29.3.12

Ler é só a 7ª atividade favorita do brasileiro

Brasília – O índice de brasileiros que prefere ler no seu tempo livre caiu de 36% entre 2007 para 28% em 2011. É o que aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada nesta quinta-feira 28 pelo Instituto Pró-Livro.

O estudo tem como objetivo identificar os hábitos e as preferências dos leitores brasileiros. Assistir televisão continua sendo a atividade preferida e foi escolhida por 85% dos entrevistados. Em seguida aparecem escutar música ou rádio (52%), descansar (51%) e reunir-se com amigos e a família (44%). Cada entrevistado escolheu até cinco opções.

A leitura – incluindo jornais, livros, revistas e textos na internet – aparece em sétimo lugar na lista das atividades que o brasileiro mais gosta de fazer no seu tempo livre. Enquanto o percentual de entrevistados que declara gostar de ler cai, o grupo dos que aproveitam o tempo ocioso para acessar a internet subiu de 18% para 24% entre 2007 e 2011. A pesquisa também identificou um novo comportamento que não estava no estudo anterior: acessar as redes sociais, indicado como atividade frequente por 18% dos entrevistados.

Setenta e cinco por centro dos entrevistados dizem que leem por prazer e 25% por obrigação. Entre os entrevistados, 49% disseram ler mais hoje do que no passado, 28% acreditaram ler menos e 20% avaliaram que leem na mesma quantidade. A principal razão apontada por aqueles que diminuíram o volume da leitura foi o desinteresse (78%), o que inclui a falta de tempo, a preferência por outras atividades e a “falta de paciência para ler”. Apenas 4% apontaram a dificuldade de acesso aos livros como motivo para ler menos, o que inclui o preço do livro, a falta de bibliotecas perto de casa ou de livrarias.

Entre os participantes, 64% concordaram totalmente com a afirmação “ler bastante pode fazer uma pessoa vencer na vida e melhorar sua situação econômica”. Ao mesmo tempo, a maior parte diz que não conhece ninguém que tenha progredido na vida por ler muito.

O estudo também perguntou ao entrevistado qual era o significado da leitura para ele. Para 64%, a leitura é uma “fonte de conhecimento para a vida”. Entre as principais respostas obtidas estão ainda “fonte de conhecimento para atualização profissional” (41%) e “fonte de conhecimento para a escola” (35%). Apenas 6% consideram a leitura uma atividade cansativa e 5% acham que é entediante.

Fonte: htwww.cartacapital.com.br/sociedade/ler-e-so-a-7a-atividade-favorita-do-brasileiro/#todos-comentarios

28.3.12

Austrália é exemplo de que só queda de juro não segura câmbio, diz Nelson Barbosa

Em palestra para especialistas em macroeconomia estrangeiros e brasileiros na FGV, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda alertou que a variação da moeda da Austrália – o dólar australiano – frente ao dólar dos Estados Unidos segue mês a mês a mesma curva de apreciação e depreciação do real, apesar de conviver com uma taxa de juro oficial equivalente a menos da metade da cobrada no Brasil. Nelson Barbosa defende que a selic continue baixando, mas propõe outras medidas para conter o câmbio.

Mesmo com uma taxa de juro oficial que equivale a menos da metade da cobrada no Brasil, desde 2006 a variação da moeda da Austrália – o dólar australiano – frente ao dólar dos Estados Unidos segue mês a mês a mesma curva de apreciação e depreciação do real.

Esse é apenas um dos sinais em que se baseia o governo brasileiro para concluir que apenas a queda da selic, hoje em 9,75%, não evitará a valorização do real, fonte de prejuízos à indústria do país.

O exemplo australiano foi apresentado na última sexta-feira (23) pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, em palestra para economistas especializados em macroeconomia na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

Segundo Barbosa, analistas que atuam no mercado financeiro estimam que a sobrevalorização do real chegue hoje a 20%. Isso significa que se o preço do papel representasse o valor real de produtos e serviços “made in Brazil”, ele atingiria em torno de R$ 2,15 por dólar, e não os R$ 1,80 registrados atualmente.

Não que os altos juros brasileiros deixem de influenciar o câmbio. O secretário-executivo da Fazenda avalia que “desde o início da política de câmbio flutuante, o real tende a se apreciar quando não há choques domésticos ou internacionais”.

Mas estudos econométricos e o próprio exemplo australiano indicam que atacar o juro alto não basta. Barbosa levanta três hipóteses para o atual ciclo de apreciação cambial, que, segundo ele, iniciou-se em 2006.

- Redução do “risco Brasil” atrai dólares de investidores estrangeiros. As reservas internacionais, que podem ser usadas em eventual turbulência, não alcançavam US$ 50 bilhões em 2001, e hoje passam de US$ 350 bilhões.

- Valorização dos preços das commodities exportadas pelo Brasil não só ajuda a atrair mais dólares de investidores estrangeiros, como sinaliza que o país pode “sustentar uma moeda mais valorizada”.

- A elevação da renda per capita dos brasileiros eleva os preços dos produtos no país, sobretudo no setor de serviços, o que influencia preços relativos e gera apreciação cambial.

Diante dessas hipóteses, Barbosa afirma que os contextos econômicos externo e interno pressionam pela valorização do real no curto prazo, gerando volatilidade no médio prazo.

Qual a solução?

Além de continuar a reduzir a taxa selic, Barbosa defende a manutenção da flutuação cambial – “facilita o ajuste da economia quando há choques estrangeiros e domésticos” –, intervenções pontuais no câmbio, com compra de dólares pelo BC e “regulação do fluxo do capital”, além de incentivos fiscais e financeiros ao setor industrial.

“Mesmo que a apreciação cambial seja temporária, ela pode durar tempo suficiente para causar efeitos permanentes no desenvolvimento da economia”, alerta o secretário-executivo do ministério. “E o crescimento do setor industrial é crucial para o país”.

