Valor Economico (SP)
Risco: Gasto do consumidor fica estagnado nos EUA e cai em países europeus
De São Paulo
A crise da dívida europeia já está afetando o consumo tanto na Europa como nos EUA. Uma redução prolongada no gasto do consumidor pode minar a recuperação dessas economias, dizem analistas.
Na Europa, vários países vêm registrando queda no consumo, como reflexo de temores relacionados à crise da dívida pública. As estimativas do HSBC quanto aos resultados gerais de maio são de que "o consumo privado foi fraco".
Consumidores europeus temem que os planos de ajuste fiscal elevem o desemprego, como é previsto por economistas. Além disso, há pressão por redução de salários, o que já está ocorrendo com funcionários públicos em alguns países. Alguns governos também estão congelando ou até reduzindo benefícios de aposentadoria.
Segundo pesquisa da CBI, principal associação de indústrias do Reino Unido, 48% dos varejistas britânicos relataram queda no volume de vendas nas duas primeiras semanas de maio, em relação ao mesmo período do ano anterior.
"A pesquisa da CBI reforça nossa velha preocupação de que a recente tendência de alta do consumo - e, por consequência, do crescimento, já que o consumo responde por cerca de 65% do PIB britânico - ficará limitada por algum tempo", disse Howard Archer, economista da IHS Global Insight.
Na Alemanha, a indústria continua a se recuperar, diz o instituto DIW. Mas "os claros ganhos em indústrias-chave voltadas para exportação" se mostram ameaçados "pelo lado da demanda, já que o consumo privado continua sendo um problema", segundo o DIW.
Já na Grécia, país que deu ignição à crise da dívida europeia, a principal associação de comércio do país, a Esee, espera uma quebradeira de pequenos lojistas. Segundo Vassilis Korkidis, presidente da Esee, cerca de 60 mil pequenos varejistas, um terço do total do país, devem fechar as portas até o fim do ano. "O movimento caiu 30% em relação ao ano passado", disse Korkidis. "Muitas lojas não fazem uma única venda em vários dias."
O aumento dos impostos sobre o consumo e a gasolina e os cortes dos salários dos funcionários públicos fizeram com que o poder de compra do consumidor caísse em média 10%, segundo cálculos de associações comerciais gregas.
"A locomotiva do crescimento em 2011-12 e daí para frente não será o consumo, como foi no passado, especialmente consumo movido a crédito", reconheceu o ministro das Finanças grego, Louka Katseli. Para ele, o país dependerá de investimentos privados e exportações para crescer.
Apesar de o ministro grego apostar nos investimentos privados, economistas esperam uma marcada queda na confiança do consumidor na zona do euro. Resta saber se empresários vão investir num ambiente tão pessimista.
Outros países europeus fora da zona do euro também estão sentindo o impacto da apreensão do consumidor com a crise econômica. Na Hungria, as vendas caíram 4% em março, após uma queda de 4,3% em fevereiro. Na Letônia, as vendas de varejo caíram em abril num ritmo mais acelerado: -7,7%, contra -7,4% em março. Na Lituânia, o Banco Central estima uma queda de 7,9% no consumo doméstico em 2010.
E não é só na Europa que essa tendência pode ser notada.
Os gastos dos consumidores americanos ficaram estagnados em abril, apesar de a renda ter crescido e de a inflação ter sido mínima, informou o governo na sexta. Como o consumo é responsável por 70% da atividade econômica americana, o enfraquecimento é uma má notícia para a recuperação econômica do país.
Analistas tinham previsto um crescimento dos gastos em abril entre dois e três décimos, mas o resultado foi zero, segundo o Departamento de Comércio. Em fevereiro os gastos tinham subido 0,5% e, em março, 0,6%. Em abril, a renda dos americanos subiu 0,4%. A alta foi impulsionada pelo aumento dos salários pagos pelas empresas, que estão voltando a contratar.
Em vez de gastar o dinheiro, os americanos preferiram poupá-lo, o que fez com que a taxa de poupança subisse para 3,6% em abril, contra 3,1% de março.