30.6.10

Preocupação com economia mundial e bancos europeus derruba mercados

30 de junho de 2010

Valor Economico (SP)

Dave Shellock, Financial Times

A aversão a riscos teve uma ascensão dramática, ontem, elevando o rendimento dos títulos do governo americano para mínimos históricos e prejudicando ações, commodities e o euro diante das grandes preocupações com a recuperação econômica mundial e a saúde do sistema bancário europeu.

Temores em relação ao crescimento da China assustaram os investidores depois que, nos EUA, o Conference Board informou que seu recém-adotado indicador econômico antecedente para o país subiu apenas 0,3% em abril, substancialmente abaixo de sua estimativa preliminar: uma alta de 1,7%. "Isso gerou preocupações com que o crescimento chinês possa estar perdendo sustentação, e por isso a demanda de commodities poderá cair, pois governos em todo o mundo estão contendo despesas e implementando medidas de austeridade", disse Michael Hewson, analista da CMC Markets.

Dados econômicos decepcionantes provenientes do Japão vieram se somar ao clima pessimista na Ásia.

O Conference Board divulgou ainda que a confiança dos consumidores americanos caiu neste mês - aumentando temores de que a economia possa estar caminhando para um segundo mergulho recessivo. O índice de confiança tombou de 62,7 para 52,9, em maio, bem abaixo das expectativas dos analistas.

Rob Carnell, economista-chefe internacional do ING, registrou em fevereiro uma queda similar que não tinha se refletido em outras pesquisas de confiança. Mas, acrescentou ele: "Se há alguma substância genuína nesse declínio detectado na pesquisa do Conference Board, então isso significa duas coisas - primeiro, que as despesas pessoais reais, que vêm apresentando alguns sinais de atenuação, poderão diminuir drasticamente. Em segundo lugar, os mercados de trabalho podem não estar melhorando tão rápido quanto os mercados gostariam ".

Mas o fator inquietante mais importante, ontem, talvez tenha sido o fato de os mercados estarem preocupados com a liquidez dos bancos na zona euro, especialmente em vista da aproximação do fim do programa de um ano de suporte financeiro do Banco Central Europeu. "Durante semanas, temores quanto à capacidade de algumas instituições no setor bancário europeu de obterem fundos vêm minando a confiança no mercado", disse Jane Foley na Forex.com. Alguns dos mercados têm argumentado que o BCE pode estar agindo prematuramente, ao retirar seu apoio. Os bancos espanhóis foram enfáticos, ontem, acusando o banco central de comportamento "absurdo.

As preocupações sobre a saúde dos bancos da região elevaram a taxa euribor de empréstimos interbancários para três meses de 0,754% para 0,761%, nível mais alto em nove meses e maior alta num só dia desde abril. Um dos principais indicadores de ampla aversão dos investidores a riscos - o índice Vix de volatilidade acionária - saltou 15%, para 33%. Um valor acima de 30% é considerado elevado.

O salto no Vix ocorreu depois que as ações em todo o mundo sofreram pesadas perdas. Em Wall Street, a Média Industrial Dow Jones mergulhou para abaixo de 10 mil pontos, enquanto o S&P 500 caiu 2,3%, para um mínimo de 2010 ao meio-dia. Na Europa, o FTSE Eurofirst 300 caiu 3%, em Tóquio, o Nikkei 225 caiu 1,3% e as ações em mercados emergentes sofreram a maior queda num só dia em mais de um mês. A Bolsa de São Paulo teve forte queda, de 3,5%, a segunda maior do ano.

Os mercados de crédito sofreram menos do que as ações. O índice Markit iTraxx Senior Financials ganhou 8 pontos-base, indo para 171 pontos-base - um passo significativo, mas não tão dramático, de acordo com Gavan Nolan, da Markit. A percepção de segurança no iene e no dólar fez o euro afundar para um mínimo em 8,5 anos contra a moeda japonesa e perder 0,9% contra o dólar. O euro também atingiu um mínimo recorde contra o franco suíço. Os preços das commodities, segundo o índice CRB Reuters-Jeffries, caiu 2,4%, para um mínimo em duas semanas.30 de junho de 2010


Valor Economico (SP)

Dave Shellock, Financial Times

A aversão a riscos teve uma ascensão dramática, ontem, elevando o rendimento dos títulos do governo americano para mínimos históricos e prejudicando ações, commodities e o euro diante das grandes preocupações com a recuperação econômica mundial e a saúde do sistema bancário europeu.

Temores em relação ao crescimento da China assustaram os investidores depois que, nos EUA, o Conference Board informou que seu recém-adotado indicador econômico antecedente para o país subiu apenas 0,3% em abril, substancialmente abaixo de sua estimativa preliminar: uma alta de 1,7%. "Isso gerou preocupações com que o crescimento chinês possa estar perdendo sustentação, e por isso a demanda de commodities poderá cair, pois governos em todo o mundo estão contendo despesas e implementando medidas de austeridade", disse Michael Hewson, analista da CMC Markets.

Dados econômicos decepcionantes provenientes do Japão vieram se somar ao clima pessimista na Ásia.

O Conference Board divulgou ainda que a confiança dos consumidores americanos caiu neste mês - aumentando temores de que a economia possa estar caminhando para um segundo mergulho recessivo. O índice de confiança tombou de 62,7 para 52,9, em maio, bem abaixo das expectativas dos analistas.

Rob Carnell, economista-chefe internacional do ING, registrou em fevereiro uma queda similar que não tinha se refletido em outras pesquisas de confiança. Mas, acrescentou ele: "Se há alguma substância genuína nesse declínio detectado na pesquisa do Conference Board, então isso significa duas coisas - primeiro, que as despesas pessoais reais, que vêm apresentando alguns sinais de atenuação, poderão diminuir drasticamente. Em segundo lugar, os mercados de trabalho podem não estar melhorando tão rápido quanto os mercados gostariam ".

Mas o fator inquietante mais importante, ontem, talvez tenha sido o fato de os mercados estarem preocupados com a liquidez dos bancos na zona euro, especialmente em vista da aproximação do fim do programa de um ano de suporte financeiro do Banco Central Europeu. "Durante semanas, temores quanto à capacidade de algumas instituições no setor bancário europeu de obterem fundos vêm minando a confiança no mercado", disse Jane Foley na Forex.com. Alguns dos mercados têm argumentado que o BCE pode estar agindo prematuramente, ao retirar seu apoio. Os bancos espanhóis foram enfáticos, ontem, acusando o banco central de comportamento "absurdo.

As preocupações sobre a saúde dos bancos da região elevaram a taxa euribor de empréstimos interbancários para três meses de 0,754% para 0,761%, nível mais alto em nove meses e maior alta num só dia desde abril. Um dos principais indicadores de ampla aversão dos investidores a riscos - o índice Vix de volatilidade acionária - saltou 15%, para 33%. Um valor acima de 30% é considerado elevado.

O salto no Vix ocorreu depois que as ações em todo o mundo sofreram pesadas perdas. Em Wall Street, a Média Industrial Dow Jones mergulhou para abaixo de 10 mil pontos, enquanto o S&P 500 caiu 2,3%, para um mínimo de 2010 ao meio-dia. Na Europa, o FTSE Eurofirst 300 caiu 3%, em Tóquio, o Nikkei 225 caiu 1,3% e as ações em mercados emergentes sofreram a maior queda num só dia em mais de um mês. A Bolsa de São Paulo teve forte queda, de 3,5%, a segunda maior do ano.

Os mercados de crédito sofreram menos do que as ações. O índice Markit iTraxx Senior Financials ganhou 8 pontos-base, indo para 171 pontos-base - um passo significativo, mas não tão dramático, de acordo com Gavan Nolan, da Markit. A percepção de segurança no iene e no dólar fez o euro afundar para um mínimo em 8,5 anos contra a moeda japonesa e perder 0,9% contra o dólar. O euro também atingiu um mínimo recorde contra o franco suíço. Os preços das commodities, segundo o índice CRB Reuters-Jeffries, caiu 2,4%, para um mínimo em duas semanas.