Fonte: www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19848

25.3.12

EMPREENDIMENTO CRIA UM BAIRRO INTEIRO NO ‘MEIO DO NADA’


A duas horas do centro do Rio de Janeiro, um megaempreendimento com 32 mil casas pode sinalizar um novo modelo de moradia no Brasil. Com financiamento do programa Minha Casa, Minha Vida, o Cidade Paradiso inaugura um procedimento bastante comum em outros países da América Latina, como o México: construir condomínios de casas para famílias, com tamanho de bairros inteiros, mas distantes dos grandes centros urbanos.

 
Cidade Paradiso cria um bairro em beira de rodovia. Foto: Reprodução do site

“Saindo da Cidade do México, depois de 1h30 de estrada, você chega num conjunto de 25 mil casas, no meio do nada”, explica a arquiteta Ermínia Maricato, pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Localizado no município de Nova Iguaçu, o Cidade Paradiso destina-se a moradores com faixa de renda de até cinco mil reais e faz parte da estratégia do governo de reduzir o déficit habitacional urbano. Equivale a área dos bairros de Copacabana e Ipanema juntos e está todo integrado no Minha Casa, Minha Vida.
O modelo suscita críticas entre especialistas. Letícia Figolo, do Laboratório da Habitação da FAU-USP, lembra que bairros isolados criam demanda de deslocamento, o que pode contribuir para o caos na mobilidade. Além disso, podem ter implicações no meio ambiente.
“Mexem com a terra para que ela fique plana, porque é mais fácil reproduzir o mesmo projeto no plano. Mas isso causa problema de drenagem e erosão”, aponta.
Segundo ela, o conjunto é emblemático pelas proporções. Mas, apesar de se apresentar como solução para a questão habitacional, não foca na faixa que mais sofre com a falta de moradia, que é a população com renda de até três salários mínimos. Além das casas, o projeto prevê um clube, parque e até mesmo pólo industrial.

Para Maricato, o Minha Casa, Minha Vida injetou dinheiro no mercado imobiliário sem um planejamento urbano. A explosão de preços dos imóveis, sobretudo nas grandes cidades, é uma de suas consequências. “Qualquer cidade importante vai sair desse circuito de especulação imobiliária intensa completamente transformada”, afirma.
Segundo Ermínia, uma parte importante das moradias brasileiras está na ilegalidade.Em São Paulo, a porcentagem é de 22%. Mas em algumas cidades, como Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo e Belém (PA), esse valor chega a 60%. Letícia Figolo aponta que empreendimentos como o Cidade Paradiso são uma opção para pessoas que viviam em áreas não regularizadas. Para Ermínia, essa parcela ilegal já faz parte da cidade brasileira.
A consequência é que, nesses lugares, o poder público não tem acesso. “Fonte importante de violência na cidade é o fato de não se ter lei para ocupar o solo e nem lei pra nada nesses lugares”, afirma.

O DESAFIO DE RETOMAR OS INVESTIMENTOS


A presidenta Dilma Rousseff reune 15 dos maiores empresários brasileiros para estimulá-los a investir mais no Brasil. Constatou-se que os grandes grupos estão com o caixa cheio e com alguma indecisão ainda em retomar investimentos graúdos. A intenção da presidente é estimular o chamado “espírito animal” do empresário.
 

Para deflagrar uma nova onda de investimento privado, no entanto, é importante entender melhor a dinâmica do desenvolvimento.
O primeiro e mais relevante passo é a criação de um mercado interno robusto. Já se tem, tanto no mercado de consumo de massa quanto no que se convencionou chamar de “gargalos” – que nada mais são do que pontos de demanda não atendida.
Além disso, o pré-sal criará uma demanda adicional incalculável para os setores de máquinas e equipamentos, naval, de mobiliário etc.
Tendo-se a demanda, o passo seguinte é viabilizar a produção. Para tanto, há que se ter duas condições especiais: capital para financiar o investimento e condições de competitividade em relação ao produto importado.
A primeira condição será alcançada com a mera redução da taxa Selic. A única influência da taxa é nas decisões de investimento. Baixando a Selic, os fundos de pensão, fundos de investimento, as próprias grandes companhias, terão que sair do conforto da renda fixa para a renda variável.
Hoje em dia já se tem um mercado de capitais bastante sofisticado para promover essa reciclagem da poupança.
Resta o último grande desafio: a competitividade do parque industrial brasileiro.
Há duas maneiras de tornar o produto brasileiro competitivo: qualidade (mais inovação tecnológica) e preço.
Há uma lógica nos modelos cambiais: quando a economia é pouco competitiva, compensa-se com câmbio fraco, moeda desvalorizada. Isso faz com que se consiga competir nos mercados globais com preços baratos. Depois, à medida que as empresas vão ampliando as vendas, ganham fôlego para investir em pesquisa, inovação, novos produtos.
Todo grande modelo de desenvolvimento mundial – Inglaterra, Japão, Itália e Alemanha no pós-guerra, Coreia, China – percorreu esse caminho. A lógica é simples: só depois de ampliar as vendas externas, ganhar dimensão, ter escala, mercado, a empresa conseguirá fôlego para investir em pesquisa e inovação.
Há outros fatores relevantes na definição de preço: o chamado custo Brasil. Entram nessa equação a estrutura de juros, o peso dos impostos, a infraestrutura, a burocracia pública. Quanto menos se avançar nesses itens, maior será o peso do câmbio.
Na entrevista que me concedeu, algumas semanas atrás, a presidente Dilma Rousseff enfatizou que seu grande desafio será a consolidação do parque industrial brasileiro.
Por enquanto, a Fazenda tem avançado apenas em questões pontuais de defesa comercial ou desoneração tributária de um ou outro setor.
Trata-se de um anacronismo – em termos de política industrial. E, nesse ponto, os mercadistas têm razão: em vez da proteção de um ou outro setor, como que querendo tapar os furos de uma peneira, há que se avançar em soluções sistêmicas, que abranjam toda a economia brasileira.

CLASSE C PASSOU A SER MAIORIA DA POPULAÇÃO EM 2011


O  ano passado, 2,7 milhões de brasileiros mudaram o perfil de renda, saindo das classes D e E para integrar a classe C. Além disso, 230 mil pessoas deixaram a classe média e entraram nas classes mais ricas (A e B).
 
