27.10.10

O mercado que se cuide

Por Décio Batista Pizzato (*)
27/10/10
Fonte: cofecon.org.br


Matéria constante no Site IG da sexta-feira, dia 22 de outubro, informa que acionistas controladores da empresa Vale S.A. discutem a sucessão do presidente, Roger Agnelli. Para público externo está sendo ventilado que Agnelli, após dez anos no comando da empresa cumpriu um ciclo importante na Vale devendo ser sucedido para não enfrentar um desgaste natural do cargo.

Para entender o que está acontecendo. O presidente da Vale S.A., Roger Agnelli no último dia 14, durante o lançamento da pedra fundamental de uma mina em Zâmbia, na África, declarou que a empresa mineradora é alvo de jogo político do atual governo brasileiro e que setores do PT querem a sua saída para ocupar o cargo.

É de conhecimento do mercado que o governo atual quer o controle de mega empresas que irão fazer o papel de indutor de investimentos para onde for o seu interesse político. Algo semelhante com que Chávez está fazendo com a estatal petrolífera PDVSA. Atualmente os interesses políticos de investimentos estão sendo feitos via Petrobrás e BNDES. O Brasil financia um novo porto em Cuba enquanto os do país pela suas atuais condições só fazem criar acréscimos no chamado Custo Brasil.

A Petrobrás recebeu recursos do mercado pelo mega aporte financeiro via Oferta Inicial de Ações (Initial Public Offering –IPO, em inglês). Já o BNDES recebeu aportes pela emissão de títulos da Dívida Pública, em 2009 e 2010. A futura empresa do Pré-Sal ainda levará alguns anos até se consolidar e ter um tamanho semelhante ao da Petrobrás. Portanto, agora a Vale é o alvo. Não só pelos cargos que dispõe, principalmente pelo seu poderio financeiro, além da penetração em outros países.

As mudanças que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sonha promover na Vale chocam-se de frente com compromissos assumidos pelo BNDES e por fundos de pensão que controlam a mineradora, por meio de Acordo de Acionistas assinado no processo de privatização. Com esse acordo, qualquer mudança nos rumos da companhia precisa contar com o apoio dos sócios privados Bradesco e Mitsui. Lula tem demonstrado interesse em mexer na diretoria da Vale, por meio dos fundos de pensão. Existe a pressão pela substituição de seu presidente, Roger Agnelli.

A Vale S.A. é controlada pela Valepar que tem 52,7% das ações ordinárias da empresa, as que têm direito a voto. O BNDES Participações tem mais 6,71%.

Os atuais controladores da Valepar são Litel, com 49% das ações ordinárias, Bradespar, com 21,21%, BNDES, com 11,51%, e Mitsui, com 18,54%. São donos da Litel os fundos de pensão Previ, Funcef, Petros e Fundação Cesp. Acordo de acionistas prevê que, para mudar a diretoria, é preciso o voto de 67% do total das ações ordinárias da Valepar. Fundos de pensão e BNDES, os canais de influência do governo, somam só 60,5%. Assim, para remover um diretor, seria necessário o apoio do Bradesco, que conduziu Agnelli ao cargo, com apoio dos fundos de pensão, em 2001, ou do grupo japonês Mitsui.

O ex-presidente do Bradesco e agora também ex-conselheiro, Marcio Cypriano, não concordava com a inclinação do Banco em permitir ser atraído para esfera do governo. Tanto que rompeu com Conselho de Administração do Bradesco. Não apareceu em reunião de conselheiros, onde antes expôs mais uma vez as suas preocupações e sua oposição quanto aos rumos em andamento pelo banco, segundo sussurros do mercado. Pediu demissão do cargo de conselheiro em carta enviada e fim de papo. Tudo indica que a gota d'água foi a parceria com o Banco do Brasil para atuação na África, em troca do apoio as intenções do governo na Vale.

Com isto a notícia que está no site do IG faz sentido. Estão entregando a Vale de mão beijada para os interesses políticos do governo. O IPO da Petrobrás vai mostrar logo a que veio e as ações da Vale vão começar a queimar nas mãos.

Não seria loucura pensar que o governo também esteja de olho nos bilhões de reais que circulam diariamente na Bmfbovespa. O mercado que se cuide.
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(*) Economista.

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