Retomada perde fôlego nos EUA e expansão em 2011 pode ser menor

30 de junho de 2010

Valor Economico (SP)

Desacelerando: Maioria dos economistas não acredita, porém, numa recaída na recessão

Jon Hilsenrath e Mark Whitehouse, The Wall Street Journal

As bolsas e os rendimentos dos títulos do Tesouro americano caíram fortemente ontem por causa do crescente temor de que a economia dos Estados Unidos possa estar perdendo fôlego.

A Média Industrial Dow Jones baixou 2,6%, fechando abaixo da barreira psicológica dos 10.000 pontos, por causa da queda na confiança do consumidor americano, da revisão para baixo de um indicador econômico chinês e da preocupação com a saúde dos bancos europeus. Os rendimentos dos títulos de dez anos do Tesouro americano caíram para menos de 3% e atingiram o nível mais baixo desde abril de 2009, um sinal de que os investidores estavam buscando aplicações seguras.

O Conference Board, um centro de pesquisas sem fins lucrativos, informou ontem que a confiança do consumidor americano caiu em junho, apagando os ganhos dos dois meses anteriores. O índice caiu para 52,9, ante os 62,7 do mês anterior, que também foi revisado para baixo, com um aumento do número de famílias que dizem que "está difícil" conseguir empregos.

Antes, o Conference Board fez uma significativa revisão para baixo do indicador antecedente de crescimento na economia chinesa. Os investidores também ficaram tensos por conta do fim do programa do Banco Central Europeu de ampliar os financiamentos de 12 meses aos bancos do continente.

Uma recessão em forma de "W" ainda é amplamente vista como improvável. Mas a queda na confiança é apenas o sinal mais recente que sugere que a economia pode perder fôlego no segundo semestre de 2010 e, talvez, crescer mais lentamente que na primeira metade de 2011.

O ritmo lento de criação de empregos é um ponto crucial do problema. Acredita-se que o relatório do Departamento de Trabalho, que sai na sexta-feira, mostre um aumento nas contratações do setor privado em junho, ao mesmo tempo em que o departamento do censo americano dispensa os trabalhadores temporários que contratou para fazer o levantamento da população do país. Mas os sinais de obstáculos econômicos sugerem que o crescimento futuro do emprego pode ser fraco.

Entre os obstáculos estão os sinais de que o mercado imobiliário ruma para um novo período de desaquecimento e de que surgem condições financeiras menos capazes de estimular o crescimento, já que as ações estão em queda, o dólar está se fortalecendo e o mercado de crédito ainda enfrenta dificuldades. O cenário mundial se tornou mais incerto, com os governos na Europa, como no Reino Unido e na Alemanha, voltando suas atenções à redução dos déficits orçamentários.

Existem razões para otimismo. A renda pessoal está em alta, o que dá sustentação a um crescimento do consumo das famílias. Os fluxos de caixas das empresas estão fortes, contribuindo para os investimentos e as contratações. E a recuperação industrial tem sido robusta, ainda que possa perder fôlego por conta da reposição lenta dos estoques.

A economia americana cresceu a uma taxa anualizada de 2,7% no primeiro trimestre, e, na média, economistas ouvidos pelo Wall Street Journal acreditam que ela se expandiu a um ritmo anualizado de 3,6% no segundo trimestre, que termina hoje. A previsão média é de uma taxa modesta de crescimento de 3% no segundo semestre, mas alguns analistas consideram essa previsão otimista.

"Estou ficando mais pessimista em relação à capacidade da economia de voltar a se acelerar no quarto trimestre e no primeiro semestre de 2011", diz Paul Kasriel, economista-chefe do banco Northern Trust, de Chicago. Ele espera que a economia cresça a uma taxa anualizada de cerca de 2,5% no segundo semestre.

O presidente americano, Barack Obama, expressou otimismo em relação às perspectivas depois de um encontro ontem pela manhã com Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA. Obama afirmou que ele e Bernanke "compartilham da opinião de que a economia está se fortalecendo", lembrando que os EUA foram de uma perda mensal de 750.000 empregos no ano passado para cinco meses de crescimento do emprego.

Uma coisa que pesa sobre a economia é o mercado imobiliário, que, depois de se estabilizar, está novamente perdendo força, agora que o incentivo do governo à compra de casas foi retirado.

Mark Petit, dono da M&M Contractors, uma firma de Salem, no Estado de Massachusetts, afirmou que viu um aumento expressivo na demanda por serviços de construção de telhados e outros negócios em março, abril e maio, quando as pessoas fizeram consertos de problemas causados pelas chuvas e arrumaram suas casas para vendê-las. Mas, em junho, os negócios ficaram 20% abaixo do nível do ano passado. "Eu estava muito ocupado, mas não achava que isso iria durar", diz ele. "Infelizmente, eu estava certo."

Pausas não são incomuns no início de uma recuperação. Depois de se recuperar da recessão no fim de 2001 e início de 2002, a economia americana teve um período de 12 meses em que se expandiu a uma taxa anualizada de mero 1,5%, suscitando temores de que pudesse voltar à recessão. No fim de 1991, o crescimento perdeu força depois que a recuperação já tinha começado.

Nos últimos 12 meses, a economia teve um início de retomada mais forte do que em 2002.

A incerteza está pesando sobre os executivos de empresas. A Lincoln Paper and Tissue, que fica na cidade de Lincoln, no Estado do Maine, está agora operando a plena capacidade. Mas não planeja expandir as operações ou ampliar o seu quadro de 390 funcionários. "Nós estamos nos segurando e não estamos contemplando nenhuma grande mudança agora", diz o presidente, Keith Van Scooter.

Autoridades do Fed acreditam que os fatores positivos devem superar as preocupações e manter a recuperação nos trilhos, o que deixaria o banco central em condições de começar a elevar a taxa de juro de curto prazo em algum momento no futuro. Um tropeço criaria um dilema para as autoridades do Fed. As taxas de juros estão perto de zero, de modo que eles não têm a ferramenta tradicional de cortar os juros para combater uma economia vacilante, se necessário.

O governo Obama ainda está fazendo pressão por uma extensão dos benefícios a trabalhadores que foram dispensados, medida que está parada no Senado. Os deputados do Partido Democrata, de Obama, não conseguiram aprovar uma extensão dos benefícios de desemprego ontem.

O mercado imobiliário serviu como um lembrete do impacto potencial da remoção da ajuda federal numa economia frágil. Em maio, depois do fim dos incentivos fiscais para a compra de imóveis, o número de obras residenciais iniciadas caiu 10%, numa taxa com ajuste sazonal, e as vendas de residências novas despencaram 33%, para uma taxa anualizada de 300.000 - a menor já registrada.

A perda do dinheiro do estímulo também atinge governos estaduais e municipais, que enfrentam um déficit público combinado de cerca de US$ 137 bilhões este ano e US$ 144 bilhões em 2011. Alguns Estados já gastaram a maior parte dos recursos federais de educação reservados para os anos escolares de 2009-2010 e 2010-2011. Sem mais dinheiro por receber, eles têm cortado serviços e demitido dezenas de milhares de professores.

(Colaborou Justin Lahart)

Só Estados e estatais têm superávit em maio

30 de junho de 2010

Valor Economico (SP)

Setor público: No governo central, INSS e gasto com juros provocam déficit de R$ 1,4 bi, o pior da série para o mês

Luciana Otoni e Fernando Travaglini, de Brasília

O governo central, que inclui União, Banco Central e previdência, registrou o pior resultado primário da série histórica para um mês de maio, com um déficit de R$ 1,431 bilhão. O desempenho, abatido por efeitos sazonais, foi afetado pelos gastos do INSS (R$ 2,590 bilhão) e também por um aumento das despesas com juros. Em parte, o déficit do governo central foi compensado por economias feitas por governos regionais (R$ 1,469 bilhão) e também pelas empresas estatais (R$ 1,392 bilhão). Assim, o setor público brasileiro consolidado apresentou um superávit primário de R$ 1,43 bilhão em maio.

No acumulado em doze meses, a conta está em R$ 38,046 bilhões - ou 2,72% do PIB. A expectativa tanto do Banco Central como do Tesouro Nacional é pelo cumprimento da meta de 3,3% do PIB.

