ 12,6 bilhões fossem pagos no programa em 2011. O governo informou que os resultados do programa serão apresentados em balanços periódicos específicos.



Até setembro, foram executados R$ 143 bilhões no PAC, 15% do previsto até 2014, sendo que desse total R$ 55 bilhões se referem a financiamento habitacional a pessoas físicas e R$ 41 bilhões das estatais. O governo acelerou os investimentos no terceiro trimestre: a execução do PAC teve alta de 66% em relação ao registrado no segundo trimestre. A liberação de recursos do orçamento fiscal da União foi mais ágil em 2011 do que em anos anteriores. Até 11 de novembro, o governo empenhou R$ 22 bilhões em recursos para o PAC 2 e pagou R$ 21,6 bilhões. Em período aproximado no ano passado (entre janeiro e 31 de outubro de 2010), o governo empenhou mais recursos, R$ 23,3 bilhões, mas os gastos efetivos foram muito inferiores - R$ 17,7 bilhões.



"A comparação com 2010 é boa, porque o ano passado foi o melhor do PAC. O programa terá ainda maior relevância em 2012, por conta desse cenário internacional adverso, e parte importante dos projetos deverá deslanchar no próximo ano", afirmou a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que ressaltou que os recursos para o PAC estão blindados. Um exemplo de projeto que poderão sair do papel em 2012 está na área de transportes. O governo trabalha para realizar audiências públicas do Trem de Alta Velocidade (TAV), o trem bala, no início do ano, o que daria o primeiro passo para a possível licitação da primeira fase do empreendimento no segundo semestre. Em outubro foram enviados ao Tribunal de Contas da União (TCU) os estudos de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos, Brasília, o que pode fazer os leilões serem realizados ainda no primeiro semestre de 2012. Apenas o TAV pode movimentar mais de R$ 30 bilhões em encomendas para a indústria.





Ampliar imagem.

"Há grandes oportunidades e cabe destacar que, na área de transmissão de energia, se todos os projetos saírem, poderão ser leiloados 20 mil km de linhas em 2012, com destaque para a interligação de Belo Monte e de Teles Pires", afirma o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, que frisa que os dados têm mostrado que a execução orçamentária do PAC tem melhorado.



Até 11 de novembro, o valor pago no Orçamento Geral da União chegou a R$ 21,6 bilhões, enquanto em 2010 ficou em R$ 17,7 bilhões e em 2007, primeiro ano do programa, atingiu R$ 4,4 bilhões. "Se o setor privado enfrenta dificuldades para empreender no Brasil, como obtenção de licenças e ações na Justiça, o setor público enfrenta ainda mais. Para melhorar a velocidade do programa, concessões poderiam ser ampliadas", diz. Godoy aponta que o sucesso das licitações aeroportuárias poderá abrir espaço para a iniciativa privada participar da ampliação de aeroportos existentes e da construção de novos, mas áreas, como saneamento básico e rodovias, poderiam ter maior presença da iniciativa privada. "Em saneamento, há muito espaço para parcerias e, na área de rodovias, o aumento do fluxo de veículos pode ter feito com que muitas estradas tenham se tornado atrativas para o setor privado", afirma Godoy.



Governo e empresários estão preocupados com a repercussão que as obras da usina da hidrelétrica de Belo Monte tem tido na mídia, com campanhas públicas envolvendo artistas. Temem-se dificuldades nas licitações de projetos futuros na região Norte.



A Abdib pretende realizar em 2012 um evento chamado de "Caravana do Desenvolvimento", no qual irá levar formadores de opinião a esses empreendimentos, mostrando o impacto positivo que eles trazem na vida de milhares de pessoas que antes viviam à margem da sociedade.



O governo também está atento a discussão sobre Belo Monte e está instalando uma base de operações na cidade de Altamira, no Pará, para acompanhar de perto o andamento da obra e analisar se todas as condicionantes ambientais, estipuladas pelo Ibama para a concessão da licença, serão cumpridas.

Fonte: http://www.valor.com.br/impresso/infraestrutura/governo-aposta-no-pac-para-fazer-pib-crescer-5

18.12.11

Sem o setor privado PIB não recupera em 2012

16/12/2011 às 00h00 2



Por Claudia Safatle

A aceleração do PAC, pretendida pelo governo, não será suficiente para levar o crescimento da economia para a casa dos 3,5% a 4% em 2012. O desaquecimento do nível de atividade foi substancial no segundo semestre do ano e o ânimo dos empresários, tanto locais quanto estrangeiros, está abatido.