Pesquisa indicou que capacidade de consumo do brasileiro aumentou, já que a renda disponível, ou o montante de sobra dos ganhos, subiu cerca de 20%. Foto: Daniel Teixeira/AE
Com isso, em 2011, a maior da parte da população (54%) já fazia parte da classe C. Isso representa uma mudança em relação ao verificado em 2005, quando a maioria (51%) estava nas classes D/E. É o que mostra a sétima edição da pesquisa Observador Brasil 2012, feita pela empresa Cetelem BGN, do Grupo BNP Paribas, em parceria com o instituto Ipsos Publics Affairs.
O levantamento também revela um aumento, em comparação a 2005, da porcentagem de brasileiros na classe A/B. Hoje a porcentagem é de 22%, em 2005, era de 15%.
Consumo e renda
A pesquisa indica ainda que a capacidade de consumo do brasileiro aumentou. A renda disponível, ou o montante de sobra dos ganhos, descontando-se as despesas, subiu pouco mais de 20% (de 368 reais, em 2010, para 449 reais, em 2011) . Na classe C, houve um aumento de 50% (de 243 reais para 363 reais).
Enquanto a renda média familiar das classes A/B e D/E ficaram estáveis, na classe C cresceu quase 8%. Mas a pesquisa mostra que em todas as classes houve um aumento da renda disponível, que ultrapassou 1 mil reais, entre os mais ricos.
“O aumento da renda disponível em todas as classes sociais indica que houve maior contenção de gastos”, destaca a equipe técnica responsável pela pesquisa.

IOF ajudou a conter entrada de aplicadores estrangeiros no país, avalia Tesouro Nacional


Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A taxação de investimentos de estrangeiros em renda fixa, em vigor desde 2009, está ajudando a conter a entrada de aplicadores internacionais no país, avaliam técnicos do Tesouro Nacional. De acordo com o órgão, o número de não residentes que compram títulos da dívida interna brasileira está estável depois das medidas destinadas a restringir o ingresso de capital externo de curto prazo.

De acordo com o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, a cobrança de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para estrangeiros que aplicam em renda fixa neutralizou o fluxo de investidores internacionais. Segundo ele, o total de aplicadores praticamente não tem se alterado nos últimos meses.
Apesar da estabilização no número de investidores, em valores absolutos, a fatia dos não residentes na dívida interna continua subindo e bate recordes mês a mês. Em fevereiro, os não residentes detinham R$ 209,1 bilhões em títulos públicos, contra R$ 205,6 bilhões em janeiro e R$ 202,3 bilhões em dezembro do ano passado.
Embora a quantia tenha aumentado em valores, Garrido explica que esse movimento não decorreu do ingresso de estrangeiros. “O volume aumenta porque o estoque dos papéis em poder dos estrangeiros está rendendo, não porque há mais investidores externos entrando no país”, alega o coordenador.
Outro sinal de que o IOF conseguiu conter a entrada de estrangeiros consiste na manutenção da fatia desse público na dívida interna, quando o volume absoluto é comparado com o endividamento total. Desde o ano passado, a participação dos estrangeiros na dívida interna oscila em torno de 11%.
Segundo Garrido, muitos desses investidores têm trocado títulos de curto prazo por papéis de prazo maior, mas a fatia dos estrangeiros pouco se altera. “Em fevereiro, observamos um fenômeno que tem ocorrido em diversos meses. O valor em reais dos estrangeiros na dívida interna aumenta, mas o percentual diminui por causa de mudanças no próprio estoque da dívida”, diz. No mês passado, a fatia dos não residentes atingiu 11,88%, contra 11,92% registrados em janeiro.
Desde 2009, a equipe econômica tem instituído a taxação da entrada de capitais estrangeiros para conter o ingresso de dólares no país e impedir a queda da cotação da moeda norte-americana, que prejudica as exportações brasileiras. Inicialmente, o governo passou a cobrar 2% de IOF, mas a alíquota subiu para 4% e está em 6% desde outubro de 2010.
Não apenas os investimentos em renda fixa tiveram a alíquota aumentada. O governo também reajustou ou passou a cobrar IOF de outros tipos de transações financeiras feitas por estrangeiros, como os depósitos de margem no mercado futuro e os empréstimos de empresas no exterior. As compras com cartão de crédito no exterior também passaram a pagar mais imposto. Somente os investimentos estrangeiros diretos, que geram emprego e aumentam a produção no Brasil, e os empréstimos para exportadores que querem se proteger da variação do câmbio não foram afetados.

Brasil registra déficit em transações correntes de US$ 1,766 bilhão em fevereiro


Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O déficit em transações correntes do Brasil, um dos principais indicadores das contas externas, ficou em US$ 1,766 bilhão em fevereiro, segundo dados divulgados hoje (23) pelo Banco Central (BC). No mesmo período de 2011, houve resultado negativo de US$ 3,482 bilhões.
A conta de transações correntes registra as compras e vendas de mercadorias e serviços. Nesse cálculo, estão as exportações e importações, que formam a balança comercial, com saldo positivo de US$ 1,715 bilhão, em fevereiro. Por outro lado, a balança de serviços (viagens internacionais, transportes, aluguel de equipamentos e outros) ficou negativa, em US$ 2,769 bilhões.

Na conta de rendas (remessas de lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários), o resultado negativo ficou em US$ 875 milhões. As transferências unilaterais correntes (doações e remessas de dólares que o país faz para o exterior ou recebe de outros países, sem contrapartida de serviços ou bens) registraram ingresso líquido de US$ 163 milhões.

Quando o país tem déficit em conta-corrente, ou seja, gasta além da sua renda, é preciso financiar esse resultado com investimentos estrangeiros ou tomar dinheiro emprestado do exterior.

Em janeiro, o investimento estrangeiro direto, que vai para o setor produtivo da economia, ficou em US$ 3,648 bilhões. Outra forma de financiar o déficit em transações correntes, os investimentos estrangeiros em carteira (ações e títulos de renda fixa) somaram US$ 1,147 bilhão.