O Tesouro também divulgou ontem que o governo central teve déficit de R$ 509 milhões no mês de maio - os números diferem porque o Tesouro apura os dados do ponto de vista do caixa, não do financiamento, como o BC. O secretário do Tesouro, Arno Augustin acredita que em junho o resultado deva ser positivo.

Augustin, durante a divulgação dos números, fez questão de manifestar preocupação e contrariedade com a discussão do reajuste do judiciário no Congresso. A aprovação na Câmara do projeto de lei que institui o plano de carreiras dos servidores do poder Judiciário, e que estabelece aumento salarial de até 56%, pode desencadear uma onda de reivindicações por aumento de salário em várias categorias do Executivo e do Legislativo.

"Novos aumentos para pessoal preocupam porque as carreiras estão alinhadas e mais reajustes trazem uma preocupação fiscal relevante", afirmou. "Não são compatíveis e não acho que sejam razoáveis", complementou. Se aprovada, a reestruturação de carreiras gerará despesa de R$ 7 bilhões no Orçamento. O projeto de lei passou pela Comissão de Trabalho da Câmara e aguarda apreciação nas comissões de Finança e de Constituição e Justiça da Câmara.

A preocupação do Tesouro teve como contraponto ontem a projeção do Banco Central de que as receitas do setor público devem continuar o processo de recuperação, dado o aquecimento econômico, acompanhadas por uma acomodação nas despesas em decorrência do contingenciamento de quase R$ 10 bilhões efetuado pelo governo federal.

"Do ponto de vista da arrecadação, a receita está em franca recuperação", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, em coletiva para divulgar os números do resultado fiscal do mês de maio. "A arrecadação está reagindo bem e o contingenciamento já anunciado terá efeito maior a partir dos dados de junho", completou Lopes.

O secretário Arno Augustin tenta evitar a aprovação do projeto de reajuste do Judiciário que cria mais gastos. Por outro lado, argumenta que os reajustes já negociados não impactam as contas públicas. Entre janeiro e maio, a despesa com o pagamento de servidores atingiu R$ 65,9 bilhões, correspondendo a um acréscimo nominal de R$ 5,2 bilhões em comparação a igual período do ano passado. O motivo dessa elevação foram gastos com a reestruturação de carreiras.

Ao criticar as novas negociações para reajustes salariais, Augustin ponderou que o acréscimo na despesa com pessoal entre 2009 e 2010 é sustentável. Graças ao elevado crescimento da economia neste ano em comparação ao ano passado, o gasto com o funcionalismo diminuiu em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB). A variação real sobre a expansão nominal da economia passou de 18,7% entre janeiro e maio de 2009 para -4,6% em igual período deste ano. Enquanto no primeiro trimestre deste ano a economia registrou expansão de 9% frente a janeiro-março do ano passado, os três primeiros meses de 2009 computaram queda de 1,8% do PIB sobre 2008.

De acordo com projeções do Supremo Tribunal Federal, se a matéria for aprovada, a remuneração do analista judiciário classe C passará de R$ 10.436 para R$ 16.324. O técnico judiciário classe C, que ganha R$ 6.360, receberá R$ 9.949. Já o auxiliar judiciário classe C, com R$ 3.767, passará a receber R$ 5.892. Ao enviar o projeto, o STF alegou que o plano de carreira é necessário para conter a alta rotatividade dos servidores do Judiciário, que segundo o tribunal é de 23%.

BC: gasto com juros em 12 meses é o maior da história

30 de junho de 2010

Estadao.com.br

FABIO GRANER E FERNANDO NAKAGAWA Agencia Estado

BRASÍLIA - O chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, disse hoje que, em maio, os gastos do setor público com o pagamento de juros, no acumulado de 12 meses, somaram R$ 179,363 bilhões, o nível mais alto da série histórica. O resultado ocorreu apesar da relativamente baixa taxa Selic (o juro básico da economia) acumulada em 12 meses até maio (8,8% ao ano), ante 12,6% nos 12 meses encerrados em maio de 2009.


Segundo Altamir, a rigidez do gasto com juros do setor público mostrada pelos dados relativos aos últimos 12 meses é explicada pela combinação de uma dívida em grande parte prefixada, que demora mais tempo para gerar despesas menores, pela elevação da taxa de inflação - que remunera outra parte da dívida - e, por fim, pelo impacto dos empréstimos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cuja remuneração recebida pelo Tesouro Nacional é menor que o custo de captação dos recursos.

Dinâmica da dívida

Altamir Lopes destacou que a dinâmica da dívida pública brasileira é "benigna", com queda ao longo do tempo em função dos superávits primários. Ele listou uma série de países desenvolvidos que têm dívidas mais elevadas que o Brasil e ainda estão com previsão de alta no endividamento este ano, segundo dados de abril do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os Estados Unidos, por exemplo, fecharam 2009 com dívida líquida de 58,3% do Produto Interno Bruto (PIB) e devem encerrar 2010 com 66,2%. Na Alemanha, o índice passará de 64,3% para 68,6% do PIB; na França, de 67,7% para 74,5%; na Itália, de 113,2% para 116%. No Brasil, a dívida líquida em 2009 fechou em 42,8% do PIB e em maio já recuou para 41,4% do PIB.

O BC previa que a relação entre dívida e PIB fecharia 2010 em 40%, mas Altamir explicou que amanhã, com o relatório trimestral de inflação, uma nova projeção será divulgada.

Serasa: inadimplência das empresas cai 10,9% em maio

30 de junho de 2010

Estadao.com.br

FABRÍCIO DE CASTRO Agencia Estado

SÃO PAULO - A inadimplência das empresas recuou 10,9% em maio, em relação ao mesmo mês do ano passado, informou hoje a Serasa Experian, empresa especializada em análise de crédito. Na comparação com abril, houve alta de 1,6% na inadimplência das empresas. No período de janeiro a maio deste ano, em relação ao mesmo período de 2009, houve queda de 9,3% na inadimplência, o que representa o maior recuo acumulado nos primeiros cinco meses do ano desde 2004.


De acordo com os analistas da Serasa Experian, o período de janeiro a maio do ano passado foi marcado pela baixa na atividade econômica, em razão da crise financeira mundial. Em 2010, no entanto, a receita das empresas está subindo, o que contribui para reduzir a inadimplência. A alta verificada em maio ante abril, segundo os técnicos da Serasa Experian, ocorreu porque os dados não são dessazonalizados. Além disso, maio tem um dia útil a mais.

No acumulado do ano até maio, o valor médio das dívidas das empresas com bancos foi de R$ 4.771,33, o que representa uma alta de 3,5% em relação aos cinco primeiros meses de 2009. No caso dos títulos protestados, o valor médio foi de R$ 1.610,17, uma queda de 10,5% ante o mesmo período de 2009. Já os cheques sem fundos emitidos por empresas apresentaram, de janeiro a maio, valor médio de R$ 2.004,36, uma alta de 38,6% na mesma base de comparação.

Grandes empresas

Na análise por porte, a inadimplência das grandes empresas caiu 19,8% em maio, em relação ao mesmo mês de 2009. As médias empresas apresentaram baixa de 23,8%, enquanto as micro e pequenas tiveram queda de 9,7%. A expectativa é de que, no terceiro trimestre, a inadimplência das empresas continue em queda.

Na comparação de maio com abril, porém, houve alta de 6,3% da inadimplência entre as grandes empresas, de 5,9% entre as médias e de 1,3% entre as pequenas. Segundo os técnicos da Serasa Experian, o crescimento da inadimplência entre as grandes e médias empresas está ligado ao fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e às dificuldades para a exportação de produtos, considerando o câmbio valorizado. O Indicador Serasa Experian de Inadimplência das Empresas, divulgado mensalmente, considera cheques sem fundos, títulos protestados e dívidas vencidas em todo o País.