"Se a presidente Dilma Rousseff não cooptar os banqueiros e os investidores privados a economia, que está aterrissando, não alçará voo no ano que vem", comentou um importante interlocutor da presidente, que compartilha da mesma preocupação. Não será um pequeno aumento nos investimentos públicos que sustentará o crescimento e esse tem sido tema de conversas no governo.



Em dezembro de 2008, no auge da crise externa que paralisou o crédito e derrubou a produção industrial, o então presidente Lula chamou um grande grupo de empresários ao Palácio do Planalto. Naquela ocasião o governo garantiu financiamentos e concedeu incentivos fiscais para uma série de setores, inclusive o automotivo. Ainda assim houve contração do PIB no ano seguinte.



Adiamento dos investimentos preocupa Dilma

Dilma foi aconselhada a fazer algo semelhante: persuadir os banqueiros a não reduzir a oferta de crédito e convencer os empresários do setor produtivo a retomar os cronogramas de investimentos, pois haverá demanda para seus produtos. Para isso, os instrumentos de incentivo seriam os mesmos (isenções fiscais, liberação de compulsórios).



Se a crise na zona do euro se mantiver no patamar em que está - sem a quebra de um banco ou de um país - na avaliação de economistas oficiais, o crescimento em 2012 deverá ser um pouco maior do que o deste ano. A última pesquisa Focus trouxe, pela primeira vez, uma previsão de crescimento neste ano abaixo de 3% (de 2,97%).



O relatório trimestral de inflação, que o Banco Central divulga no fim do mês, também deve trazer um prognóstico de crescimento para 2012 melhor do que o de 2011. No ano novo a atividade econômica começa em banho-maria e, na perspectiva desses economistas, terá melhora paulatina e moderada a cada trimestre, podendo ficar entre 3,5% e 4%. O Ministério da Fazenda trabalha com a possibilidade de crescer 4% e torce para que seja factível chegar a 5%.



Uma das grandes dificuldades dos economistas e analistas do setor privado, este ano, foi de projetar a variação do PIB. O Banco Central que, no fim de 2010, tinha expectativa de crescimento de 4,5% para este ano, em março fez revisão para 4% e, em setembro, baixou para 3,5%. A autoridade monetária tende a ser sempre conservadora nas suas previsões. Os economistas dos bancos, com raras exceções, demoraram a perceber a parada da atividade no terceiro trimestre. As tesourarias, ao contrário, notaram a desaceleração e reduziram os juros antes mesmo do Banco Central fazer o primeiro corte da Selic, em 31 de agosto.



O ministro Guido Mantega, da Fazenda, comentou em conversa recente com o Valor que banqueiros de grande porte lhe confessaram que subestimaram os efeitos das medidas macroprudenciais do BC para conter o crédito ao consumo. Essas, associadas ao aumento da Selic e ao agravamento da crise externa, resultaram na estagnação no terceiro trimestre. Não nos levaram a sério", disse o ministro.



O ano de 2011 foi de "correção dos excessos" de 2010. No último ano da gestão Lula, o crescimento chegou a 7,5% - muito acima do produto potencial (4,5%), a inflação do IPCA chegou a 5,91%, o superávit primário baixou para 2,78% e ainda assim às custas de um esforço contábil. O déficit em transações correntes do balanço de pagamentos foi de 2,3% do PIB, com previsão de aumento para 2,6% do PIB este ano.



A opção de Dilma Rousseff pelo restabelecimento da meta fiscal para 3,1% do PIB e a ação do BC para desacelerar o consumo, desacreditadas no início do governo, renderam resultados bastante razoáveis.



Do lado das contas externas, o déficit em conta corrente deve ficar muito próximo de 2% do PIB e será financiado com sobra pelo investimento estrangeiro direto. A meta de superávit fiscal de 3,1% será cumprida e continuará a ser perseguida pelos próximos três anos. O PIB teve uma queda muito forte, de 7,5% para 3% ou um pouco menos, e mesmo assim a taxa de desemprego continua das mais baixas que o país já teve.



Ficou a dever a inflação que "não caiu tudo que a gente queria, mas caiu", disse Mantega. A trajetória do IPCA seguiu a trilha preconizada pelo Banco Central. Foi crescente até setembro, quando bateu em 7,31% e começou a cair para 6,97% em outubro e 6,64% em novembro. A última previsão do BC é de que a inflação encerrará o ano em 6,4%, abaixo do teto da meta (6,5%). A pesquisa Focus aponta para exatos 6,5%.



A diferença entre estar na meta ou escapar dela na segunda casa decimal está na tarefa formal que o BC terá que cumprir. Se superar o teto, a autoridade monetária terá que escrever carta aberta ao ministro da Fazenda explicando porque deixou isso ocorrer e o que fará para levar a inflação para a meta em 2012.