Brasil tem 50 mil milionários, com R$ 434 bilhões aplicados, diz Anbima


Sobre 2010, houve avanço de 21,6% no total de ativos aplicados. Volume médio de recursos por cliente subiu para R$ 8,6 milhões.


Os brasileiros de alta renda - aqueles com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações e atendidos especificamente pelo canal de private banking - somaram 50.602 clientes em 2011 e fecharam o ano passado com R$ 434,4 bilhões investidos nos bancos, segundo levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), divulgado nesta sexta-feira (23).
Em relação a 2010, foi registrado avanço de 21,6% no volume de ativos sob gestão, praticamente o mesmo ritmo de expansão observado em 2010, quando registrou crescimento nominal de 22,9%.
A Anbima informou que revisou as estatísticas que compõem sua base de dados sobre a atividade de Private Banking e toda a série histórica, que contempla informações desde 2009. "O ajuste foi realizado após a associação detectar, em supervisão de rotina, que uma instituição estava informando de forma equivocada os dados referentes à atividade de private banking", informou a associação, em comunicado.
De acorco o código de regulação e melhores práticas de private banking, além de capacidade de investimentos mínima de R$ 1 milhão, é necessário que os respectivos clientes sejam
atendidos especificamente pelo canal de private banking.
"Com a revisão, foram excluídos da base de dados R$ 14,6 bilhões em patrimônio líquido, 15,8 mil clientes e 220 profissionais", informou a Anbima.
Números de clientes revisados
Com isso, o número de clientes no final de 2009 foi revisado de 56.991 para 42.680 e os do final de  2010, de 63.224 para 47.883. Segundo a Anbima, o número total de clientes conquistados pelo segmento somaram em dezembro de 2011 50.602 brasileiros. Ou seja, a base de clientes aumentou em ritmo mais lento, 5,7%, contra 12,2% em 2010. Já o volume médio de recursos por cliente subiu de R$ 7,5 milhões para R$ 8,6 milhões.
Segundo a Anbima, ao final de 2011, 43% dos ativos geridos pelo private banking estavam aplicados em fundos de investimento, proporção similar aos 42,9% registrados em dezembro de 2010. A participação das aplicações em títulos e valores mobiliários também permaneceu relativamente estável, saindo de 51,6% para 51,2%.
Nas aplicações diretas em títulos e valores mobiliários houve aumento da participação dos ativos de renda fixa, de 32,5% para 36,7%, e recuo dos ativos de renda variável, de 19,1% para 14,5%, refletindo o desempenho deste segmento em 2011. Nas aplicações em fundos de investimento houve crescimento da parcela investida em fundos exclusivos/restritos e em fundos estruturados.
Fonte: http://g1.globo.com/economia/mercados/noticia/2012/03/brasil-tem-50-mil-milionarios-com-r-434-bi-aplicados-diz-anbima.html

Vendas no varejo crescem 2,6% em janeiro, mostra IBGE


Crescimento foi o maior desde fevereiro de 2010.  Em receita nominal, houve expansão de 3,6% frente a dezembro.

Varejo janeiro (Foto: Editoria de Arte/G1) 

As vendas no comércio varejista brasileiro tiveram crescimento de 2,6% em janeiro na comparação com o mês anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira (23). O resultado é o melhor desde fevereiro de 2010, quando as vendas do varejo tiveram alta de 3,0%.
Em receita nominal, houve expansão de 3,6% frente a dezembro – o melhor resultado da série histórica do IBGE, que tem início em janeiro de 2000.
Na comparação com janeiro de 2011, as vendas do varejo cresceram 7,3%. Em 12 meses, a alta foi de 6,6%. Nas mesmas comparações, a receita nominal de vendas apresentou taxas de variação de 12,1% e de 11,4%, respectivamente.
Atividades
Na comparação com dezembro, o segmento de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo tiveram o maior crescimento, de 7,4%; seguido por tecidos, vestuário e calçados (5,2%).
Das dez atividades pesquisadas, outras cinco também tiveram crescimento no período: outros artigos de uso pessoal e doméstico (3,9%); material de construção (3,7%); livros, jornais, revistas e papelaria (2,0%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,2%); móveis e eletrodomésticos (0,4%).
As retrações ficaram por conta de combustíveis e lubrificantes (-0,3%); equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-2,3%) e veículos e motos, partes e peças (-2,9%).
Janeiro ante janeiro
Na comparação entre meses de janeiro, apenas combustíveis e lubrificantes teve resultado negativo, com queda de 0,7%.
Com alta de 7,6% nas vendas, o segmento de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo foi responsável pela metade do crescimento do varejo nessa comparação.