BC eleva de 5,8% para 7,3% projeção de crescimento do PIB em 2010

30 de junho de 2010

Estadao.com.br

Em relatório, autoridade monetária afirma que a acomodação observada no comércio e na indústria em abril não constitui uma alteração na tendência de crescimento

Fernando Nakagawa e Fábio Graner, da Agência Estado

SÃO PAULO - O Banco Central elevou sua projeção oficial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 de 5,8% para 7,3%, de acordo com o Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quarta-feira, 30. No documento, os diretores do BC afirmam que "o crescimento vigoroso registrado pelo PIB no primeiro trimestre do ano evidencia a consolidação do atual ciclo de expansão da economia brasileira."

De acordo com o documento, "a acomodação observada em abril, na atividade industrial e nas vendas do comércio varejista, não constitui indicativo de alteração na tendência de crescimento, que deverá seguir sustentada pelas trajetórias favoráveis do mercado de trabalho e dos índices de confiança de empresários e consumidores, e pela intensificação das operações de crédito."

O relatório também destaca que a atividade interna continua evidenciando o dinamismo da demanda doméstica "ressaltando-se o crescimento acentuado dos investimentos, consistente com o patamar elevado da confiança do empresariado e com o cenário de aumento do nível de utilização da capacidade instalada". Nesse trecho do relatório, os diretores do BC destacam que o consumo das famílias continua sendo "impulsionado pelo nível elevado da confiança dos consumidores, pelos aumentos recorrentes da massa salarial e pela melhora nas condições do mercado de crédito".

Por fim, o BC cita que o setor externo continua contribuindo negativamente para o crescimento do PIB. Esse comportamento é explicado pela diferença entre a atividade nas economias brasileira e mundial e seu efeito negativo sobre a balança comercial.

Empresa brasileira vive sob o império de controles cruzados

30 de junho de 2010

Folha de S.Paulo (SP)

J. GERALDO PIQUET CARNEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Luigi Einaudi, presidente da Itália nos anos 1950, dizia que o verdadeiro milagre italiano era o fato de que o país se desenvolvia apesar das dificuldades que o governo criava para impedir que isso acontecesse.
Einaudi estava se referindo à proverbial burocratização italiana. Algo parecido se pode dizer do Brasil dos dias atuais. Em plena crise mundial, o Brasil cresce e se oferece como porto seguro para investimentos nacionais e estrangeiros. Os sinais do desenvolvimento são visíveis nas plataformas de petróleo que aguardam reboque na baía da Guanabara, em aviões lotados e na ascensão social de 30 milhões de pessoas.
Paradoxalmente, o Brasil continua uma ilha de empreendedorismo cercada de exigências governamentais por todos os lados.
Amargamos o 129º lugar entre 183 países no índice de facilidade (ou dificuldade) para fazer negócio, segundo o Banco Mundial.
Isso decorre, como se sabe, do excesso de burocracia para criar empresa, cadastrá-la junto a uma pluralidade de órgãos federais, estaduais e municipais, pagar impostos, obter crédito público, tirar alvará de funcionamento, cumprir a legislação ambiental e assim por diante. Os que acreditam no determinismo histórico da burocracia afirmam se tratar de um viés cultural insuperável.
Sem dúvida, é uma saída confortável entregar os pontos e considerar que a burocratização faz parte da "tradição cultural", como a farra do boi, o linchamento e outras patologias sociais. Afinal, esses encargos burocráticos podem ser agora tirados de letra pela informatização crescente -temos talvez um dos mais sofisticados programas de declaração on-line de renda do mundo e certidões negativas podem ser requeridas pela internet.
Nada disso. O que temos hoje é um país (empresas e cidadãos) manietado por controles "cruzados" de várias espécies. Criar empresa, contrair empréstimo, exportar, participar de concorrência são atos que não têm, em si mesmos, interesse fiscal. E são esses controles que tudo retardam. Que tal revogá-los?


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JOÃO GERALDO PIQUET CARNEIRO é advogado e presidente do Instituto Helio Beltrão. Foi secretário-executivo e coordenador do Programa Nacional de Desburocratização.

"Manicômio tributário" produz 34 normas por dia

30 de junho de 2010

Folha de S.Paulo (SP)

Custo para lidar com burocracia relacionada a impostos é estimado em R$ 20 bi

Especialista afirma que excesso de normas cria "parasitismo" da parte de advogados da área para seguir mudanças

DE SÃO PAULO

Com a maior carga tributária entre os emergentes, o Brasil impõe ao setor privado um custo anual estimado em R$ 20 bilhões para lidar com a burocracia relacionada à arrecadação de impostos, taxas e contribuições.
Além de consumirem em impostos o equivalente a cerca de 35% do PIB, as três esferas de governo editaram mais de 240 mil diferentes normas tributárias em 20 anos, segundo o IBPT.
Isso obriga as empresas a manter dezenas de funcionários voltados exclusivamente para atender as exigências do Estado e acompanhar as mudanças. Na média desses 20 anos, foram editadas 34 alterações por dia.
"O que acaba ocorrendo é um parasitismo nosso, dos advogados, para se aproveitar dessa confusão", diz Carlos Sundfeld, da Direito GV.
Segundo ele, um dos exemplos emblemáticos do "manicômio tributário" é o histórico dos últimos anos da lei 8.666, de 1993, conhecida como Lei das Licitações.
É por meio dela que são fechados milhares de contratos entre a iniciativa privada e o setor público.
"Uma série de pequenas mudanças, no lugar de uma nova reformulação, acabou gerando mais incertezas e confusão", diz Sundfeld. Ele caracteriza a 8.666 hoje como "um desastre formal".
Antonio do Amaral, da OAB, diz que os custos e riscos relacionados à tributação fazem com que a "insegurança jurídica" seja o "tônus dominante" entre as empresas.
"Uma tributação não contemplada pode resultar, no limite, em multas que inviabilizam a empresa", diz.
Para João Eloi Olenike, presidente do IBPT, não é só o desacordo entre União, Estados e municípios que impede a reforma tributária para simplificar a arrecadação.
"O governo não quer mexer nisso, pois a verdade é que ele arrecada tudo o que precisa", diz Olenike.
Para Sundfeld, no que se refere à arrecadação, o sistema "é extremamente eficiente". "O problema é que não conseguimos burilar e simplificar. É disso que estamos falando."

(FERNANDO CANZIAN)

Burocracia custa R$ 46 bi e incentiva informalidade

30 de junho de 2010

Folha de S.Paulo (SP)

Para Fiesp, PIB per capita do Brasil poderia crescer 17% com simplificações

Economia informal no país chega a 40%, ante 16,5% na média de 12 países utilizados como comparação em estudo

FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO

O custo anual da burocracia para as empresas brasileiras calculado pela Fiesp (federação das indústrias paulistas) é de aproximadamente R$ 46,3 bilhões, na comparação com os gastos com esse item em 12 outros países.
Grande parcela das despesas com a burocracia no país destina-se somente a atender demandas tributárias das três esferas de governo (federal, estadual e municipal).
O cálculo é resultado da análise de vários levantamentos sobre o tema compilados pela Fiesp em recente trabalho de 41 páginas.
Com três blocos de propostas para o combate à burocracia, o documento será discutido entre seus diretores e distribuído a milhares de formadores de opinião e a autoridades que poderiam ajudar a combater o problema.
Segundo a Fiesp, a relação entre o PIB e a população (PIB per capita) no Brasil poderia aumentar em US$ 1.300, para US$ 9.100 (R$ 16 mil), caso o país reduzisse o gasto com burocracia para a média dos 12 países do levantamento.
São eles: Alemanha, Austrália, Canadá, Chile, Cingapura, Coreia do Sul, Costa Rica, EUA, Espanha, Finlândia, Irlanda e Japão.
Os R$ 46,3 bilhões que o Brasil gasta com burocracia equivalem a mais do que tudo o que o PAC 2 prevê em investimentos para saneamento básico entre 2011 e 2014.
Para chegar às conclusões, o Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp cruzou dados do Banco Mundial com os de FGV, CNI (Confederação Nacional da Indústria) e institutos internacionais.
"O que vemos é a ausência de uma agenda para o tema. Não há nada no sentido de simplificar a burocracia no Brasil", diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor da Fiesp.
Procurado pela Folha, o Ministério da Fazenda não se dispôs a comentar os avanços da chamada agenda de "Reformas Microeconômicas", lançada pelo ex-ministro Antônio Palocci em 2004.