Para 2012, o compromisso do BC continua a ser com o IPCA de 4,5%. A pesquisa Focus prevê 5,42%. Essa será uma nova batalha para o BC travar com o mercado.



Claudia Safatle é diretora de redação adjunta e escreve às sextas-feiras



E-mail claudia.safatle@valor.com.br

Fonte: http://www.valor.com.br/brasil/1141304/sem-o-setor-privado-pib-nao-recupera-em-2012

Cerca de 25% da população rural vive em situação de pobreza extrema


Segundo o IBGE, a miséria atinge 16.270 milhões da população brasileira. Na zona rural, o percentual de miseráveis é mais elevado.

Já faz algum tempo que o Brasil virou uma das maiores potências agrícola do mundo, produzindo o suficiente para alimentar sua população e importando pouco de outros países. O país também é grande exportador de carne, soja, frutas, café, milho e algodão. No entanto, é no campo, onde é gerada toda essa riqueza, que o Brasil ainda tem um grande número de pessoas vivendo à beira da miséria - uma dívida social que assombra.
Dos anos 90 para cá, o Brasil passou por grandes mudanças: ganhou uma nova moeda, conseguiu dominar a inflação, criou programas sociais importantes e a economia voltou a crescer. Só na última década, 40 milhões de pessoas entraram para a classe média no Brasil e a pobreza caiu ao menor nível da história. Atualmente, as categorias de renda mais elevadas e a vasta classe média brasileira já somam, juntas, cerca de 70% da população do país.
Mesmo com toda a evolução econômica e social das últimas décadas, muita gente ainda vive em condições de pobreza extrema. Segundo os dados mais recentes do IBGE, atualmente a miséria atinge 16.270 milhões de pessoas no Brasil, o equivalente a 8,5% da população total do país.
Para ser considerada extremamente pobre ou miserável, a família deve ter renda per capita de até R$ 70 por mês. Por exemplo, uma casa com seis pessoas que têm renda mensal de R$ 300 entra na lista da pobreza extrema porque, o rendimento total dividido pelo número de moradores, fica em apenas R$ 50 por mês.
Atualmente, 25% da população rural do Brasil vive em situação de pobreza extrema. Isso significa um em cada quatro moradores do campo. A maior parte deles se concentra no norte e, principalmente, no nordeste.
A comunidade de Pageú, no sertão da Bahia, é formada por 51 famílias, espalhadas em sítios e casinhas modestas. O agricultor Domingos Francisco da Hora e sua esposa Valdeci nasceram e cresceram na comunidade, onde vivem com uma família numerosa. “Sete filhos, dois netos, eu e mais meu marido. Vida é difícil, né? Não tem serviço para trabalhar. Assim mesmo, vamos levando a vida”, diz ela.
O cultivo fica perto da casa em que moram e as terras são da família da Valdeci há três gerações. Foi o avô dela quem começou a trabalhar na região. Eles têm dois hectares e vivem basicamente da agricultura. Na lavoura, tem milho, mandioca e feijão de corda. O casal não tem trator nem arado e para tocar o cultivo, conta com uma enxada, um facão e uma foice.
Com sementes de baixa qualidade, sem adubo ou defensivo, sem crédito ou orientação, a roça do casal costuma produzir pouco. A colheita é destinada ao consumo da família, mas muitas vezes, eles perdem tudo por causa da seca. Além da lavoura, o casal tem duas vacas adultas, que dão leite, só que com a estiagem dos últimos meses, ficaram tão magras e desnutridas, que pararam de produzir. Em volta da casa, eles têm uma dúzia de galinhas, dois porcos, algumas fruteiras e muitas crianças pulando, brincando e jogando bola.
Os filhos mais velhos do casal conseguiram serviço em uma fazenda da região. Fazer diária na roça é a principal maneira da família conseguir algum dinheiro vivo. Fora isso, eles contam com o complemento mensal do Bolsa Família, no valor de R$ 134. Somando esse repasse ao ganho variável com diárias, o rendimento médio da casa não passa de R$ 600 por mês. Como são 11 moradores, a renda média mensal por pessoa fica em torno de R$ 54.
Com pouco dinheiro e muita gente, o desafio é garantir o rancho de todo o dia. “A gente não pode comer bem todo o dia, mas a gente não enfrenta muito situação de fome”, garante Valdeci. A casa tem paredes de alvenaria, piso de cimento e telhas de barro. São três quartos sem armários, uma cozinha com fogão e geladeira, e uma sala com poucos móveis, um aparelho de som e uma televisão.
Em Sítio do Mato, 50,3% da população vive em condições de pobreza extrema. É o município com maior percentual de miseráveis da Bahia. Apesar das dificuldades, Valdeci explica que algumas mudanças dos últimos anos fizeram diferença. A primeira delas é a renda regular do Bolsa Família. Além do dinheiro mensal, a casa também passou a receber visitas regulares de agentes de saúde. Atualmente, o programa atende 13.170 milhões de famílias no Brasil.
Outra melhoria na comunidade foi a chegada da rede elétrica. Nos últimos anos, as casas do Pageú também receberam cisternas para armazenar água da chuva. A construção dos reservatórios foi paga com dinheiro federal e realizada em mutirão, com apoio de entidades locais. Nos anos 2000, mais de 400 mil cisternas foram construídas no sertão brasileiro.
Transferência de renda, agente de saúde, luz elétrica e água potável são as provas do aumento da presença do estado em comunidades pobres. Mesmo assim, alguns serviços básicos ainda não chegaram na região. A maior parte das casas de Pageú não tem banheiro ou fossa séptica para receber o esgoto. A comunidade não tem posto de saúde nem coleta de lixo. Os moradores contam com um poço artesiano, mas a água bombeada é salobra, contaminada e não serve para beber.
De maneira geral, as crianças estão na escola, uma evolução em relação ao passado. Os alunos mais velhos estudam na cidade e contam com transporte gratuito. Os mais novos frequentam a escolinha municipal, na própria comunidade. Crianças de séries diferentes ficam todas na mesma classe, o que é péssimo para o aprendizado. Outro problema grave é que, segundo os alunos, muitas vezes, falta a merenda, que deveria ser distribuída pela prefeitura.
Para Domingos e Valdeci, a educação das crianças é ponto de honra e esperança para um futuro melhor. Eles contam que, apesar das dificuldades, os filhos sempre frequentaram a escola e quatro deles já se formaram no ensino médio.
 