21.3.12

Faísca heterodoxa

Luiz Antonio Cintra


Tivesse vindo ao mundo por obra e arte de Alexandre Schwartsman, o ex-diretor do BC, baluarte da old fashioned ortodoxia, seria o caso de dizer como o poeta que não havia nada de novo sob o sol. Mas não foi assim, e daí a origem da polêmica que há algumas semanas agita, discretamente é verdade, os corredores do Instituto de Economia da Unicamp, berço da chamada escola campineira de pensamento econômico.
O combustível da fogueira, para surpresa e mal-estar de “campineiros” ilustres, foi um artigo publicado há algumas semanas pelo sociólogo e economista José Luís Fiori, parceiro de longa data de Maria da Conceição Tavares, com quem divide espaço na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o outro polo da mesma matriz heterodoxa, contrária à ortodoxia monetarista e ao liberalismo, que caracteriza a turma paulista de João Manuel Cardoso de Mello, Luiz Gonzaga Belluzzo, Wilson Cano e Luciano Coutinho.
Publicado originalmente no jornal Valor, o artigo de Fiori causou estranheza. Intitulado O “desenvolvimentismo de esquerda”, com aspas, o texto volta aos anos 1930 de Getúlio Vargas, onde localiza as raízes de um programa desenvolvimentista “militar e conservador”. A partir dos anos 1950, teria nascido sua versão “de esquerda”, segundo Fiori, no momento em que as ideias desenvolvimentistas foram encampadas pelo Partido Comunista Brasileiro, que apoiou Juscelino Kubitschek e seu projeto dos 50 anos em cinco. A genealogia inclui o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), criado em 1955 para projetar uma saída “nacional-desenvolvimentista” para o País. E ainda a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), sediada no Chile.
A "Escola de Campinas" reage à provocação de ter se tornado tecnocrática e obtusa. Foto: "A Provacação", ilustração de autor desconhecido, de 1776
A ruptura política de 1964, contudo, mudaria o rumo dessa história, como é sabido. “Três dias depois do golpe, o Iseb foi fechado; o PCB voltou à ilegalidade e a própria Cepal fez uma profunda autocrítica de suas antigas teses desenvolvimentistas. Mesmo assim, apesar dessas condições políticas e intelectuais adversas, formou-se na Universidade de Campinas, no final dos anos 1960, um centro de estudos econômicos capaz de renovar as ideias e as interpretações clássicas – marxistas e nacionalistas – do desenvolvimento capitalista brasileiro”, anota Fiori. “Hoje parece claro que a ‘época de ouro’ da Escola de Campinas foi da década de 1970 até a sua participação decisiva na formulação do Plano Cruzado, que fracassa em 1987. É verdade que logo depois do Cruzado, e durante toda a década de 1990, a crise socialista e a avalanche neoliberal arquivaram todo e qualquer debate desenvolvimentista. (…) Mas parece claro que a própria escola recuou, nesse período. E dedicou-se cada vez mais ao estudo de políticas setoriais e específicas, e para a formação cada vez mais rigorosa de economistas heterodoxos e de quadros de governo”
Em seguida o sociólogo ajusta a sua pontaria. “Com raras exceções, depois do Cruzado, a ‘escola campineira’ perdeu sua capacidade de criação e inovação dos anos 1970, e a maioria das suas ideias e intuições originárias acabaram se transformando em fórmulas escolásticas. Por isso, não é de estranhar que neste início de século XXI, quando o desenvolvimentismo e a escola campineira voltaram a ocupar- um lugar de destaque no debate nacional, a sensação que fica da sua leitura é que o ‘desenvolvimentismo de esquerda’ estreitou tanto o seu ‘horizonte utópico’ que acabou se transformando numa ideologia- tecnocrática, sem mais nenhuma capacidade de mobilização social. Como se a esquerda tivesse aprendido a navegar, mas ao mesmo tempo tivesse perdido a sua própria bússola”, provoca Fiori.
Coordenador da Rede Desenvolvimentista e representante ativo da “nova geração campineira”, o economista Ricardo Carneiro, professor do IE/Unicamp, ao ler o trecho final do artigo de Fiori, enviou seu e-mail de protesto ao autor. “Eu disse a ele que se o debate relevante ao País não está no desenvolvimentismo, onde está então? Quem está fazendo isso? É o PSOL? É alguma ONG? Não é na UFRJ, que na verdade tem menos expressão do que aqui. E se ele acha que não está em nenhum lugar, então vá pra casa, se aposente. Para mim existe e está nesse burburinho desenvolvimentista que junta contribuições de governos, universidades e da sociedade civil. Propusemos trazer essa discussão para dentro da universidade, mas ele não quis participar.”
Um fórum adequado seria a Rede Desenvolvimentista, criada em dezembro passado, hoje com 52 participantes, a maioria da Unicamp e UFRJ, entre os quais o próprio Fiori, mas também outros “medalhões” associados ao pensamento heterodoxo, como Carlos Lessa e Luiz Carlos Bresser-Pereira.
“Concordo com a crítica da fragmentação das análises mais recentes, mas esta é uma constatação que não dependeu das pessoas, mas das conjunturas. Curioso é que o Fiori não vê que o próprio desenvolvimento recente do País favorece uma retomada da discussão mais ampla”, acrescenta Carneiro. “E não vejo qual o problema de ter um pensamento que resulte em quadros para trabalhar no governo, apesar de eu e vários outros terem preferido permanecer na academia. O desenvolvimentismo não é uma concepção teórica. É uma estratégia de desenvolvimento. E claro que é possível dar ao desenvolvimentismo um conteúdo na direção do socialismo, mas para isso é preciso ampliar a oferta de bens públicos para reduzir as desigualdades no longo prazo. A história nova foi colocar o social no eixo do desenvolvimentismo.”
Fernando Nogueira da Costa, colega de Carneiro na Unicamp, segue a mesma linha de análise: “Podemos dizer que a tradição aqui é, sim, desenvolvimentista, ao contrário da USP de Fernando Henrique Cardoso, que sempre foi anti-Vargas. E hoje, participando dos governos de Lula e Dilma, estamos seguindo essa tradição”. E acrescenta: “A crítica do Fiori é válida, provocadora de todo um debate e não deve ser descartada. Mas ele atacou quem ele não leu, já que a minha geração pôde publicar pouco, mas tem produção eletrônica e de pesquisa muito relevante. O IE começou com nove professores, nos anos 1960, mas já teve 110 no total. E ganhou escala com centros de pesquisa especializados, núcleos de excelência em várias áreas. É uma geração especialista porque aquela visão sistêmica já tinha sido feita, o diagnóstico geral, então precisávamos aprofundar as análises.”

 Fonte: www.cartacapital.com.br/politica/faisca-heterodoxa/

19.3.12

90% das cidades baianas estão à beira da ‘falência’, aponta IFGF

Estado possui 82 municípios entre os 500 piores na gestão das contas


Pelo menos 90% dos municípios baianos não sabem administrar seus recursos financeiros. É o que aponta o Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF), divulgado ontem, pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Baseada em dados de 2006 a 2010, a pesquisa afirma que 82 das 374 cidades baianas investigadas estão entre as 500 piores do país - um quinto das prefeituras (ver tabela abaixo).

Os elevados gastos com pessoal e a dificuldade na administração dos restos a pagar, além dos investimentos reduzidos explicam os péssimos resultados da Bahia, conforme o levantamento. “As médias dos índices de liquidez, gastos com pessoal e investimentos dos municípios baianos indicam uma situação difícil”, diz o relatório.