INFORMALIDADE
Segundo a Fiesp, a elevada burocracia não só empurra as empresas para a informalidade (40% do PIB no Brasil, ante 16,5% na média dos 12 países) como acaba inchando despesas estatais.
O Brasil gasta com seu funcionalismo o equivalente a 12% do PIB, acima de Japão e Espanha, países com serviços estatais superiores.
Grande parte dos gastos com a burocracia, segundo a Fiesp e o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), está relacionada ao que o professor de direito administrativo da Direito GV, Carlos Ari Sundfeld, chama de "manicômio tributário".
Isso consiste no pagamento de 63 tributos federais, estaduais e municipais e na observância de 3.200 normas, 56 mil artigos, 34 mil parágrafos, 24 mil incisos e 10 mil alíneas voltadas à arrecadação de impostos no Brasil.

"PASSADO JURÁSSICO"
Não por acaso o planejamento tributário é um dos setores que mais crescem e que mais abrem vagas na área tributária no país, segundo Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB-SP.
"O que temos hoje é uma alta sofisticação técnica no campo da informática e da arrecadação. Mas um passado jurássico do ponto de vista dos direitos de cidadãos e empresas", diz Amaral.
"Para seguir as modificações, o trabalho nessa área acaba sendo mais mecânico do que intelectual", afirma.

29.6.10

Procura por crédito decepciona

29 de junho de 2010

Valor Economico (SP)

Financiamento: Concessão para empresas cresce em ritmo abaixo do previsto por bancos

Aline Lima, de São Paulo

A demanda das empresas por crédito está aquém do esperado pelo setor bancário. A percepção geral entre os bancos privados é de que há mais oferta de financiamentos na praça do que demanda de tomadores. "A procura está um pouco menos acelerada do que o previsto", afirma Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú Unibanco. "Mas ela continua existindo", ressalta.

Na virada de 2009 para 2010, os bancos apostavam que o forte crescimento do PIB e a demanda reprimida por crédito corporativo em função da crise fariam com que o financiamento a empresas crescesse a taxas superiores aos empréstimos a pessoas físicas, alterando o mix das carteiras. Mas com o ano chegando à metade, as projeções não se cumpriram à risca. "Mantemos a previsão de crescimento da carteira de crédito total na faixa de 20% a 25%, só que agora o resultado tende mais para 20% do que para 25%", diz Calderón.

No Bradesco, apesar de o ritmo de concessões estar dentro do esperado, segundo Nilton Pelegrino, diretor de empréstimos e financiamentos, é o segmento de pessoas físicas que tem impulsionado as operações de crédito, ao contrário do que o banco esperava. Os desembolsos para o varejo crescem 40% acima das concessões para empresas. Em suas projeções para o ano, o Bradesco esperava que as empresas fossem as responsáveis por puxar a expansão da carteira de crédito, com previsão de crescimento entre 25% a 29%, ante um intervalo de 16% a 20% para as pessoas físicas.

Entre os clientes corporativos do Bradesco, o destaque tem ficado por conta das linhas de repasse do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Temos observado uma procura muito grande pelo PSI [Programa de Sustentação do Investimento, anunciado em março pelo governo]. Nunca se vendeu tantas máquinas e caminhões", diz Pelegrino. O executivo, no entanto, minimiza a "concorrência" entre recursos direcionados e livres. "O governo precisa garantir que não haja déficit de matérias-primas ou de outro produtos."

Mas a atuação agressiva do BNDES na concessão de linhas de financiamento é justamente um dos motivos citados para a demanda mais acanhada das empresas por crédito privado. As operações do banco de fomento responderam por 67% do estoque de crédito direcionado no mês de maio. "Grandes empresas estão substituindo o crédito livre pelas linhas do BNDES, que são mais baratas", afirma Luiza Rodrigues, economista do Santander. Ela lembra que o aporte do Tesouro Nacional no banco é suficiente para ampliar sua carteira em cerca de 50%.

O novo ciclo de aperto monetário reforça a tendência de uma expansão mais amena do crédito. Na realidade, o custo do dinheiro vem subindo desde o fim de 2009. Um banqueiro lembra que, embora o aumento da Selic tenha começado em abril, os prêmios dos contratos futuros com vencimentos mais longos, negociados na BM&FBovespa, já antecipavam a elevação da taxa básica de juro.

Embora a demanda esteja aquém da esperada, os dados do Banco Central (BC) mostram que o crédito para pessoas jurídicas está crescendo. No mês passado, o volume médio de novas concessões subiu 4,4% em relação a abril (dado livre de sazonalidade e corrigido pelo IPCA). No ano, o avanço acumulado é de 7,8% em comparação com o mesmo período de 2009. Essa taxa, no entanto, é considerada modesta e insuficiente para recuperar os níveis pré-crise.

As linhas destinadas a financiar a produção - seja para ampliação da capacidade produtiva, seja para melhora de produtividade - tendem a ter mais apelo entre os empresários do que os empréstimos de curto prazo, na opinião de Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), entidade que reúne instituições financeiras de pequeno e médio portes. "Quando as taxas para descontos de duplicatas e capital de giro começam a ficar mais caras, a tendência é que a empresa que costuma financiar R$ 100, por exemplo, passe a tomar R$ 70."

No banco Fibra já é notada uma demanda por volumes menores de capital de giro. Maercio Soncini, vice-presidente do banco acredita que a crise financeira fez com que as empresas adequassem de maneira mais racional suas cadeias de produção, nível de estoque e fluxo de caixa, num paralelo com o ocorrido após o apagão elétrico do início da década, que levou a um consumo mais consciente.

Há quem também espere uma desaceleração no ritmo dos financiamentos de longo prazo. Milto Bardini, vice-presidente e diretor de relações com investidores do BicBanco, lembra que boa parte da demanda corporativa represada durante o auge da crise financeira vem sendo suprida desde setembro do ano passado. "Necessidades daquela magnitude não vão se repetir todos os meses", explica. "É quase que um efeito matemático."

Pesquisas indicam ritmo forte e alta de preços

29 de junho de 2010

Valor Economico (SP)

Construção: Sondagem da CNI mostra aumento do ritmo de produção do setor, e FGV aponta mais inflação

Luciana Otoni, de Brasília

O nível de atividade na construção civil aumentou em maio e tende a seguir aquecido. Pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 376 construtoras identificou que, em uma escala de zero a cem, o ritmo de produção passou de 53,9 pontos em abril para 55,8 pontos no último mês. Esse bom desempenho reforça o otimismo dos empresários do setor, que projetam para os próximos seis meses nível de atividade de 67,8 pontos. A medição considera que acima de 50 pontos o resultado é positivo.

Junto com o aquecimento do setor, outra pesquisa mostrou que os preços estão em alta. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice Nacional de Custo da Construção-M (INCC-M) registrou, em junho, variação de 1,77%, acima do resultado de maio, de 0,93%

Na última sondagem, a CNI consultou empresas distribuídas em 24 Estados e no Distrito Federal. Um dos dados relevantes foi a melhora do desempenho das pequenas empresas. Nesse segmento, o nível de atividade manteve certa estabilidade no início do ano, chegando em abril em 49,9 pontos. Depois disso, a produção avançou para 54,3 pontos em maio.

O gerente-executivo da Unidade Política Econômica da CNI, Renato da Fonseca, comenta que essa é a primeira sondagem que mostra a aproximação das pequenas empresas (até 99 empregados) do ritmo de produção das grandes construtoras (mais de 500 empregados). "O que vemos é uma disseminação do crescimento e que as grandes empresas passaram a demandar mais serviços terceirizados." Essa contratação passou a abranger, com maior regularidade, não somente as pequenas empresas responsáveis por acabamento e instalações, mas tambem os escritórios de arquitetura, de cálculo estrutural e design externo, entre outros tipos de serviços.