 

 

Vulcabras/Azaleia fecha seis fábricas na Bahia


Empresa diz que empregados serão transferidos para outras unidades.Decisão não tem relação com a abertura de fábrica na Índia, diz presidente.

 

Complexo de Itapetinga, principal unidade da
Vulcabras na Bahia (Foto: Divulgação)

 

A fabricante de calçados Vulcabras/Azaleia anunciou nesta sexta-feira (16) que vai fechar seis fábricas na Bahia, nos municípios de Potiraguá, Itarantim, Maiquinique, Ibicuí, Iguaí e Itati.
Em comunicado, a empresa informou que as demais unidades de produção no estado serão mantidas e que os 1.800 empregados das unidades onde as operações estão sendo encerradas serão transferidos para essas fábricas.
"Aos 1.800 colaboradores oferecemos a possibilidade de transferência para as demais unidades fabris da companhia que seguirão em atividade no estado (Itapetinga, Bandeira, Itambé, Macarani, Firmino Alves, Itaia, Itororó, Rio do Meio e Caatiba), e que contam com disponibilidade de capacidade de produção. Também disponibilizaremos transporte diariamente para estas localidades", disse presidente da companhia, o Milton Cardoso, em nota.
.
Segundo a Vulcabras, aos que não optarem pela transferência, será oferecida uma gratificação financeira de dois salários mínimos, além do pagamento de "todas as verbas rescisórias".


"Compreendemos a importância da empresa enquanto atividade econômica para estas comunidades, porém esta difícil decisão se faz necessária para a manutenção das condições de operação", destacou o comunicado.
Entre as razões para o encerramento das operações nas seis unidades, a companhia destacou o baixo volume de produção nas unidades, os elevados custos logísticos e a concorrência de calçados importados. Nas seis fábricas eram produzidos cabedais de calçados esportivos e feito sua montagem final, utilizando componentes da matriz de Itapetinga.
"Vale ressaltar que esta decisão não tem relação com a abertura da unidade fabril na Índia, que ainda está sendo viabilizada", disse Cardoso, no comunicado.
Segundo a empresa, a produção total do estado da Bahia não será reduzida e o complexo de Itapetinga continuará sendo a principal unidade da Vulcabras/|Azaleia.
"A Bahia é a grande produtora de componentes para nossos calçados, abastecendo as fábricas do Sergipe (Frei Paulo) e parcialmente a fábrica do Ceará (Horizonte). Além disso, é da Bahia que sai a maioria dos tênis Olympikus, dos chinelos Opanka e uma boa parte dos nossos calçados femininos (Azaleia e Dijean)", completou o comunicado..

fonte:

http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2011/12/vulcabrasazaleia-fecha-seis-fabricas-na-bahia.html