A constatação da Firjan não surpreende o consultor de gestão pública Luis Otávio Borges. “Moramos, de fato, em um estado pobre”, afirma. Para ele, a eficiência da máquina pública é comprometida por fatores como informalidade, corrupção, tráfico de influência e, em alguns casos, falta de vontade política.
Borges justifica que no quesito de gestão de pessoal, por exemplo, em boa parte dos municípios baianos o poder público é o grande empregador da região. “Com isso, mais de 50% da arrecadação é comprometida com pagamento de pessoal, o que diminui os investimentos”.

Neste aspecto, diz o consultor, o ideal seria a redução dos gastos, para que se aumentasse a verba de investimentos, gerando, consequentemente, mais emprego e renda para a população. “Mas não se pensa, por exemplo, na profissionalização do serviço público. Cada um [prefeito] quer colocar nos cargos pessoas do seu time. Este modelo é falido”.

Para o presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Luiz Caetano (PT), prefeito de Camçari, outro grave problema enfrentado pelos municípios é a inadimplência. “Muitos acumulam dívidas de gestões anteriores e ficam na pendenga”.
Além disso, ele aponta que a maioria dos municípios não tem arrecadação própria e dependem, basicamente, do repasse do estado e da União. “É uma questão de crise mesmo. Os municípios são deficitários. As despesas acabam ultrapassando o teto e ele se torna ingovernável”, ressalta.

Tanto Caetanto quanto o consultor Borges concordam que, para reverter esse quadro, será preciso uma reforma tributária. “É preciso ajustar a base de cálculo. A divisão dos impostos é muito injusta. Enquanto o estado arrecada com o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), sobram as migalhas para o município”, diz Borges.

Metodologia
Para chegar ao índice que classifica a gestão fiscal de cada município, a Firjan utilizou dados oficiais, declarados à Secretaria do Tesouro Nacional. O indicador considera cinco quesitos: receita própria, referente à capacidade de arrecadação; gastos com pessoal; liquidez, que verifica a relação entre o total de restos a pagar acumulados no ano e os recursos disponíveis para cobrí-los; os investimentos municipais; e o custo da dívida, que avalia o comprometimento do orçamento com o pagamento de juros e amortização de empréstimos contraídos.

Salvador é mau exemplo de gestão fiscal, diz estudo
No ranking estadual, entre os 10 melhores desempenhos (ver tabela acima), os municípios se destacaram por ter apresentado elevado nível de investimento: nove dos 10 primeiros colocados tiveram resultados muito próximos à nota máxima (0,8001). Em primeiro lugar no estado e em 68º no ranking nacional, Jaborandi, no oeste da Bahia, foi o único com conceito A, sendo exemplo de sucesso, mesmo com receitas próprias baixas.

Na outra ponta do ranking, entre os 10 piores índices, chamaram atenção os nove zeros no IFGF Liquidez, que foi o caso, por exemplo, de Ibirataia, que ficou com o pior resultado do estado. Além disso, outros sete tiveram zeros no IFGF Gastos com Pessoal, entre eles Ibicaraí e Canavieiras. Os números indicam que em 2010 nove cidades terminaram o ano com mais restos a pagar do que dinheiro em caixa e sete ultrapassaram o limite de 60% da receita líquida. Por sua vez, Salvador também não obteve bom resultado.

A capital baiana ficou na 23ª posição entre as capitais brasileiras; na 136ª no ranking estadual; e em 3.373º lugar na classificação nacional. De acordo com o estudo, o quadro negativo é explicado pelos baixos índices de investimento e custo da dívida, além da nota zero em liquidez. “A capital baiana é um exemplo de que ter elevada geração de receitas próprias não é garantia de uma boa gestão fiscal”, aponta o estudo. Da mesma forma que Salvador, as outras maiores cidades do estado - Feira de Santana, Vitória da Conquista, Camaçari e Juazeiro - apresentaram dificuldades na gestão fiscal. A única com boa gestão entre os cinco maiores (conceito B), Camaçari se destacou devido aos baixos gastos com pessoal e boa administração de restos a pagar.

“Conseguimos eficiência nos gastos, principalmente, com a profissionalização de nossa equipe técnica", destacou o secretário da Fazenda de Camaçari, Paulo Cézar, que afirmou que o município estuda maneiras de aumentar a receita com a revisão de alguns impostos. O CORREIO entrou em contato com a Secretaria Municipal da Fazenda de Salvador, mas o secretário Joaquim Bahia não foi localizado para comentar o desempenho ruim da capital no ranking de gestão fiscal.

Norte e Nordeste: menores índices
O estudo da Firjan mostra que as regiões Sul e Sudeste do país concentram os municípios com melhor qualidade de gestão fiscal, com 81 cidades entre as 100 melhores do Brail. Do lado oposto, aparecem o Norte e o Nordeste, com 93 municípios entre os 100 piores no que diz respeito à eficiência orçamentária das prefeituras. O município de Santa Isabel, em Goiás, lidera o ranking nacional como a cidade com melhor eficiência na gestão fiscal: 0,9747 pontos.

O estado de São Paulo tem mais seis municípios entre os 10 melhores. Lista esta em que Paraná, Minas Gerais e Pará também têm representantes. As cidades do Nordeste predominam na lista dos 10 piores resultados. No ranking, em ordem decrescente, estão Pindoba (AL), Porto da Folha (SE), Conceição (PB), Lagoa de Dentro (PB), Buerarema (BA), Teixeira (PB), Conselheiro Mairinck (PR), Ibirataia (BA), Piaçabuçu (AL) e Ilha Grande (PI), com a pior gestão do país.

A região Sul aparece como grande destaque do IFGF, no levantamento, respondendo por quase 47,6% dos 500 melhores resultados em 2010. O percentual é duas vezes superior à sua representatividade em número de municípios (22,3%). O diferencial da região Sul foi o menor enrijecimento das contas públicas com a folha de salário, o que abriu mais espaço para os investimentos.