A expectativa favorável para os próximos seis meses abrange a compra de insumos e de matérias-primas. A pontuação para esse quesito passou de 65,1 pontos em abril para 67,1 pontos em maio. As projeções embutem otimismo porque, segundo Fonseca, os fatores que contribuem para o aquecimento do mercado imobiliário - estabilidade, oferta de crédito, emprego e renda em elevação - continuam a influenciar a conjuntura econômica de forma positiva.

Nesse contexto, o ciclo de restrição da política monetária somente ameaçará esse desempenho se o ajuste for longo e se os juros permanecerem em bases alta por muito tempo, avalia Fonseca.

Pelos dados da pesquisa de preços da FGV, o INCC acumula alta de 5,29% no ano, e de 6,31% nos últimos 12 meses. Cinco capitais apresentaram aceleração em junho, quando o índice nacional ficou em 1,77%: Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Em sentido oposto, Recife e Porto Alegre tiveram desaceleração.

O índice relativo a materiais, equipamentos e serviços registrou variação de 1,02%, ante 0,48% no mês anterior. No índice referente à mão de obra, houve alta de 2,59%, ante elevação de 1,41% no mês de maio. No grupo materiais, equipamentos e serviços, o índice correspondente a materiais e equipamentos subiu de 0,51% em maio para alta de 1,04%. A parcela relativa a serviços passou de uma taxa de 0,36%, em maio, para 0,92%, em junho. (Com Folhapress)

Economia forte pode deixar déficit nominal perto de 2% do PIB

29 de junho de 2010

Valor Economico (SP)

Contas públicas: Resultado do Brasil, que foi de 3,3% no ano passado, será um dos menores do mundo

Sergio Lamucci, de São Paulo

Os gastos públicos crescem com força e a evolução da dívida bruta preocupa alguns analistas, mas há indicadores que mostram uma situação fiscal confortável. Em 2010, o déficit nominal brasileiro será um dos menores do mundo, ficando abaixo não apenas dos países desenvolvidos, como EUA, Reino Unido e Japão, como de outros emergentes de destaque, como China e Índia. O resultado nominal é importante por englobar todos os gastos do setor público, inclusive as despesas com juros.

As projeções apontam para um déficit fiscal entre 1,7% e 2,6% do PIB, inferior aos 3,3% do PIB de 2009. Para comparar, as estimativas para outros países que aparecem na revista "The Economist" indicam um rombo de 12% do PIB no Reino Unido de 8,8% nos EUA, e de 3,1% na China.

O economista Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e da PUC-SP, diz que o déficit nominal é a variável mais importante para definir a evolução da dívida pública. Ele não vê problemas de solvência do setor público, embora faça críticas à qualidade da política fiscal, por conta do ritmo de expansão dos gastos correntes (como pessoal e aposentadorias). O superávit primário deve subir neste ano devido à alta expressiva das receitas, e não pelo controle das despesas correntes, observa. A maior economia para pagar os juros da dívida ajuda a a derrubar o déficit nominal, mas a combinação que leva ao resultado não lhe agrada.

Os analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central estimam um superávit primário de 2,5% do PIB em 2010, acima dos 2,05% do PIB do ano passado. O economista Samuel Pessôa, da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da FGV do Rio de Janeiro, considera possível que o superávit neste ano atinja os 3,3% do PIB da meta oficial deste ano, dado o crescimento da arrecadação.

O especialista em contas públicas Amir Khair diz que o déficit nominal está num patamar confortável mesmo com a elevada carga de juros paga pelo Brasil, que em 2010 deve atingir 5% do PIB ou um pouco mais. Para ele, o déficit nominal neste ano ficará entre 1,7% e 2,3% do PIB, nível próximo ao 1,9% de 2008. O mercado, por sua vez, projeta um déficit de 2,6% do PIB em 2010. No ano passado, com o impacto da crise global, o rombo aumentou para 3,3% do PIB porque o superávit primário caiu e o PIB encolheu 0,2%. Ainda assim, foi uma deterioração modesta, que deve ser revertida neste ano. É uma situação bem diferente da dos países desenvolvidos, que viram seus déficits explodirem por conta das políticas de estímulo fiscal destinadas a combater a recessão.

Em 2010, o maior crescimento brasileiro também vai ajudar a reduzir o déficit nominal como proporção do PIB. Com uma expansão maior da atividade econômica, o PIB fica mais gordo. "Eu não vejo um problema fiscal no país desde que haja crescimento", diz Khair, que acredita em taxas de expansão na casa de 5% ao ano ou um pouco mais nos próximos anos.

Pessôa vê a situação das contas públicas em ordem em termos contábeis. "Alguns economistas de mercado pintam um cenário desastroso para a situação fiscal do ponto de vista de sustentabilidade das contas públicas, enquanto o governo pinta um cenário meio róseo. Nesse aspecto, a verdade está mais para o governo do que para esses analistas de mercado" afirma ele, para quem há, sim, "problemas fiscais no país, mas não no lado contábil, e sim de eficiência, equidade e crescimento". Para Pessôa, não parece haver problemas para o país gerar superávits primários razoáveis, especialmente com o processo em curso de crescente formalização na economia. É possível que a receita cresça a um ritmo superior ao do PIB por vários anos. De janeiro a abril, a receita líquida do governo federal cresceu 19,3% em relação ao mesmo período de 2009.

O que Pessôa questiona é a qualidade da política fiscal, como as fortes elevações de salários concedidas aos funcionários públicos nos últimos anos. "Será que isso vai levar a um aumento da eficiência do setor público nos próximos anos?" Os empréstimos do Tesouro ao BNDES, que elevam a dívida bruta, lhe desagradam não por seu impacto sobre a solvência do governo, mas por "questões distributivas e de eficiência microeconômica". Para ele, dadas as prioridades do país, não é a melhor maneira de alocar recursos públicos.

Duas pesquisas indicam ritmo menor da economia em abril

29 de junho de 2010

Valor Economico (SP)

Angela Bittencourt, de São Paulo

Dois indicadores antecedentes do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro confirmaram a tendência de desaceleração do ritmo de crescimento em abril, conforme indicado pelas pesquisas de produção industrial e vendas do varejo feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tanto o índice mensal calculado pelo Itaú Unibanco (PIBIU) como o indicador da Serasa Experian apontaram alta de 0,1% para a economia brasileira na comparação com março. Na conta do Itaú Unibanco, essa foi a menor expansão na ponta nos últimos 12 meses.

Em relatório, o economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, comenta que a desaceleração da atividade econômica foi disseminada, reforçada pelo impacto negativo de alguns fatores transitórios na indústria e no comércio varejista. Entretanto, alerta o economista, as evidências são de que a fraqueza da atividade econômica em abril foi realmente temporária. Os primeiros indicadores de maio são positivos e apontam que diversos setores voltaram a crescer. Porém, isso deve ser insuficiente para evitar um crescimento do PIB no segundo trimestre bastante inferior ao observado no primeiro trimestre.

"Nossas estimativas preliminares indicam expansão entre 0,5% e 1% na comparação com o primeiro trimestre, livre de efeitos sazonais. Nos trimestres seguintes, esperamos uma aceleração do crescimento em relação ao segundo trimestre, mas num ritmo de expansão inferior àquele visto entre o segundo trimestre de 2009 e o primeiro de 2010", afirma Bicalho. O PIB mensal Itaú Unibanco cresceu 0,1% em abril na comparação com março, livre de efeitos sazonais, e aumentou 9,2% em relação a igual mês de 2009. Em março, as taxas de expansão foram de 0,7% e 11,1%, respectivamente.

A ligeira elevação em abril - a menor nos últimos doze meses - teve duas características marcantes: os efeitos negativos do fim do desconto do IPI para automóveis e o impacto contrário da antecipação das vendas nos supermercados em março por causa da Páscoa no início de abril.

O Itaú Unibanco mantém a avaliação que o crescimento no segundo semestre será mais elevado do que o esperado para o segundo trimestre, embora as projeções para o terceiro e o quarto trimestres sejam mais incertas, especialmente por causa do conturbado cenário internacional: os últimos indicadores mostram manutenção das restrições financeiras e sinais incipientes de impacto desses elementos na atividade econômica na zona do euro e em outros países. "Mas os fundamentos domésticos positivos, como confiança, emprego, renda e crédito, devem continuar sustentando a expansão da economia", conclui a instituição.

Segundo a área econômica da Serasa, que usa dados das pesquisas do IBGE, o crescimento econômico verificado em abril foi de 0,1% sobre março, com decréscimos no nível de atividade industrial e de serviços, pouco compensados pela expansão verificada no setor agropecuário. A equipe de economistas da Serasa nota que após a expansão de 2,7% no trimestre encerrado em março, os três meses encerrados em abril apresentaram taxa de 2,4%. (Com FolhaPress)

Para CNI, elevar taxa básica de juros é contrassenso

29 de junho de 2010

Estadao.com.br

FRANCISCO CARLOS DE ASSIS Agencia Estado

SÃO PAULO - O Banco Central, ao aumentar a taxa básica de juros, caminha no contrassenso da economia e da visão que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem sobre o comportamento da inflação. A avaliação é do presidente da entidade, Robson Braga de Andrade. Para ele, não há necessidade de a autoridade monetária elevar a taxa de juros porque o centro da meta de inflação para este ano, de 4,5%, deverá ser cumprido sem grandes dificuldades, o que não justificaria o aumento da taxa Selic.


"A perspectiva que a gente tem é diferente daquela do Banco Central", disse o executivo, acrescentando que a CNI não enxerga riscos de elevação da inflação. Segundo ele, o que se registrou de aumento de preços no começo do ano estava relacionado a questões sazonais, como itens da produção agrícola. Agora, no entanto, na avaliação de Andrade, "o que se vê é que a partir do segundo trimestre os preços voltaram ao nível adequado e a meta de inflação será cumprida sem nenhuma dificuldade".

Quando se diz que a indústria está perto da utilização total da capacidade produtiva instalada, de 82% a 85%, os analistas, segundo o presidente da CNI, se esquecem de considerar os ganhos de produtividade. "Estamos falando aqui hoje da inovação, que na outra ponta leva ao aumento da produtividade. Temos também outros mecanismos, que é a automação das empresas e vários outros mecanismos que, complementados com investimentos, podem elevar muito a capacidade produtiva do País, fazendo com que os preços se mantenham em níveis adequados", afirmou Andrade, fazendo menção à reunião de hoje em São Paulo com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, o secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luiz Elias, e o diretor técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Carlos Alberto Santos, em que anunciaram incentivos à inovação industrial.

Andrade acrescentou que, como na visão da CNI não há risco de aumento da inflação, o País deveria estar com uma taxa de juros mais competitiva, o que para ele seria uma taxa de juro real de 3,5% e uma taxa nominal de 8%. "E nós estamos com 10,25%, mostrando que o BC está indo no contrassenso", analisou.

O presidente da CNI afirmou ainda que investimentos estão sendo feitos em outras áreas que sofrem com gargalos, como os setores de formação e qualificação de profissionais, para tirar também esta pressão sobre os preços. "O sistema S está investindo pesado na formação de trabalhadores para que não falte mão de obra, por exemplo, na construção civil", disse.

FMI: flexibilização do yuan é boa, mas não é suficiente

29 de junho de 2010

Estadao.com.br

ÁLVARO CAMPOS Agencia Estado

WASHINGTON - O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, elogiou a China por seus planos de revalorizar sua moeda, mas apontou que o governo de Pequim deve fazer mais e que não espera uma apreciação rápida do yuan. "É claro que a valorização do yuan vai na direção certa e nós ainda estamos querendo que isso aconteça, mas vai levar tempo para o yuan atingir seu valor normal de mercado", avaliou a autoridade.


"Nós ainda acreditamos que o yuan está subvalorizado", comentou Strauss-Kahn, acrescentando que a apreciação da moeda é do interesse de Pequim, mas alertando que essa não é a solução de todos os desequilíbrios comerciais com os Estados Unidos.

Os comentários de Strauss-Kahn podem não ser bem recebidos na China, que tem se aborrecido com as observações de autoridades estrangeiras sobre sua moeda. A China deu um pequeno passo na direção de afrouxar a fixação do yuan em relação do dólar no dia 19 de junho, a tempo de evitar ser repreendida na reunião do G-20 neste último fim de semana. Embora a moeda só tenha subido cerca de 0,5% desde o anúncio, foi o suficiente para que os chineses evitassem críticas por manter o yuan artificialmente baixo com o objetivo de estimular o crescimento econômico doméstico por meio das exportações.

Hoje o yuan caiu levemente em relação ao dólar, com as esperanças de uma valorização mais forte sendo ofuscadas pela falta de comentários oficiais sobre a política da câmbio da China durante a reunião do G-20. No mercado de balcão, o dólar subiu para 6,805 yuans, de 6,7900 yuans na sexta-feira.

Strauss-Kahn também disse que vai ser difícil incluir o yuan na cesta de moedas que forma o Direito Especial de Saque (SDR, na sigla em inglês) do FMI até que seja permitido que a moeda chinesa flutue. Os SDRs são um ativo de reserva internacional usado como unidade de pagamento nos empréstimos do FMI. A cesta - atualmente composta por dólar, euro, iene e libra - é revista a cada cinco anos, com a próxima revisão marcada para o fim de 2010. "Eu acho que vai ser difícil incluir o yuan antes dele chegar realmente ao valores de mercado", comentou a autoridade.

No ano passado, o presidente do Banco do Povo da China (o banco central do país) argumentou que os SDRs poderiam substituir o dólar como a moeda dos ativos de reservas internacionais e defendeu a inclusão do yuan na cesta.

Strauss-Kahn disse ainda que a reunião do G-20 deveria ser vista como um sucesso, mesmo com os países adotando diferentes estratégias para tentar melhorar suas economias. Os líderes do G-20 apresentaram a intenção comum de conter os déficits nos orçamentos e os crescentes níveis das dívidas, mas decidiram adotar diferentes caminhos para promover o crescimento e tornar seus sistemas financeiros mais seguros. As estratégias divergentes são um sinal de quão desigual e frágil a recuperação econômica permanece, com a Ásia e a maioria dos países da América Latina crescendo rapidamente, a Europa ficando para trás e os EUA em algum lugar entre essas duas situações.

O diretor do FMI disse que a economia da Índia estava "indo muito bem", com o crescimento devendo alcançar níveis próximos aos da China, mas alertou que os crescentes preços dos alimentos no país são uma preocupação. Após cancelar uma visita para o país para ajudar a lidar com a crise da dívida da Europa, Strauss-Kahn disse que pretende visitar a Índia no terceiro trimestre.

Strauss-Kahn também aprovou a reforma no mercado de trabalho da Espanha, que pretende encorajar a contratação ao reduzir o alto custo da demissão, destacando que isso vai ajudar a erguer a economia sem prejudicar as finanças públicas do país. As informações são da Dow Jones.

Mantega diz ser imprudente crescer acima de 5,5%

29 de junho de 2010

Estadao.com.br

EQUIPE AE Agencia Estado

TORONTO - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu patamar mais "prudente" de expansão da economia no ano que vem. Depois de um 2010 de forte recuperação, em que economistas estimam crescimento ao redor de 7%, ele recomenda pisar no freio para que o País não cresça mais que 5,5%. Um dos primeiros países a se recuperarem do declínio provocado pela crise global, o Brasil vive às voltas com sinais de superaquecimento e temores de aceleração da inflação. O Banco Central (BC) já elevou a taxa básica de juros brasileira duas vezes este ano, para 10,25% ao ano, e o mercado prevê novas altas até dezembro, que poderiam colocar a taxa Selic em 12%, segundo o relatório Focus (pesquisa semanal feita pelo Banco Central).


"Depois de um ano forte, o seguinte tem de dar uma ajustada, mas acho que 5,5% é uma taxa possível (de se alcançar sem provocar inflação). Em 2012, já dá para voltar para 6%, 6,5%", disse o ministro à agência de notícias Reuters na noite de domingo, apostando na melhora da capacidade produtiva da indústria doméstica. "Eu prefiro crescer um pouco menos e manter o equilíbrio macroeconômico... Não é muito prudente crescer mais que isso."