Situação é crítica em 65% do BrasilA situação fiscal é “difícil” ou “crítica” para quase 65% dos municípios brasileiros, enquanto a excelência na gestão está restrita a 2% das cidades do país. Segundo o estudo da Firjan, 83% de 5.266 municípios, do total de 5.565 existentes hoje no país — não consegue gerar nem 20% da receita de seu orçamento. E só 83 prefeituras, 1,6% do total, conseguem pagar a folha de pessoal com dinheiro próprio.

As outras 98,4% precisam de transferências da União e dos estados. “Existe uma dependência crônica dos repasses de outras esferas do governo. A maioria dos municípios não tem consciência dos recursos e fica difícil se programar”, afirmou Gabriel Pinto, da gerência de Estudos Econômicos da Firjan. De acordo com ele, este é um fato preocupante porque cidades com frágil sistema de gestão caminham eventualmente para a “falência”.

Entre as capitais, apenas sete ficaram entre os 500 melhores resultados. Porto Velho (RO), Porto Alegre (RS) e Vitória (ES) foram as únicas avaliadas com excelência, seguidas por São Paulo (SP), Curitiba (PR), Campo Grande (MT) e Florianópolis (SC). Os três piores resultados foram de Natal (RN), Macapá (AP) e Cuiabá (MS). 

 Fonte: http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/90-das-cidades-baianas-estao-a-beira-da-falencia-aponta-ifgf/

O desenvolvimentismo de direita

   Luiz Gonzaga Belluzzo

Em um de seus derradeiros artigos publicados na Folha de S.Paulo, Roberto Campos sentenciava que “os ‘desenvolvimentistas’ não entendem nada de desenvolvimento”. Nesse momento, corria solto, no governo FHC, o conflito entre desenvolvimentistas e a turma do deixa disso.
Entre tantos talentos, Campos passou a vida aperfeiçoando o de espicaçar tudo o que se assemelhasse à heterodoxia. Ex-seminarista e conhecedor de grego, sabia da importância da palavra doxa.
Essa inclinação ao mot d’esprit, sempre beirando o sarcasmo, parece vicejar com mais força entre os conservadores que, num momento de irreflexão, flertaram com o progressismo. Nesse mister, Campos chegou ao delírio, lançando boutades de grosso calibre contra todo tipo de socialismo, nacionalismo e outros partidarismos que considerava irracionais. Dizia, por exemplo, que, “no socialismo, as intenções são melhores que os resultados e, no capitalismo, os resultados são melhores que as intenções”. Achincalhou a “bazófia nacionaleira que substitui a organização pela emoção e confunde a energia intrínseca da onda com o farfalhar frívolo da escuma”.
Em matéria de (mau) humor, exagerou na dose quando apoiou o golpe militar de 1964 e, no livro Do Outro Lado da Cerca, de 1967, escreveu: “Sobre as eleições diretas no Brasil, o melhor que se pode dizer é que funcionaram bem enquanto não existiram”. Uma espécie de revanche do cinismo autoritário contra os exageros da sua razão democrática.
Ministro do governo Castelo Branco, foi protagonista, juntamente com Otávio Gouveia de Bulhões e Mário Henrique Simonsen, das reformas econômicas e financeiras que prepararam o “Milagre Brasileiro” do fim dos anos 1960 e começo dos 1970.
Como M. Jourdain, personagem de Molière no Burgeois Gentilhomme, Campos foi um desenvolvimentista sem saber. Isso é o que diz a sua biografia de homem de Estado, a despeito de suas preferências intelectuais e ideológicas. Entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o começo dos anos 1950, participou de todos os empreendimentos e reconstruções institucionais que alicerçaram o surto desenvolvimentista. Depois de concluir o mestrado em Economia na Universidade George Washington, integrou a delegação brasileira na Conferência de Bretton Woods, em 1944. Em 1950, participou da II Conferência da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), foi conselheiro da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e teve papel preponderante na fundação do BNDE.
Ao assumir a direção do banco, ensejou a criação do grupo misto Cepal-BNDE, um valhacouto de desenvolvimentistas que espalharia (e continua espalhando) suas ideias malignas, por muito tempo, Brasil afora.
Campos, tal como outros que o sucederam na corrente conservadora, escrevia uma coisa e fazia outra. Sua vantagem é que a maré do capitalismo estava na enchente, enquanto os pósteros pegaram a vazante.
O “desenvolvimentismo”, enquanto projeto ideológico e prática política nos países da periferia, nasceu nos anos 30, no mesmo berço que produziu o keynesianismo nos países centrais. A onda desenvolvimentista e a experiência keynesiana tiveram o seu apogeu nas três décadas que sucederam o fim da Segunda Guerra Mundial. O ambiente político e social estava saturado da ideia de que era possível adotar estratégias nacionais e intencionais de crescimento, industrialização e avanço social.
Os resultados, ainda que desiguais, não foram ruins. Comparada a qualquer outro período do capitalismo, anterior ou posterior, a era desenvolvimentista e keynesiana apresentou desempenho muito superior em termos de taxas de crescimento do PIB, de criação de empregos, de aumentos dos salários reais e de ampliação dos direitos sociais e econômicos. A moda então entre os economistas, sociólogos e cientistas políticos, eram as teo-rias do desenvolvimento, os modelos de crescimento econômico e o estudo das técnicas de programação e de planejamento.
Não se trata, naturalmente, de reinventar nem de chorar o “desenvolvimentismo” perdido, de resto uma experiência histórica singular do capitalismo. Mas é possível concluir, ao menos, que os “desenvolvimentistas” entendiam bastante de desenvolvimento. Desconfio – sempre mergulhado na dúvida, mas apoiado nos acontecimentos recentes – que entendiam do assunto deles muito mais do que os assim chamados monetaristas imaginam saber dos mistérios da moeda.
Seja como for, o historiador Fernand Braudel, no primeiro volume de sua obra maior, Civilização Material, Economia e Capitalismo – Séculos XV a XVIII, analisando os ciclos econômicos de longa duração, não perdeu a oportunidade de incomodar o leitor com uma frase terrível: “O homem só é feliz em breves intervalos e só se dá conta disso quando já é muito tarde”.