Mantega concedeu a entrevista em Toronto com aparatos de chefe de Estado. Substituto oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Cúpula do G-20, discursou no fim de semana ao lado de líderes como o presidente americano, Barack Obama, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. No Canadá, vocalizou a bandeira dos países emergentes e dos Estados Unidos de que, para o bem da economia global, é imperativo que o mundo cresça. A tese encontra resistência na Europa, em ensaio geral para um aperto de suas contas públicas, o que deve representar retirada dos estímulos à atividade econômica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Agência de classificação de risco deverá elevar a nota do Brasil

29 de junho de 2010

Folha de S.Paulo (SP)

Fitch alterou a perspectiva do rating de "estável" para "positiva"

DE SÃO PAULO

A agência de classificação de risco Fitch indicou ontem uma possibilidade maior de elevação da nota do Brasil.
A instituição manteve a classificação da dívida de longo prazo em moeda estrangeira e local em BBB-, mas alterou a perspectiva da nota de estável para positiva.
Isso significa que a probabilidade de o rating do Brasil ser elevado nos próximos dois anos é superior a 50%.
Desde 2008, o Brasil é considerado grau de investimento pela Fitch e pela Standard & Poor's. Em 2009, a Moody's concedeu a nota. O rating mede a capacidade do país de honrar suas dívidas.
Segundo a Fitch, a revisão da perspectiva reflete o desempenho melhor do que o esperado do Brasil.
A agência elogia a "política econômica relativamente prudente" do país e diz não esperar mudança significativa na condução da economia no próximo governo.
"O Brasil tem resistido bem à crise global e apresenta uma das mais rápidas recuperações", disse em relatório Shelly Shetty, chefe de ratings soberanos da Fitch para América Latina. A Fitch projeta que o Brasil crescerá 7% neste ano e 4,5% em 2011.

ALERTA
O relatório, porém, alerta para a necessidade de o governo fazer um aperto fiscal, tendo em vista que a "excessiva demanda doméstica está pressionando a inflação".
Ainda faltam nove níveis até que o Brasil atinja a nota máxima da Fitch, que é AAA.
O diretor-executivo da Fitch Ratings no Brasil, Rafael Guedes, explica que o elevado endividamento público do país (60% do PIB, ante média de 35% de países com rating semelhante) e a baixa taxa de investimento (19% do PIB, ante média de 30% dos demais) atrapalham a elevação da nota.
Roberto Padovani, estrategista de investimentos do banco WestLB, considera que elevações de nota tendem a aumentar a atração de investimentos para o Brasil, mas devem ter impactos cada vez menores.
Na avaliação do economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, uma nova elevação pode até ter consequências negativas.
Segundo ele, a maior entrada de recursos estrangeiros pode valorizar mais o real e prejudicar as exportações.

Brasil precisa se esforçar mais para acompanhar outros Brics

29 de junho de 2010

Folha de S.Paulo (SP)

MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

O Brasil é o país do futuro e sempre será -assim diz a velha piada. Será que enfim os brasileiros rirão por último?
Será que o Brasil se tornou o país do presente? A resposta é afirmativa, mas só até certo ponto. O país continua longe de se equiparar ao desempenho de Índia e China. Deveria se sair muito melhor. As grandes realizações do Brasil nos últimos 15 anos se referem à estabilidade -política e econômica. Sob as presidências de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula, o país conquistou a estabilidade democrática.
A era do governo militar, encerrada em 1985, parece distante. Sob o Plano Real, a inflação foi por fim controlada. Depois de reduzir a inflação por meio de uma taxa de câmbio quase fixa, o Banco Central reduziu a taxa de juros de referência de 45% a apenas 8,75% em 2009.
A estabilidade se escorou no acúmulo de reservas cambiais, que chegaram a US$ 235 bilhões em fevereiro de 2010, ante US$ 33 bilhões em janeiro de 1999. Mas estabilidade não quer dizer dinamismo. O crescimento médio foi de apenas 2,9% ao ano entre 1995 e 2009.

BRIC OU IC
As projeções do FMI para o crescimento no período 2010-2013 apontam uma média anual de 4,5%, bem abaixo daquela de China e Índia.
O fracasso do Brasil na redução da desigualdade de renda é igualmente importante. Na China, em 1980, a renda per capita (com base em paridade de poder de compra) equivalia a apenas 7% da brasileira, enquanto a indiana equivalia a 11%.
Entre 1995 e 2009, a elevação na renda brasileira foi de apenas 22%, ante 100% na Índia e 226% na China.
Como resultado, a parcela brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995 para 2,9% em 2009. A China saltou de 5,7% para 12,5%, e a Índia, de 3,2% para 5,1%.
O que vemos, assim, é a ascensão dos países IC, não dos Brics. Será que o Brasil conseguirá se sair melhor? Para isso, tem de superar imensas desvantagens estruturais.
A mais importante é o nível extremamente baixo de poupança. Em 2008, de acordo com o Banco Mundial, a poupança bruta do país equivalia a apenas 17% do PIB, ante os 38% da China e os incríveis 54% da Índia.
Além disso, 45% das exportações de mercadorias brasileiras em 2008 envolviam produtos industrializados, ante 63% na Índia e 93% na China: será difícil conquistar industrialização via comércio interno.
O desafio, assim, parece claro e difícil: passar da estabilidade para o crescimento.
O Brasil não tem condições de assumir papel mundial tão grande quanto o dos dois gigantes asiáticos, mas poderia conseguir algo mais importante que poder e influência no mundo: uma sociedade próspera no país. Muita coisa ainda precisa mudar para que esse sonho possa se tornar realidade.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Países emergentes devem elevar juros, afirmam BCs

29 de junho de 2010

Folha de S.Paulo (SP)

Para o organismo, cresce o risco de superaquecimento nesses mercados

Muitas políticas de controle de capital externo oferecem só "alívio temporário", de acordo com a entidade

DE SÃO PAULO

As perspectivas de crescimento são mais positivas para os emergentes, mas esses países devem elevar os juros para impedir o superaquecimento, diz o BIS (Banco de Compensações Internacionais, que reúne BCs globais).
Para a entidade, a política monetária dos emergentes, especialmente os asiáticos, vem sendo "acomodatícia", o que aumenta o risco de disparada da inflação e da criação de bolhas de ativos.
"Manter a taxa de juros muito baixa por um período muito longo aumenta o risco de superaquecimento doméstico, inflação, expansão excessiva do crédito e aumento exagerado do preço de ativos", afirmou o BIS.
"Pode não haver alternativa que não o aumento da taxa de juros, uma maior flexibilidade da taxa cambial e a redução da dependência da intervenção no câmbio."
O trecho sobre a intervenção no câmbio parece ter sido um recado à China, já que o país manteve a sua moeda atrelada ao dólar desde meados de 2008, para incentivar a exportação, e, só há pouco mais de uma semana, prometeu mudar essa política.

POLÍTICA MONETÁRIA
Boa parte dos países emergentes tem mantido os juros baixos para incentivar o crescimento econômico, mesmo com a ameaça da inflação.
São ainda raras as economias que retomaram a alta dos juros, caso do Brasil.
Elevar os juros agora pode tornar essas economias mais atrativas para os investidores estrangeiros, que podem pegar dinheiro nos países ricos (com juros muito baixos) e investir nos emergentes, com taxas mais altas e boas perspectivas de crescimento.
Essa forte entrada de capital externo, afirma o BIS, representa uma série de "desafios imediatos" para os emergentes. Para o organismo, uma das saídas é o aumento da flexibilidade cambial.
"Ela [a flexibilidade] pode deter o aumento da exposição do setor privado a imprudências cambiais. Também pode ser especialmente útil em desencorajar a entrada de capital de longo prazo associado com "carry trade" [especulação com dinheiro captado em países de juro baixo]."
Na opinião dele, muitas políticas de controle de capital oferecem apenas "alívio temporário", ao mesmo tempo em que "reduzem a competição no sistema financeiro, distorcem a alocação eficaz de capital e inibem o crescimento econômico".
Em outubro do ano passado, o Brasil adotou medida de controle de capital com a cobrança de 2% de IOF sobre capital estrangeiro.