Fonte: www.cartacapital.com.br/economia/o-desenvolvimentismo-de-direita/

18.3.12

O novo consumidor brasileiro

O consumidor brasileiro de 2012 não é o mesmo de até bem pouco tempo atrás. Com mais dinheiro no bolso, os clientes ficaram mais exigentes e passaram a dar valor a detalhes que já não podem ser ignorados pelo mercado varejista. O brasileiro de hoje gosta de vinho, whisky importado, praticidade e rejeita produtos genéricos ou gordurosos. Não por acaso, embora a renda dos trabalhadores tenha aumentado, a venda de sabonetes, pães e leites comuns tem tido um crescimento baixo nos últimos anos .
Além disso, os produtos à venda competem com a oferta de serviços, como os relacionados à educação.
As conclusões fazem parte de um estudo elaborado pela consultoria Nielsen e que serão apresentados no seminário “As Tendências do Mercado de Consumo”, na próxima quarta-feira 21, no Cultural Clube Transatlântico, na Granja Julieta (São Paulo). Em entrevista a CartaCapital, o gerente-executivo da empresa no Brasil, Eduardo Ragasol, fala sobre as tendências do mercado para atender este novo público e lista o que deve encalhar nas prateleiras das redes varejistas.
Marcas mainstream, diz ele, levam vantagem. Já produtos que copiam os líderes, mas com qualidade inferior e menor preço sofrerão com a redução da demanda. Consequências da emergência de uma nova clientela.
Saiba quem são e o que querem os novos consumidores brasileiros:
Novos valores e prioridades
Quem começou a ganhar mais dinheiro no último biênio deve priorizar os gastos com educação e carro próprio, além de quitar dívidas adquiridas nos anos anteriores. “O público da classe C está viajando muito mais que viajava antes”, afirma Ragasol. Assim, o crescimento do mercado de consumo, ainda que positivo, será moderado. Em 2011, foi de apenas 1,2%. Em2012, a Nielsen aponta para a mesma proporção. Em contrapartida, o crescimento em valor desse mercado cresceu 8,2%.  Ou seja: a expansão ocorrerá sobretudo na venda de produtos mais caros e de maior qualidade. Nesse sentido, o setor mainstream – marcas lídres, bem posicionadas – levarão vantagem. Quem quiser se inserir, terá de entrar com produtos diferenciados, seguindo os quatro parâmetros abaixo:
Sofisticação: O crescimento de 40% no mercado de vinho mostra como o brasileiro tem procurado bem-estar e sofisticação ao escolher os produtos que irá consumir. O whisky importado levou vantagem em relação ao nacional, por exemplo.
Praticidade: Com a inclusão da mulher no mercado de trabalho e os hábitos da vida urbana,  a procura por soluções mas rápidas e convenientes tem crescido. Assim, produtos que facilitem a vida de quem cuida da casa são tendência. Entre eles, amaciantes, sabão em pó e inseticidas com spray automático. No setor alimentício, o consumo de biscoitos de marcas líderes e alimentos congelados deve crescer ainda mais.
Apelo à saúde: A sofisticação e praticidade se unem ao desejo de consumir alimentos mais saudáveis. Iogurtes funcionais, pães especiais, leites sem lactose ou sem gordura se enquadram na categoria de produtos que têm tido crescimento nas vendas. Sucos prontos, práticos e que apelam para um estilo de vida mais saudável também terão aumento de procura. Sabonetes líquidos e antibacterianos são tendência no setor de cosméticos.  Em contraposição, sabonetes, pães e leites comuns tem tido um crescimento inferior nas vendas.
Conveniência
Segundo Ragasol, o consumidor não está mais disposto a grandes deslocamentos para realizar suas compras. Estabelecimentos de pequeno porte espalhados no território das cidades levam vantagem, em contraposição ao modelo de hipermercados, distantes do local de moradia dos clientes.
Crédito
A expansão do crédito, segundo a consultoria, é um dos fatores que impulsionam a economia. O seu crescimento acelerado, no entanto, pode resultar em inadimplência. “Isso ocorreu em 2010, de forma que o crédito diminui em2011”, afirma. O crédito sinaliza a confiança do consumidor – nesse quesito, o Brasil é o quinto no ranking mundial e o líder na América Latina.
Perfil
Além de engordar a nova classe média – que corresponde hoje a 95 milhões de pessoas, mais da metade da população – o aumento da renda e do mercado formal, aliada a redução do desemprego, impulsionou o consumo na Classe D. Ou seja, quem recebia até um salário mínimo há dois anos, tinha um poder de compra menor do que hoje. Agora, com o emprego fixo, as pessoas têm mais confiança na hora de gastar. A expansão do crédito também explica o aquecimento do mercado.

 Riscos/consequências:
- Inflação. Para Ragasol, o aquecimento econômico brasileiro está preso em uma armadilha: a inflação. “Toda vez que o governo impulsiona crédito e consumo, a economia decola, mas com inflação”, afirma Ragasol. “Para segurar a inflação, por sua vez, o governo segura variáveis econômicas”. Para combater esse empecilho, Ragasol aponta que o Brasil terá de rever sua estrutura de custos e impostos, além de investir em infraestrutura e melhorar a logística da indústria. Apenas simplificar a tributação, sem necessariamente reduzir a arrecadação, já seria um avanço. As empresas acabam gastando para conseguir pagar seus impostos e entender o complexo sistema fiscal do país. “Outras economias já mostraram que, se você tiver as condições certas, no entorno legal e de infraestrutura, ela pode crescer sem inflação”, afirma.
 - Crise internacional: A economia brasileira ainda está baseada na exportação de commodities. Se a crise externa se agravar e a economia europeia realmente implodir, o Brasil sofrerá com a redução de demanda por matérias primas – o verdadeiro motor da economia brasileira, segundo Ragasol.

fonte: http://www.cartacapital.com.br/economia/o-novo-consumidor-brasileiro/